O Cidadão é a base do sistema político

Faz realmente diferença em nossas vidas que tipo de governo temos? Nós temos realmente escolhas ou é a forma do nosso governo algo sobre o qual não temos poder algum? Por que deveríamos aprender e envolver com política?
Benjamin Constant no livro Escritos de política disse ser a democracia a autoridade depositada nas mãos de todos. Os cidadãos possuem direitos individuais que estão acima da autoridade que governa, como a liberdade individual, liberdade de opinião e liberdade religiosa.

Precisamos nos envolver não apenas por causa dos discursos dos ideais sublimes da democracia, mas porque é nossa responsabilidade como cidadãos.
Você deve prestar mais atenção na verdade, envolver-se e votar; porque goste ou não os políticos são eleitos, irão recolher impostos e definir todas as regras que afetarão a sua vida.
Pois bem, é direito seu envolver-se ou pular fora do processo, abster-se. As pessoas se queixam do governo municipal, estadual ou federal, dos impostos, educação , saúde e segurança. Se você se importa …fale por meio das urnas. Se você é apaixonado por uma causa específica, junte-se a um grupo de trabalho sobre a causa, sugira, levanta a voz, apresenta proposta, faça-se ouvir.
O governo deve ser mínimo e o cidadão deve agigantar-se gozando de sua liberdade, de seus direitos civis, que reflitam os valores de sua luta. No entanto, a participação na política convencional é geralmente a única maneira de efetuar mudanças, inclusive na forma de fazer política.

A política é para questionar, participar, colocar as questões sem negligenciar as preocupações, partindo de sua perspectiva idealista e aceitar os desafios. Um bom começo na prática de fazer política é ganhar a confiança da comunidade.
Estar sempre interessado na política local. A familiaridade com a comunidade faz você lidar com os céticos, com a pobreza que habita a casa ao lado da sua, tomando o serviço da comunidade à sério o suficiente para ganhar o respeito dos moradores. Faça isso porque se você não se sente representado por seu governo, a única solução é montar sua própria base e fazer política na sua comunidade, com valores definidos baseados na honestidade e solidariedade e no desejo de interferir nas decisões governamentais. Conceda poder político a si mesmo para produzir os efeitos pretendidos sobre as outras pessoas.

Adote a política como instrumento para promover investigação da natureza, causas e efeitos do governo que refletem diretamente na sua vida. Realmente faz diferença se somos bem ou mau governados. Ao traçarmos os efeitos de diferentes formas de governo, direita ou esquerda, podemos aprender quais são as qualidades necessárias para fazer a melhor forma de governo. Em outras palavras, nada existe como o conhecimento político.

Mesmo se as diferentes formas de governo foram, e ainda são as causas da prosperidade, da vida, pobreza e morte, como então, somos capazes de influenciar os regimes que nos governam ou somos governados por causas mais profundas sobre as quais temos nenhum controle?

A visão fatalista de que não temos escolhas reais a fazer na política surgiu em formas diferentes em momentos diferentes da história. No século 19 – a crença predominante era a ideia de progresso histórico: a história mudou em uma linha reta da barbárie primitiva para os estágios da civilização. Mas mais uma vez isto implicava admitir que o caminho pelo qual as sociedades eram governadas dependiam de causas sociais nem sempre passíveis de controle humano . E isso significava que as pessoas não tinham grandes escolhas para fazer sobre as formas de governo.
No entanto hoje vemos uma reação contra a globalização na forma de movimentos políticos preocupados com o meio ambiente, ou o impacto dos mercados globais em nações em desenvolvimento ou a qualidade de nivelamento por baixo da cultura global.
Mais uma vez, estas são questões sobre as quais escolhas coletivas têm de ser feitas e elas são essencialmente questões de interesses políticos.

O investimento em capital cultural

A herança cultural é tudo o que o homem adquire ao longo do seu processo de formação; conhecimento, crença, arte, moral, lei e costumes, entretanto a cultura está sempre sujeita aos estágios da evolução. Temos que olhar atentos as modificações, o renascimento, os detalhes da vida diária para construirmos a nossa história.
Respeitar a herança cultural acumulada através do convívio familiar e em sociedade é crer que a transformação dos estados de evolução do homem teve a cultura como fator determinante das transformações.
Sendo a herança cultural algo arraigado em nosso íntimo isso exige que sejamos cuidadosos com nossos filhos. Transmitir valores éticos saudáveis, comportamento social adequado, estimular o gosto pela música e arte, ser flexível diante das diferenças. Devemos conduzir pelo caminho do bem a herança cultural que deixamos, acumular exemplos que marcam, pequenos gestos que se repetidos serão determinantes no resultado escolar da criança e nas escolhas dos relacionamentos.
Herança cultural dá-se através do armazenamento e transmissão de informações por meio de comunicação, imitação, ensino e aprendizagem. Patrimônio Cultural é arte contida em um caldeirão borbulhante de ensinamentos misturado com ética, filosofia, política e princípios que ensinados ás crianças ajudam-as na composição de suas vidas adultas. O ambiente familiar deve ser o palco das primeiras discussões sobre solidariedade, discriminação e desigualdades e das discussões apaixonadas sobre futebol. Sob o olhar da família e segundo os valores familiares a criança vai desbravando horizontes novos, desenvolvendo a auto-estima e aprendendo a se relacionar com o outro.
É certo que as pessoas são moldadas segundo sua cultura e vários autores exploram a preocupação de desembaraçar valores básicos, e olhar criticamente os conflitos e contradições existentes na composição do capital cultural considerando que nenhuma sociedade tem padrão de cultura e comportamento igual, mesmo sendo vizinhas.

. Não devemos fragmentar a educação tradicionalmente recebida na infância tampouco violentar os valores que permearam, como pendores naturais nosso crescimento. A relação com o passado serve para entender o que se é hoje. E a influencia do capital cultural investido, certamente é preponderante para a transformação da vida adulta, para fixar os valores éticos e flexibilizar as relações com a família.
O indivíduo em Pierre Bourdieu, sociólogo francês, é um ser socialmente configurado em todas as suas nuances e particularidades e tudo mais que o compõe; o gosto, as preferências, as aptidões, as posturas corporais, as aspirações quanto ao futuro; tudo pode ser socialmente constituído.
Para compreender adequadamente a natureza das relações que unem o sistema escolar à estrutura das relações aqui postuladas, fica explícito que a sociedade se organiza não apenas a partir de bens financeiros, mas também a partir da produção de bens simbólicos, dos valores transmitidos fundamentalmente pela família que permitem que os indivíduos organizem um modo de vida e tenham uma determinada concepção do mundo.
É o conhecimento que, ao longo do tempo dirige e controla as forças da sociedade.
As referências culturais, a erudição e o domínio maior ou menor da língua culta trazidos de casa por certas crianças, facilitam o aprendizado escolar à medida que funcionam como ponte entre o mundo familiar e a cultura escolar. A educação escolar para as crianças pertencentes aos meios culturalmente favorecidos, seria a continuação da educação familiar, enquanto para as outras crianças significaria algo estranho, distante da realidade e ameaçador.
Os dons pessoais sozinhos não explicam o sucesso alcançado por alguns alunos.
Nos ensinamentos de Bourdieu, é a família que realiza os investimentos educativos que transmitem para a criança um determinado valor de capital cultural durante seu processo de socialização. E essa estrutura, que combina hierarquia e proximidade, pode ter efeito de estimulação intelectual, trazendo ao alcance o saber que parecia inacessível.

Os anciãos – Homens velhos e notáveis

A velhice nos proporciona repouso, livrando-nos de todas as paixões foi o que escreveu Platão, porém bem distante desse raciocínio, Nelson Mandela em 2007, aos 89 anos fundou um grupo independente composto por eminentes líderes mundiais, para juntos, trabalharem e apoiarem projetos de construção da paz e direitos humanos ao redor do mundo. Surgiu aí “The Elders”, tradução literal para “Os anciãos”, (homens velhos e respeitáveis).

O grupo é formado por 11 personalidades: Desmond Tutu, Ela Bhatt,advogada e respeitada líder mundial no mercado de trabalho em defesa da mulher, Graça Machel, esposa de Mandela, Gro Brundtland,ex primeira Ministra da Noruega, Fernando Henrique Cardoso, Jimmy Carter, ex Presidente dos Estados Unidos, Kofi Annan, diplomata de Gana e ex- secretário geral da ONU, Lakhdar Brahimi, Diplomata, ex-ministro de relações exteriores da Algéria, Mary Robinson, ex-presidente da Irlanda, Martti Ahtisaari, ex presidente da Finlandia, e Nelson Mandela, que dispensa apresentação. Quase todos desempenharam em algum período trabalho relevante dentro da estrutura da ONU. A ideia teve início numa conversa informal entre o cantor Peter Gabriel e um amigo empresário, que discutiam sobre as possibilidades de um dedicado grupo de pessoas influentes, com formações diversas e pensamento político também diverso ajudar a resolver os problemas globais , sobretudo os problemas que infligiam sofrimento aos povos, particularmente causados por conflitos armados, pela pobreza extrema, injustiça ou pela intolerância.

Inspiraram-se nas comunidades tradicionais onde os líderes locais partilham a sabedoria para resolver os problemas internos.
Levaram a preocupação e a ideia ao conhecimento de Nelson Mandela, que junto com sua mulher Graça Machel e o arcebispo Desmond Tutu abraçaram o projeto. Convidaram outros membros com base em critérios severos, como independência de pensamento, confiança internacional, integridade e reputação de liderança, entre outros.
Empolgado Mandela anunciou a formação dos “The Elders” no dia de seu 89º aniversário, em Julho de 2007, em plena cerimônia de comemoração e enfatizou que os “Anciãos” iam falar livre e corajosamente, atuando tanto publicamente quanto nos bastidores, para estender à mão àqueles que mais precisam de ajuda, apoiando a coragem onde há medo, interferindo para promover acordo onde há conflito e inspirando esperança onde há desespero.

E assim o grupo de anciãos vai caminhando pelo mundo, amplificando as vozes daqueles que não tem chances de serem ouvidos, estimulando o diálogo e debate e ajudando a promover uma mudança positiva na sociedade global. Não podem ocupar cargos públicos porque precisam estar desvinculados dos interesses de qualquer nação ou governo, ou instituição. Em comissão visitaram o Oriente Médio em meios aos conflitos, engajaram-se para obter ajuda humanitária para países africanos e soltaram as vozes contra a desculpa de práticas religiosas tradicionais para justificar a discriminação contra mulheres. Visitaram a China e Coréia, onde há denúncias de desrespeito aos direitos humanos e estão travando debates com líderes mundiais para reduzir substancialmente as armas nucleares, que hoje chegam a mais de 20.000 e são capazes de destruir a vida na terra várias vezes. O grupo acredita que a paz é um projeto possível mas que as vezes não avança por que na maioria dos conflitos, a solução só pode ser encontrada através da rápida retomada do diálogo sobre todas as questões pendentes .

Assim como anunciou a criação do grupo em julho de 2007, Nelson Mandela pediu, desde 2009 que não comemorassem seu aniversário e junto aos amigos anciãos anunciou a que dia 18 de julho estendida ao mês de julho todo, deveria ocorrer um movimento incentivando a todas as pessoas ao redor do mundo a tomarem medidas concretas a serviço da humanidade, assim criaram “Mandela Day 2011 – mudar o mundo para melhor” e nos chamou a responsabilidade de desempenhar nosso papel de mudar o mundo ao nosso redor, começando talvez, mudando a nós mesmos, nos abrindo para lutar contra as injustiças, assim como fez Mandela por 67 anos. Agora o presente de aniversário que ele pede é que doemos 67 minutos do nosso dia fazendo a diferença na nossa comunidade. Vamos nos inspirar no desejo de mudança, na esperança que o manteve vivo durante 28 anos na prisão e agir para fazer girar esse movimento global a favor do bem. È certo que no nosso atarefado dia-a-dia tendemos a não reparar as necessidades dos que nos cercam, mas sejamos todos encorajados pela força interior e pelo espírito de Mandela que tem nos mostrado que com dedicação pessoal e comprometimento nós podemos vencer grandes desafios e fazer de cada dia um “Dia de Mandela”. Aos jovens Mandela manda o recado: “ é hora das próximas gerações continuarem nossa luta contra a injustiça social e pelos direitos da humanidade. Está nas mãos de vocês”.

O declínio da liberdade global

A liberdade é o nosso estado natural, é quem nós somos e sempre seremos. Liberdade é o espaço que precisamos para existir por inteiro, para exercitar nossas paixões, cidadania, professar nossa fé, argumentar e duvidar. A liberdade deve estar contida nas escolhas e na consciência.

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Nenhuma força é tão poderosa o
suficiente para tirar completamente
nossa liberdade, não para sempre
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Liberdade para alguns deve ser um ideal, para outros, uma ilusão, talvez um objetivo, a verdade ou um modo de viver. Devemos exercer nossa liberdade para não permitir que a ideologia seja uma inquisição permanente.

As inquisições políticas e religiosas precisam ser combatidas pelo favorecimento ao diálogo entre gente que pensa diferente. Nenhuma força é tão poderosa o suficiente para tirar completamente nossa liberdade, não para sempre. Nenhum regime tem conseguido conter a explosão da liberdade que surge espontaneamente e ganha corpo num processo de contaminação ardente.

Estamos assistindo os povos do Oriente Médio levantando suas vozes contra os regimes opressores e sendo sistematicamente seguidos por outros países. Porém, nenhum homem será plenamente livre enquanto persistir o registro de pontuações baixas sobre a liberdade na escala mundial, isso é o que diz a organização americana “Freedom House”, fundada em 1941 por um grupo de proeminentes indivíduos, incluindo jornalistas, acadêmicos, personalidades políticas e líderes trabalhistas, o autoritarismo está desafiando as práticas democráticas em muitas partes do mundo.

A última pesquisa divulgada avalia a liberdade no mundo, considerando os direitos políticos e civis, as práticas eleitorais, o pluralismo político e as funções dos governos. A liberdade civil é avaliada observando a liberdade de expressão, as crenças, liberdade de associar-se, cumprimento das leis, autonomia e respeito aos direitos individuais.

De acordo com os resultados divulgados, o ano de 2010 foi o quinto ano consecutivo em que a liberdade global sofreu declínio. Nunca antes, esse declínio durou tanto tempo, continuamente. Isso preocupa e desconcerta, porque nem só as ações dos governos afetam a liberdade, há atores não governamentais também , mas quase sempre os governos estão diretamente envolvidos. Há, segundo a pesquisa 87 países denominados livres, parcialmente livres são 60, cerca de 31% dos 194 países avaliados e não livres foram contabilizados 47 países.

No país classificado como livre há abertura e competição política, respeito pelas liberdades civis, significativa vida independente e mídia independente. O Brasil está na categoria dos paises livres. Parcialmente livre é o país onde há limitado respeito pelos direitos civis e políticos e liberdades. Estados parcialmente livres freqüentemente vivem um ambiente de corrupção, conflitos étnicos e religiosos e um cenário político em que um poucos partidos, dominam a cena, embora haja certo pluralismo partidário. Um país que não é livre não respeita os direitos politicos básicos e a liberdade civil é sistematicamente negada ou reprimida.

Há controversias e debates sobre a neutralidade e metodologia empregada na pesquisa, contudo a crescente restrição à liberdade no mundo dos regimes autoritários coincide com a falta de habilidade ou falta de vontade das democracias, para responder aos desafios autoritários e essa omissão traz sérias conseqüências para a liberdade global. O escritor peruano Mario Vargas Llosa, ao participar recentemente da Feira do Livro em Buenos Aires foi aconselhado a não emitir juízo político no evento. Conseguiram cercear a liberdade de expressão de Llosa que educadamente não fez nenhuma referencia a questão política, mas em entrevista disse que é muito triste ver vítimas da censura, praticando-a.

Desigualdades são escancaradas pelo processo de globalização

A globalização é um processo de integração entre pessoas, companhias, administrações e governos, através do qual todo o mundo interage e se integra num sistema de trocas econômicas e culturais sem precedendes. A globalização, obviamente não pára nesse contexto de integração de economias regido com bases internacionais de regulação.

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Cidadania se torna um
processo utópico no
mundo globalizado
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A globalização escancarou a desigualdade na agenda global, isso fica evidente na leitura de textos e entrevistas do professor-doutor Milton Santos, que nasceu no interior da Bahia, em 1926. Doutor honoris causa em vários países, ganhador do prêmio Vautrin Lud, em 1994 (o prêmio Nobel da geografia), professor em muitos países (em função do exílio político causado pela ditadura de 1964), autor de 40 livros. Morreu em 2001.

Geógrafo e pensador, Milton Santos pertence ao grupo de intelectuais que buscam o pensamento crítico para entender a vida contemporânea e via a globalização como um processo de revelação das diferenças escondidas, nem sempre um processo coeso, na grande maioria das vezes, um sistema que faz tudo funcionar de acordo com as regras do mercado burgues. Onde os grandes, não saciados em controlar os rumos da economia, passaram também a controlar a comunicação entre os povos. Seis empresas controlam a mídia mundial e reafirmam a ideologia da globalização, pois são diretamente ligadas ao mundo da produção.

Por isso firmam a imagem de certos produtos como símbolo de que tudo se chega a todos os lugares. Nada além de induzir ao consumismo nos espaços globalizados. Não se pode furtar portanto, a importância do local, das virtudes da cultura que marca um povo. Para se tornar um espaço global o mundo precisa da cultura, da mão de obra local. É combinando as matrizes locais, nacionais e internacionais que cada cultura ganha dimensão global. Anthony Giddens, sociólogo britânico, afirma que tudo o que é global é relevante para o local e tudo o que é local afeta em alguma medida o global.

O desempenho das grandes corporações dentro do processo da globalização há de ser cuidadoso. O documentário co-produzido pela Dinamarca e Alemanha, chamado “Blood in the Mobile”, (Sangue no celular) aborda a cruel guerra civil no Congo e nos chama a todos à responsabilidade por alimentar esse conflito, que mostra a conexão entre as companhias fabricantes de celular e a guerra civil no Congo. O dinheiro obtido na venda dos minerais, que se transformam em componentes indispensáveis para a fabricação do telefone são investidos em armamentos e manutenção de grupos armados que disputam o poder local. Portanto, o meu, o seu celular está envolto num processo multinacional de fabricação banhado a sangue.

O ex-ministro Rubens Ricupero, em artigo publicado na revista Scielo traçou inclusive um paralelo interessante entre Marx e o processo em construção da globalização, sobretudo na unificação dos mercados em escala mundial. Tirou-se o chão das industrias nacionais, eis o que disse Rubens Ricupero, sobre esse rearranjo das relações sociais modernas, que produz blocos de países, que buscam ampliar seus parceiros globais para circular suas mercadorias e nem sempre acontece o mesmo com a circulação das pessoas.

Além das contradições e paradoxos produzidos por este modelo econômico e cultural é possível enxergar a construção de uma realidade mais justa e humana. O fim do isolamento. No lugar do antigo isolamento há interação em muitas outras direções para difundir a produção material e cultural, para difundir a multiplicidade dos indivíduos, cultura, religião, língua e ideologia.

O caminho inverso à perversidade econômica seria vislumbrar as perspectivas de existência digna dentro do processo de globalização, onde os cidadãos habitariam um mundo sustentável, com qualidade de vida, provido de água, comida e energia na medida de suas necessidades, sem desprezar o conteúdo técnico que sustenta a globalização; a economia. Aí talvez a cidadania deixaria de ser um processo utópico e seria um processo também global.

O professor Milton Santos não era sistematicamente contra a globalização e sim contra o modelo perverso que fora adotado, que ele chamou de globalitarismo, onde os debaixo trabalham com poucos direitos e a banalização da pobreza reduziu os cidadãos a dois tipos de gente: os que não comem e os que não dormem com medo da revolução dos que não comem.