A retórica dos convencionais

O poder das idéias deveria se sobrepor ao poder econômico, mas não é e nunca foi bem assim. Não foi por acaso que o filósofo Herbert Marcuse afirmou que “na sociedade, há políticos que também se vendem, como sabonetes”.
O senso comum nos diz que um partido político deve ser capaz de definir por escrito o seu programa, defender seus princípios e selecionar seus candidatos próprios para as eleições. Os partidos políticos mais democráticos começaram a selecionar candidatos nas convenções, uma disputa interna, onde qualquer membro filiado pode declarar-se como candidato. Antigamente ouvia-se por todos os cantos: “queremos escolher um candidato que reúna o consenso dos membros do diretório do partido.”
As coisas mudaram muito e apesar de autorizadas pelo calendário eleitoral do TSE, desde 10 de junho passado, as articulações para escolher os candidatos a prefeitos, vice-prefeitos e vereadores, estão restritas a grupos de interesses e não são discutidas amiúde com os pretensos convencionais, que devem definir, inclusive se haverá coligações com outras legendas. O prazo estende-se até o próximo dia 30.

As convenções partidárias de anos atrás tinham múltiplas funções, mas a principal delas era decidir sobre a plataforma ideal do partido, a posição e afirmações pelas quais o partido se movimentava. Grandes temas eram debatidos nas convenções, que ganhavam atenção da mídia. A convenção revia as credenciais dos candidatos e selecionava aqueles com o melhor registro de trabalhar dentro dos objetivos políticos do partido. A convenção partidária poderia selecionar uma chapa de candidatos para refletir o equilíbrio geográfico da cidade, refletir a diversidade étnica e de gênero.
As pessoas criam os partidos políticos para formular questionamentos sobre temas sociais, se organizam para ganhar apoio para implementarem as ideias e elegem candidatos que irão colocar esses programas em prática. No entanto, o jogo vem mudando num efeito contrário as práticas democráticas de debater ideias. O que aconteceu foi o aumento do poder econômico nas eleições. O sistema político parece estar falhando e a classe política ao invés de corrigir as falhas, tem reforçado-as.
Foi numa convenção nacional que o MDB, presidido por Ulisses Guimarães, com discurso inflamado traçou o plano arrojado de surpreender o regime militar nas eleições de 1974. Do alto da convenção e do fundo do coração, Ulisses Guimarães anunciou que a caravela ia partir. Elegeu dezesseis senadores, o que mudou seriamente a correlação de forças políticas no Congresso Nacional.
É realmente possível ter eleições significativas votando em ideais políticos em vez de votar em candidatos individuais, eliminando totalmente a personalização das eleições.

Grandes temas da história americana foram debatidos em convenções partidárias. A convenção republicana levantou-se contra a escravidão em 1856, os democratas debateram os direitos civis em 1948 e a guerra do Vietnã em 1968.

Na maior cidade do país, a convenção do PSDB aconteceu domingo passado, dia 25, oficializando Jose Serra como candidato a prefeito na sucessão paulistana. O discurso foi pontuado por frases de efeito: “o tempo não desgasta os que lutam e a minha experiência é virtude” para logo em seguida dizer: “não venci todas as batalhas que travei, mas lutei como se fosse a última.”

As ligações complexas entre a democracia e a vida sustentável

A questão hoje é avaliar se os nossos esforços estão sendo suficientes ou pelo menos chegam perto de deter a maré da destruição anunciada nos fóruns ambientais que se realizam pelo mundo, se nossa visão tem sido compatível e ao alcance dos problemas que nos propusemos a resolver. Honestamente, acho que ainda não. Segundo a escritora e ambientalista americana Frances Moore Lappé, precisamos criar uma cultura de responsabilidade mútua, transparência e participação cidadã. Democracia não é apenas votar uma vez por ano, é uma cultura, um modo de vida. A crise ambiental, a disseminação da pobreza são de fato, crises da democracia.

Desde 1987 quando a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente redigiu um documento chamado Nosso Futuro Comum. Fez-nos cientes que a incapacidade de promover o interesse comum no desenvolvimento sustentável é na maioria das vezes fruto da negligência entre as nações, no que se refere a justiça social e econômica. Assim o paradigma do desenvolvimento sustentável vai criando ligações complexas entre seres humanos, economia, política e meio ambiente.
O desenvolvimento sustentável requer um sistema político que assegure a participação efetiva dos cidadãos na tomada de decisões e enfatiza a importância da democracia na resolução de problemas sociais e ambientais. Há dependência mútua entre as pessoas, o planeta e as atividades econômicas. A fonte de recursos da terra é finita e nossa cultura de consumo expõe nosso apetite de devorar tudo o que vemos pela frente.

Ao estabelecermos práticas pessoais para vivermos de modo sustentável, vamos percebendo como os problemas ambientais estão intimamente ligados às desigualdades econômicas e sociais e então, ao trazermos a questão do desenvolvimento sustentável para o debate ambiental, temos que destacar as características do eixo pobreza – meio ambiente. Os danos ambientais causados pelo consumo global recai mais fortemente nos países mais pobres ou em desenvolvimento, justamente os menos capazes beneficiarem suas sobras e dejetos. O crescente número de pessoas pobres e sem-terra lutam pela sobrevivência na base da exploração de recursos naturais e o esgotamento desses recursos por causa sobretudo da ganancia dos grandes agricultores reforça a espiral do descaso com as práticas ambientais

A outra vertente que escandaliza é a nossa cultura perdulária com relação a produção e consumo. Há estudos publicados, não sei se comprovados, que contabiliza dezesseis quilos de milho e soja para alimentar o gado para obter um quilo de carne. Esse mesmo quilo de carne também requer aproximadamente 12.000 litros de água. Na produção mundial de alimentos quase metade de todos os alimentos colhidos nunca é consumido. Este desperdício incrível, que não é exceção, não acontece apenas com a produção de alimentos, estende-se a produção de energia também.

Mas não nos enganemos, as coisas estariam muito piores se essas comissões não tivessem escrito relatórios trinta anos atrás, se a transmissão dos dados alarmantes não tivesse vazado pela internet. Talvez possamos agora nos concentrar em criar um sistema de vida que melhora a saúde, a felicidade, a vitalidade ecológica e o poder social em vez de seguimos com o estigma de sermos seres tão destrutivos.

Não tenhamos medo de sermos inadequados

Há momentos na história em que pessoas de todo o mundo precisam levantar-se para dizer que algo está errado e pedir mudança. Em muitos países houve revolta por causa do desemprego, distribuição de renda, falta de liberdade e desigualdade social, gerando um sentimento de que o sistema político é injusto e está descontrolado. A globalização no estágio atual expôs as mazelas das relações também desempenhou um papel importante disseminando  novas ideias além das fronteiras. A juventude ao redor do mundo começou a acordar e acender faíscas de indignação aqui e acolá. 

Eu estou certa de que novos horizontes surgirão com tomada de decisão corajosa, com ousadia para mudar e quebrar elos poderosos. Ninguém, nenhuma autoridade, nenhuma organização ou qualquer coisa que percebemos como poderosa em nossa realidade pode, eventualmente, vencer á disposição de mudar quando os cidadãos percebem que algo está errado, quando são invadidos por um sentimento de que estão sendo ignorados. 

Ao longo do tempo as desigualdades aumentam e no dia-a-dia as mudanças não são percebidas, as chances de melhoria de vida são afetadas pela má distribuição de renda e pelo descaso, que distraidamente vai se transformando em auxílios governamentais. Mas e o amanhã? Ao pensar no amanhã troque o seu voto por um futuro digno, com possibilidade de produzir, de estudar, de ser tratado com humanidade quando cair doente. Esse mundo é possível se você não perder sua bússola moral.

De você depende o futuro e não do sistema político. Porque o sistema não conseguiu impedir que as crises políticas e econômicas se instalassem, não conseguiu resolver as crises, ele não conseguiu amenizar as desigualdades, falhou em proteger aqueles que são mais fracos, e não conseguiu impedir o crescimento abusivo das grandes corporações. Os políticos ouvem você sobretudo através do seu voto, pois ele determina o rumo que você escolhe, ele pode amplificar a sua voz ou simplesmente deixar enriquecer os ricos à custa do resto da sociedade.

Em um trecho do discurso de posse, no ano de 1994, Nelson Mandela dirigiu-se ao povo sul-africano pedindo-os que não tivessem medo de expressar o seu poder. Disse ele: “Nosso medo mais profundo não é o de sermos inadequados. Nosso medo mais profundo é que somos poderosos demais. É a nossa luz, não a escuridão, que nos assusta mais. Nós nos perguntamos: ‘Quem sou eu para ser brilhante, maravilhoso, talentoso e famoso? Na verdade, por que você não seria? Você é um filho de Deus. Representar um papel pequeno não serve ao mundo. Não há nada de iluminado em se encolher, para que as pessoas não se sintam inseguras ao seu redor.”

E por falar em paixão…

Romeu e Julieta – provavelmente é a mais famosa história de amor de todos os tempos. O casal, na verdade é desde sempre, sinônimo do amor. Romeu e Julieta é a história do amor trágico contada pelo poeta e dramaturgo inglês William Shakespeare. Parece que um grande amor demanda grandes sacrifícios, porque na lista dos namorados mais famosos de todos os tempos aparece em segundo lugar a historia intrigante dos poderosos Cleopatra, rainha egípcia e Marco Antônio, imperador romano que se apaixonaram à primeira vista e apesar de todas as ameaças se casaram, tiveram três filhos, conquistaram impérios e inimigos e, por amor, ambos também morreram.

Tristão e Isolda, outra história triste, que envolve traição e morte é listada como uma história de amor comovente. A bela e corajosa história de Helena de Tróia, considerada a mulher mais bonita de todos os romances, que casou-se com o rei de Esparta. Apaixonado por ela, o filho do rei de Tróia, roubou-a e levou-a de volta para Tróia. Menelaus, rei de Esparta, marido de Helena, destruiu Tróia e retornou para Esparta com Helena. Nos dias mais recentes nos encantamos com a historia da paixão tempestuosa entre Scarlett O’Hara e Rhett Butler, no filme épico “E o Vento Levou”, com a Guerra Civil servindo de pano de fundo para os desencontros, traições e seduções do casal protagonista vividos por Clark Gable e Vivien Leigh.

Mas a história de amor que me fala a alma é contada pelo escritor colombiano Gabriel Garcia Marquez no livro “O amor nos tempos do Cólera”. Uma bela história que estendeu-se por cinco décadas de espera. Ainda bem jovem Fermina Ariza, filha de um dos mais importantes homens da cidade encontra Florentino Ariza, um menino simples e puro, sem boa aparência.

Os primeiros contatos foram olhares, depois foram as cartas intermináveis. Pouco tempo depois, aos 20 anos, ela se casa com o jovem médico da cidade, Juvenal Urbino. Ele a ama e lhe dá segurança. Juvenal é um médico dedicado a pôr fim à epidemia do cólera. A Florentino resta a espera e a decisão fora tomada. Ele vai esperar por Fermina o tempo que for necessário e estabelece com ela um sistema de troca de amor através de cartas e telegramas. Gabriel Garcia Marquez discorre sobre todas as formas possíveis de amor e não apenas do amor não correspondido de Florentino por Fermina. A trama fala do amor platônico, do amor ciumento, do amor perigoso, do amor adultero, do triângulo amoroso, do amor como arte, sexo, sociedade, aceitação.

O livro é sobre o amor e os personagens existem como veículos para revelar a mais estranha e mais poderosa de todas as emoções humanas; o amor. Florentino é um homem que dedicou sua vida ao amor, em todos os aspectos, jurou amar Fermina Daza para sempre, mas entregou-se a paixões efêmeras enquanto esperava; contabilizou cerca de seiscentos e vinte e duas aventuras amorosas fugazes, mas alimentou sempre o sonho de que seu destino final seria com Fermina. Dedicou a Fermina sua vida, sua profissão. Tudo o que ele fez, foi com a esperança de um dia recuperar seu amor. Ela sabia que ele a amava mais que tudo no mundo. Eles estavam de certa forma juntos em silêncio além das armadilhas da paixão, além dos fantasmas de desilusão: além do próprio amor. Amor, que em Florentino, ás vezes doía em todo o corpo e o único sentimento concreto era um desejo urgente de morrer. Os sintomas do amor eram os mesmos do cólera.

Quando morre o Doutor Juvenal Urbino, Florentino aproxima-se de Fermina e sussura: “Eu esperei por esta oportunidade há mais de meio século para repetir para você o meu voto de amor e eterna fidelidade.” Tempos depois, Florentino recebe um envelope com um bilhete de uma só linha que dizia: “Está bem, me caso com o senhor se me promete que não me fará comer berinjelas. Depois de mais de 50 anos o coração de Florentino foi finalmente preenchido e ele descobriu com alegria que é a vida e não a morte que não tem limites.