Não é simples tampouco sem dor que admito perder você,
de vista, de pensamento; por falta de tentar, de retomar a conversa interrompida.
A escolha não feita, a mesa desfeita, a vida revirada.
É assim que os amores terminam, que as portas se fecham, que os caminhos se distanciam.
As mãos se esfregam, o olhar se perde, a cabeça pende. O vulto se distancia,
as promessas são quebradas, o sonho se encerra.
Eu sigo, você volta, nosso caminho torto transcende nossa capacidade de reinventar o amor,
que desintegrou na totalidade.
Não há o que provar. A dor e o silencio tem gosto de nada.
Mês: agosto 2011
A cultura do voluntariado como manifestação de cidadania
“Nunca há um ano sem crises humanitárias e onde há pessoas em necessidade, há bons homens e mulheres se unindo para aliviar o sofrimento e trazer esperança.” observa o Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon.
O trabalho voluntário é a oportunidade de fazer a diferença na vida das crianças carentes e adultos, transmitindo educação e aconselhamento nas escolas e orfanatos, informação sobre o HIV e cuidados médicos.
O voluntariado brasileiro teve início em 1543, quando foi fundada a primeira Santa Casa de Misericórdia no estado de São Paulo. A noção de voluntariado era bastante ligada as atividades religiosas, coordenadas pela Igreja Católica. Tempos depois surgiu a Rede Feminina de Combate ao Câncer, uma organização filantrópica de âmbito nacional, que existe desde 1946.
No início dos anos 1980, o voluntariado ganhou popularidade e em 1983 a doutora Zilda Arns Neumann e o então arcebispo de Londrina, Dom Geraldo Majella fundaram a Pastoral da Criança, com o objetivo de combater a alta taxa de mortalidade infantil. Foi então que desenvolveu a metodologia comunitária de multiplicação do conhecimento e da solidariedade entre as famílias mais pobres. Os líderes comunitários eram capacitados e transmitiam às mães ensinamentos para combater grande parte das doenças e a marginalidade das crianças. Após 28 anos, a Pastoral acompanha 1.256.079 famílias, 1.598.804 crianças, 85.617 gestantes. Está presente em 4.000 municípios brasileiros e em 20 países, onde transmitem solidariedade e conhecimentos sobre saúde, nutrição, educação e cidadania para as comunidades mais pobres.
Dra. Zilda Arns Neumann, médica pediatra e sanitarista, fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança e Pastoral da Pessoa Idosa, organismos de ação social da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), enveredou pelos caminhos da saúde pública e dedicou a vida a salvar vidas com medidas simples, educativas, preventivas e acima de tudo, eficazes. Em 2006, ela foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz.
Morreu tragicamente no terremoto que devastou o Haiti dia 12 de janeiro de 2010, em Porto Príncipe quando acabara de fazer um pronunciamento sobre seus métodos e hidratar e alimentar as crianças pobres.
Se viva, estaria, dia 25 de agosto, quinta-feira, completando 77 anos de idade.
Outro momento importante para a disseminação do voluntariado foi em 1996, quando a Fundação Abrinq e o conselho da Comunidade Solidária lançaram o “Programa de Estímulo ao Trabalho Voluntário no Brasil”. Desde então, quase todas as capitais brasileiras fundaram organizações que atuam tanto na captação como na capacitação de entidades e de voluntários.
Segundo dados do Portal do Voluntário, os voluntários têm alto nível de escolaridade, 23% têm pós-graduação e 20% completaram o ensino superior – e que 31% deles têm entre 18 e 34 anos e 53% são mulheres. Em média, conforme aponta a pesquisa “Doações e trabalho voluntário no Brasil, dirigidas por Leilah Landim e Maria Celi Scalon, cada voluntário doa em média74 horas de trabalho por ano. No Canadá, por exemplo, esse número é de 191 horas anuais.
No Brasil o serviço voluntário foi regulamentado pela lei 9.608/98, que esclarece que o serviço voluntário não gera vínculo empregatício e nenhuma obrigação de natureza trabalhista.
Ação voluntária emana valores de solidariedade e de iniciativa em favor de outros. O voluntário atua como um agente de transformação social, com forte inserção na comunidade, tendo um importante papel integrador. Através da participação voluntária, as pessoas encontram espaço para seu crescimento pessoal e sua auto realização.
Mesmo as organizações humanitárias famosas, como a Cruz Vermelha, Save the Children e Médicos Sem Fronteiras também são dependentes de voluntários.
A antropóloga Ruth Cardoso fundou em 1995 a Comunidade Solidária que, através da ação de voluntários, fortaleceu as ações sociais no Brasil, estimulando a criação de mais de 40 Centros de Voluntários nas principais cidades brasileiras. Ruth Cardoso disse em entrevista que o brasileiro é solidário, que o gesto de solidariedade faz parte da nossa cultura. Confirmou que as pesquisas indicavam que 1 em cada 5 adultos exercia atividade voluntária. Ou seja, grande número de pessoas doam tempo, trabalho e talento para ajudar quem precisa. Dra Ruth Cardoso pontuou que cada problema social é uma oportunidade de ação cidadã. Voluntariado é um hábito do coração e uma virtude cívica. Solicitados a doar o melhor que temos dentro de nós, a tendência é a uma reação generosa.
Juventude: Divergência entre realidade e oportunidade
Comemora-se em 12 de agosto o dia Mundial da Juventude e no âmbito das comemorações um movimento imenso de jovens do mundo inteiro segue rumo à Espanha, país escolhido para sediar o grande encontro global, que a cada três anos se realiza em algum lugar do mundo. Embora vinculado a Igreja católica, o movimento avançou por outros credos e há de se ressaltar que o momento é muito oportuno para trazer os jovens à mesa de discussão de temas importantes. Momento de demonstrar confiança, tolerância e estender a mão para que eles possam construir algo de novo na vida deles, que está sendo impulsionada à mudanças bruscas de comportamento, de prioridades governamentais.
—————————————–
Além da limitação financeira ou falta de
ofertas existentes, a verdade é que o
jovem está envolvido também numa
miséria cultural sem precedentes
—————————————-
Milhares de jovens com destino a Madrid e Sevilha estão tentando vencer esse momento de desânimo e encontrar respostas para suas aflições e inseguranças, nem sempre expressas pelos meios tradicionais. Mas mandam recados irados ou irônicos para quem os ignora. A maioria dos jovens que participaram das últimas manifestações, tanto na Inglaterra quanto na Síria, Israel ou Chile, dizem que estão fazendo campanha por justiça social e para mudar a abordagem dos governos nos temas relacionados à juventude, que sente-se excluída e diretamente atingida nos cortes dos governos e na falta de emprego.
Tyler Ament, diretor da Coalizão Internacional da Juventude, participou em Nova York do Encontro da ONU, que está acontecendo como parte do Ano Internacional da Juventude, sob o tema geral “Juventude: Diálogo e Compreensão Mútua” e levou uma mensagem melancólica e depois esperançosa dos jovens, que a priori se definem como sobreviventes de um horizonte escuro, para logo adiante, se comprometerem a livrarem-se do medo dos desafios e confiar num amanhã de esperança e liberdade autentica.
Não sei ao certo o que, mas algo está levando os jovens a viverem um revés de seus próprios sonhos e minha convicção é que a juventude tem um papel extremamente significativo na transformação da sociedade. Desde 1995 a ONU trabalha o Programa de Ação Mundial para a Juventude, para orientar os governos, as organizações nacionais e internacionais e para criar um ambiente favorável ao desenvolvimento do potencial jovem ao máximo. Mas mesmo assim, admitem Membros da Assembleia Geral da ONU, os jovens continuam a enfrentar muitos obstáculos e desafios que dificultam a sua transição para a idade adulta.
Há no mundo, aproximadamente 1,2 bilhão de pessoas com idades entre 15 e 24 anos e esse número deve permanecer nessa faixa até o ano 2050. Embora representem 25% da força de trabalho, os jovens desempregados somam 44% do total da população sem emprego. O resultado é que existe cerca de 125 milhões de jovens trabalhadores pobres. Os jovens ainda estão no centro da epidemia global de HIV, com 5.4 milhões de pessoas contaminadas, o que comprova a ineficiência dos sistemas disponíveis de acesso a informação para prevenir a transmissão do HIV. Também há política de saúde inadequada e serviços de apoio social insuficientes.
A América Latina abriga cerca de 100 milhões de jovens, que representam 18,5% da população da região. Aqui então, as perspectivas de vida diferem substancialmente de uma região para outra, sobretudo no que concerne as oportunidades disponíveis e prioridades. A inserção dos jovens no mercado de trabalho é um assunto atual na agenda contemporânea de debates no mundo inteiro. Não apenas pela conciliação entre trabalho e estudo, como também pela qualidade do trabalho que exercem.
No Brasil, os jovens de 15 a 24 anos totalizam 34 milhões de pessoas, destes, quase metade vive em famílias consideradas pobres, 5% considerados inativos, não estudam nem trabalham. Além da limitação financeira ou a falta de ofertas existentes, a verdade é que o jovem está envolvido também numa miséria cultural sem precedentes. O relatório da ONU sugere que se traga aos jovens novas perspectivas para o desenvolvimento de uma aliança global, que possa ampliar a plataforma de diálogo com a sociedade, estimular a produção de conhecimento e estabelecer um vínculo de respeito e princípios.
“O respeito e o amor devem se estender àqueles que pensam e operam diferentemente de nós, pois com quanto mais humanidade e amor entrarmos em seu modo de sentir, mais facilmente poderemos iniciar com eles um diálogo”, diz trecho da carta de monsenhor Maggiolini, citado por Bobbio em seu livro Elogio da Serenidade.
Como me vês?
Como você me vê?
Sabes que para amar-me tens que aceitar o imprevisível,
o vulto que corre pela casa, que parte e chega sem hora,
o telefone que não para e as horas que não durmo.
Para amar-me tens que escolher à lua ao sol,
a poesia e a politica.
o riso frouxo, depois arredia.Se assim me vês, decerto me amas!
Na contramão da evolução comportamental, o não reconhecimento da paternidade ainda é problema no Brasil
Os pais de hoje já começaram a assumir papéis muito diferentes dos pais das gerações anteriores.
O que trouxe essa mudança de papéis para os homens, como pais?
Isso, em decorrência de uma nova forma de organização da família, mudanças na sociedade contemporânea, como aumento no número de mulheres entrando no mercado de trabalho, proporção de nascimentos fora de casamento, além do aumento de famílias de pai ou mãe solteiros.
Nas décadas mais recentes, a mudança do papel econômico das mulheres tem tido grande impacto o papel dos pais. Mas o pai moderno se reinventou. O pai de hoje não é mais o ganha-pão tradicional, casado e disciplinador da família. Pesquisa psicológica entre famílias de todas as etnias sugere que o afeto do pai e seu envolvimento direto com a criação dos filhos ajuda a promover o desenvolvimento social e emocional das crianças e isso não rivaliza com o papel das mães, porque pai e mãe atuam em pólos distintos da formação do caráter da criança.
De acordo com os estudos publicados por Engle e Breaux ,no relacionamento pai e filhos, o pai deve: 1) construir uma relação de cuidado com os filhos, envolvendo-se por meio de interação, disponibilidade e responsabilidade ; passando parte do seu tempo com a criança; bem como estar presente, já que há evidências de que o contato com o pai acarreta menos problemas de comportamento, mais senso de habilidade para fazer coisas e maior auto-estima na criança; 2) tomar a responsabilidade econômica pela criança e 3) reduzir as chances de criar um filho fora de uma parceria com a mãe da criança (o que pode reduzir seu vínculo com a criança).
Alia-se a esses conselhos, outros tantos sugeridos no livro; como comportar-se de modo amoroso e dedicado, criar um clima doméstico e acolhedor. Manter o olhar atento no filho. Interromper as atividades para ouvi-lo, para brincar.
As mudanças são significativas e tendem a causar impacto positivo no papel das relações pai e filho. Os múltiplos papeis que se espera que os pais explorem, segundo diversos artigos publicados na revista Scielo, estão ligados aos aspectos mais diversos da paternidade; como tomada de decisões, motivação e mecanismos para exercer influencia sobre os filhos.
A assimilação dessas regras que constituem a identidade moral das crianças, devem ter características muito mais humanas quando o pai com o qual a criança se identifica está em casa. Esse pai deve se mostrar com todas as suas competências e fraquezas, enfim, uma figura real. Cultuando a imagem do pai herói, as crianças correm o risco de se identificar mais ou também com os ídolos da mídia, com celebridades.
O pai retratado por U2 na música “ Sometimes you can´t make it on your own” ( às vezes você não pode fazer tudo sozinho); escrita por Bono Vox dedicada ao pai durão, que fingia que as coisas estavam sempre bem e sob controle, que resolvia tudo sozinho para poupar a família. Na música, Bono desconstrói a imagem desse pai infalível e pede ao pai que aceite que nem sempre se consegue fazer tudo sozinho e que o pai não tem que estar sempre certo.
Os pais desempenham um papel particularmente forte no desenvolvimento das crianças para a abertura para o mundo. Os homens parecem ter uma tendência para excitar, surpreender e eles também tendem a incentivar as crianças a assumir riscos, enquanto, ao mesmo tempo garantem a segurança, permitindo assim que as crianças aprendam a ser mais corajosas em situações desconhecidas, bem como para defender-se. Mas essa dinâmica só pode ser eficaz no contexto de um vínculo emocional concreto e sólido entre pai e filho. Pais modernos ou antigos, jovens ou nem tanto, não se desobriguem a educar seus filhos. Escola e Família não tem a mesma função.
Na contramão da evolução comportamental dos pais, o não reconhecimento da paternidade ainda é um sério problema no Brasil. Cerca de 30% das crianças brasileiras não tem o nome de seus pais em seus registros de nascimento, é o que revela a pesquisa da socióloga Ana Liési Thurler. E numa tentativa de amenizar ou solucionar o constrangimento a que são expostas essas crianças, a corregedoria do Conselho Nacional de Justiça – CNJ lançou o projeto “Pai presente”, cujo objetivo é identificar os pais que não reconhecem seus filhos e garantir que assumam as suas responsabilidades.Determina ainda que as corregedorias dos Tribunais de Justiça de todo o Brasil identifiquem os pais de 4,85 milhões de pessoas que têm essa lacuna no registro de nascimento. 3,8 milhões são jovens com menos de 18 anos