Há o suficiente para a necessidade de todos, não há suficiente para a ganância de todos

O grande desafio que todos nós enfrentamos são muito claros: a pobreza corroendo nosso tecido social; nossos ecossistemas sendo devastados; a ameaça bem documentada de mudança climática. E ainda assim muitos de nossos líderes políticos tendem a não colocar estes desafios como prioridades em suas agendas.
Como podemos conciliar a demanda de crescimento econômico com um futuro mais justo e mais sustentável? Estas são as aflições de muitos e também do Arcebispo Sul-africano, Desmond Tutu, que criou um fórum onde pede a jovens selecionados da Suécia, Brasil, Nigéria e China, que discutam entre si se a ideia progressiva do desenvolvimento sustentável é algo que apenas os países ricos podem pagar para ter.

Ao longo do debate, que pude acompanhar via e-mail, sempre recheado de formulações arrojadas, os jovens, quase unânimes afirmam que a maioria dos líderes dos países ricos e pobres colocam os desafios de se combater as alterações climáticas e a injustiça social, como se fosse uma espécie de luxo, algo que deve ser feito, quando sobrar tempo e recurso.
Acreditam que os políticos atuais são muito fluentes em encontrar soluções para crises já instaladas e frustram-se ao constatar que não há comprometimento com soluções de longo prazo, que trariam prosperidade, justiça social e sustentabilidade. Tanto países pobres quanto países ricos tem oportunidades diárias de repensar seus investimentos, visando o bem-estar dos seres humanos.
A jovem sueca admite que seu país é o maior consumidor de energia per capita do mundo e que se cada pessoa no planeta consumisse tanto recurso quanto a média sueca, a nossa Terra não conseguiria fornecer o suficiente. É um país que atingiu um nível de desenvolvimento que nosso planeta simplesmente não pode pagar.

Ela diz que a dificuldade do jovem em promover a mudança de comportamento radical é que eles já nasceram dentro desse sistema de consumo exacerbado, mas certamente não nasceram para aceitar esse estado de comportamento predador.
O jovem brasileiro reconhece a urgência de todos os líderes mundiais abraçarem o desenvolvimento sustentável como prioridade em suas agendas para garantirem um ambiente digno, bem-estar e ambiente seguro para seus cidadãos. Ele aponta a corrupção dos governos como uma das causas que impede a verdadeira mudança, e também o financiamento privado das campanhas políticas, que amarram candidatos eleitos aos interesses dos grupos privados que os financiaram. No Brasil, os interesses de curto prazo e o crescimento a qualquer custo tem gerado desperdícios e impedido a prática de políticas efetivas contra a destruição e a pobreza.
Culpar os governos é uma retórica que aos poucos cai em desuso porque todos nós devemos apresentar alguma alternativa decisiva para uma vida sustentável, seja através de mudanças culturais, compromissos voluntários ou políticas públicas eficientes. Durante as discussões fica o sentimento que o desenvolvimento sustentável pleno só será abraçado pelos políticos se for apresentado como um exercício lucrativo.

Pois bem, tanto o Arcebispo Tutu quanto o grupo de jovens asseguram que o desenvolvimento sustentável não deve ser visto como um luxo, é de fato, a única opção que temos; a vida sustentável tem que ser vista em sua totalidade, como uma maneira de criar um ambiente limpo ao mesmo tempo, gerar emprego e renda, só assim os líderes políticos entenderiam sua premência, falando a linguagem da economia.
A questão do desenvolvimento sustentável não está restrita a plantar árvores, replantar florestas. É muito mais que isso. É plantar o sentimento de pertencimento ao planeta que nutre nossas vidas.
O título do artigo é uma frase do líder pacifista indiano, Mahatma Gandhi.

Nos governos democráticos não deveria existir pobres

Lendo um artigo sobre as democracias desenvolvidas, contextualizando a tendência de que as mesmas possuem foco na base industrial e sistemas de governo complexos, a maioria da população deveria ser de ricos e uma minoria pobre. Claro que num governo democrático, além das diferenças sociais, existem as diferenças étnicas, religiosas e de gêneros. Se o regime é democrático, por que existe a exclusão social? Não existiria um meio de abraçar a todos indistintamente numa forma de governo que seria para contemplar plenamente o povo?
O que percebemos é que as democracias ainda dependem do apoio dos ricos e por isso tendem a praticar a política voltada para o favorecimento destes em detrimento das necessidades dos mais pobres. O governo democrático precisa ter moderada propensão ao apetite pelos resultados financeiros encerrado em si.
A grande fraqueza do governo democrático são suas promessas de fazer, onde as vezes, o esforço de enganar ainda é bem maior do que o esforço de realizar.

Os ricos preocupam-se principalmente com a tributação de riqueza em geral e segurança, os pobres se preocupam principalmente com os benefícios gerais do estado de bem-estar, com escolas, hospitais, segurança, transporte e com os impostos que incidem nos bens de consumo básico.
Levantou-se a hipótese de que a solução para a maioria das questões sociais, tendem a ter impacto sobre a classe mais abastada. Grandes mudanças nos níveis das prestações de assistência social podem alterar o nível geral de tributação e isso amarra as decisões de avançar, porque os governos temem a reação dos ricos. Os governos democráticos precisam oferecer ajuda necessária para a sua população mais pobre, mas de maneira que promova o bem-estar e menos dependência. Entretanto, as estratégias de redução da pobreza só surtirão efeitos se houver conhecimento da percepção dos pobres quanto a sua própria condição . E as condições de vida dos pobres, segundo eles mesmos, são críticas e geralmente negativas. Os pobres tem plena consciência da sua falta de voz, poder e independência. A pobreza os deixa vulneráveis à humilhação e os empurra para a ruptura com a convivência saudável.

É preciso parar de pensar nos poucos, para cuidar de todos. Só assim estreitaremos a lacuna que separa os ricos dos pobres.
Onde quer que ocorra, a pobreza contribui significativamente para a desarmonia social, para o sofrimento e conflitos. Se continuarmos nosso caminho atual vamos permitir que esta lacuna fique cada vez maior. Devemos também sentir a responsabilidade para com os indivíduos pobres da nossa comunidade, nós devemos despertar para a compaixão por aqueles que sofrem, porque a compaixão afirma os princípios da dignidade e igualdade para todos, porém devemos também nos comprometer em assegurar a justiça social, abraçando a causa da redução da pobreza. O governo brasileiro anunciou na noite do domingo, Dia das Mães, o lançamento da Ação Brasil Carinhoso. Segundo a presidenta, um programa para tirar da miséria absoluta todas as famílias brasileiras que tenham crianças com até 6 anos de idade. Para a presidenta é profundamente triste que as situações de extrema pobreza se concentrem com mais força entre crianças e jovens, razão pela qual, o programa prevê a construção de 1.500 creches em todo o país.

Em um discurso antigo, o Dalai Lama disse:“Se somos sérios em nosso compromisso com os princípios fundamentais da igualdade, que eu acredito estar no cerne do conceito de direitos humanos, a disparidade econômica de hoje não pode mais ser ignorada. Não basta apenas dizer que todos os seres humanos devem gozar de igual dignidade. Isso deve ser traduzido em ação.”

A Diferença entre ser mãe na Noruega e no Afeganistão

Quase todas as estatísticas vão muito além de meros números. Neste caso que apresento aqui, o desespero humano, a esperança perdida mostra que às mães devem ser dadas as oportunidades que necessitam para quebrar o ciclo da pobreza e melhorar a vida para si e seus filhos. Todos os anos cerca de 343 mil mulheres morrem durante a gravidez ou durante o parto.
A organização internacional Save the Children publicou o décimo segundo relatório anual sobre as mães do mundo. A pesquisa traz à luz a disparidade entre os tratamentos recebidos pelas mães nos mais diversos países e abre-se corajosamente para o entendimento de que uma mulher entenderia e cuidaria melhor de outra mulher. Relata a falta de profissionais de saúde no mundo em desenvolvimento e na necessidade de mais profissionais do sexo feminino para salvar a vida das mães e dos bebês, porque 50 milhões de mulheres no mundo em desenvolvimento, dão à luz sem ajuda de nenhum profissional. Porém apenas o acesso à educação à mulheres jovens criaria oportunidade de sobreviver, criar os filhos e prosperar. .
Eis a lista dos 10 melhores lugares do mundo para ser mãe: Noruega, Austrália e Islândia, Suécia, Dinamarca, Nova Zelândia, Finlândia, Bélgica, Holanda e França.

Os 10 piores países são: República Centro-Africana, Sudão, Mali, Eritreia, República Democrática do Congo, Chade, Iêmen, Guiné-Bissau, Nigéria e Afeganistão. Os Estados Unidos classificado, segundo a pesquisa no ranking geral em 31º lugar e o Brasil em 58º.
Num quadro comparativo pode-se ver o alarmante fosso que separa as mães norueguesas das mães afegãs ou etíopes. Na Noruega 100 por cento dos partos são assistidos por profissionais de saúde qualificados, no Afeganistão, menos de 15 por cento, na Etiópia, nem 6 por cento. Na Nigéria, o risco de uma mulher morrer por causa da gravidez ou causa relacionada ao parto é de 1 em 7. Na Itália o risco de morte materna é menos de 1 em 25.000 mulheres. Os números não soam frios, porque a indignação corre as veias. Lembra quando linhas acima citamos a educação? Pois bem, uma mulher no Afeganistão, Angola, Chade e Guiné-Bissau recebe menos de cinco anos de educação formal,enquanto na Austrália e Nova Zelândia, a mulher permanece na escola por mais de 20 anos.

São investimentos rentáveis, que salvam vidas, que deveriam ser prioridade para os líderes políticos do mundo todo.
No Brasil, que ocupa a 58ª posição no ranking, cerca de 51 por cento das mulheres são mães que admitem que não conseguem equilibrar bem o tempo entre o trabalho e os filhos e por isso sentem-se culpadas. No tempo que passam em casa, cuidam dos filhos, escutam suas histórias e os orientam. São mães com tantos rótulos, agrupadas de tantas formas distintas, classe A/B, C/D, mães solteiras, mães adotivas ou simplesmente mães, que revelam o que todos sabemos; a maternidade transforma a vida da mulher, apesar do trabalho, da preocupação constante, da omissão dos companheiros.

No Brasil e na América Latina convive-se com o risco premente da gravidez precoce, são meninas de 15 a 19 anos, geralmente solteiras, que incham as estatísticas de histórias tristes. Muitas tornam-se mães porque foram abusadas.
A diretora executiva da ONU Mulheres, ex-presidente do Chile, a médica Michelle Bachelet, defendeu recentemente uma abertura e favorecimento para maior participação das mulheres nas discussões políticas no Brasil e no mundo. Segundo Bachelet apenas 19 por cento dos parlamentares do mundo são mulheres, quase todas mães e não há democracia, não há desenvolvimento sem um olhar mais carinhoso para as mulheres.

A pobreza urbana e a indiferença do poder público

“Políticas de combate à pobreza urbana: um quadro geral de ação”. Este estudo é o resultado do projeto “Cidades: a gestão das transformações sociais e do meio ambiente”, um projeto de pesquisa-ação realizado pelo programa MOST e dado como contribuição para a Unesco, foi coordenado por Geneviève Domenach-Chich, que atribuiu ao Projeto Cidades o objetivo de incentivar iniciativas destinadas a melhorar a qualidade de vida e incentivar os cidadãos a desempenhar o seu papel no ambiente urbano.

O Projeto foi implementado como parte de uma estratégia para combater a pobreza e beneficiar as populações urbanas mais carentes. Fica claro também que os moradores devem ter iniciativas pró-ativas para melhorar sua própria condição de vida.

O projeto contribui para a formação de agentes locais nas áreas de gestão social e ambiental, desencadeia um processo de desenvolvimento e facilita a transição de uma estratégia anti-pobreza para uma estratégia de desenvolvimento, contribui para a construção de uma cultura democrática com senso de preocupação comum com o bem-estar, através de parceria entre as pessoas e os seus representantes eleitos e, portanto, visa reduzir a distância entre as pessoas e o poder local. O elatório lança luz sobre instituições como reguladores da vida social, um papel que nem as associações de bairro nem as ONG de desenvolvimento podem assumir, apenas o poder público.

A democracia deveria ser uma arena pública para lidar com os conflitos. Entretanto, um grande problema que enfrentam os projetos de desenvolvimento urbano é o fenômeno muitas vezes observado que os pobres são suspeitos para a política e para os políticos. As pessoas carentes se sentem distantes da arena política e das questões da sociedade. Esse distanciamento quase sempre é criado pelos compadrios políticos e pela perda de legitimidade dos órgãos públicos ou simplesmente pela ausência deles onde o cidadão pobre vive. O poder local não pode ficar desacreditado, não se pode creditar as ONGs ou associações o cumprimento de deveres que são de responsabilidade do poder público.

Não há nenhuma forma outra de combater a pobreza sem estar pronto para lidar com os conflitos que inevitavelmente são desencadeados em um ambiente urbano, porque as pessoas sistematicamente tornam o poder público o alvo de suas denúncias, as pessoas se ressentem desse distanciamento. Os órgãos democráticos devem ouvir as vozes dispersas da sociedade civil, das populações marginalizadas pela pobreza.

A pobreza é muito mais do que renda, é a falta de comida, de trabalho, dinheiro, abrigo e roupas. Pobreza é a sensação de impotência diante da vida, é não ter voz, não ter liberdade, é ansiedade e medo do futuro, da extorsão, da brutalidade. A maioria dos pobres urbanos são condenados a viver no isolamento social; é como viver num cativeiro, esperando ser resgatado. Enquanto isso, a criminalidade aumenta, a violência explode. E estas formas marginais de comportamento ocorrem exatamente porque o poder público local deixa de desempenhar o seu papel de acolher os mais necessitados.

De modo geral as pessoas pobres não têm sido capazes de tirar proveito das novas oportunidades econômicas por causa da falta de conexões, de informações, de habilidades, de apoio e de crédito. Os pobres, que trabalham principalmente no setor informal, experimentam uma vida insegura e imprevisível; os trabalhos não são confiáveis ​​e tem baixos retornos. Para os pobres ouvidos na pesquisa uma vida boa ou bem-estar é a paz de espírito, é uma boa saúde, o sentimento de pertencer a uma comunidade, segurança, a liberdade de escolha e ação e uma fonte estável de renda, para que não falte comida.