A espiritualidade, o Engajamento Político e a Vida Pública

“Eu não poderia levar uma vida religiosa se não me identificasse com a humanidade inteira, e isso eu não poderia fazer se não fizesse parte da politica”, disse Ghandi.

A Fundação Ford apóia um trabalho de pesquisa para traçar o contorno das novas práticas e expressões espirituais e suas implicações em participação de atividades civis e políticas nos Estados Unidos. O projeto propõe estudar as consequências do aumento gradativo de componentes da espiritualidade na vida política. Muitas pessoas conhecidas por seus engajamentos espirituais estão se envolvendo nas questões sociais e políticas.

O que o estudo quer apurar é se o envolvimento dessas pessoas difere de alguma forma do engajamento dos outros e quais são as alternativas que trazem esse grupo de pessoas espiritualmente mais elevadas. As conferências para discutir o tema da Espiritualidade, Engajamento Político e Vida Pública, conta com a participação de instituições tradicionais, que construíram boa reputação em atividades espirituais e outras do mundo acadêmico, como a Universidade de Boston.

Pessoas que percorrem um caminho espiritual, buscando o crescimento pessoal, a prática de atitudes desprendidas, pensamento elevado em bondade seriam recomendadas a estarem envolvidas nas questões sociais e políticas e há uma razão importante para isso: Pessoas em viagens espirituais são adeptas da mudança, da transformação. E se você pode promover uma mudança na sua vida, isso pode ser estendido a um grupo maior de pessoas.

Dezessete mil crianças morrem de fome a cada dia na terra, nós somos a única espécie no planeta, que sistematicamente destrói o próprio habitat. Esses fatos só vão mudar quando trazermos para a resolução dos problemas homens dotados de coração mais comprometido com o amor, com a inclusão e com a bondade. É de um envolvimento que transforma as questões morais e sociais que estamos falando. Sem essas coisas, o mundo não se conecta mais.

Nós evoluímos a um ponto de estarmos prontos para efetivar profundas mudanças. Mas por que elas não acontecem? Talvez porque muitas pessoas ainda insistem em não participar de atividades políticas justamente porque não acreditam na mudança. Porém precisamos contribuir com reflexões e inserções sérias, para que possamos começar uma nova conversa sobre política, com uma nova visão de mundo civil e espiritual; adotando valores humanitários como o princípio organizador da civilização humana e não a economia, como tem sido.

Não devemos desviar o olhar do cenário político, seja ele qual for. Podemos sempre levar a perspectiva do amor, compaixão e respeito para nossas ações, até que cada pessoa possa encontrar o seu próprio senso de identidade dentro do mundo. Se as coisas da política perseguem o bem comum, onde a política falhar, a espiritualidade pode intervir para trazer equilíbrio e harmonia e construir uma organização humana de natureza perfeita.

Erasmo escreveu “A educação do príncipe cristão” em 1515 e nos ensinamentos diz ao príncipe que para ser um ótimo governante, ele não poderia ser superado naqueles bens que verdadeiramente lhe pertenciam: a grandeza de alma, a temperança e a honestidade. Quando o príncipe lhe pergunta qual seria a sua cruz, a resposta foi a seguinte: “ A sua cruz é não praticar o mal contra ninguém”.

O bem-estar da liberdade compensa os machucados

Jean-Jacques Rousseau, nascido em Genebra, na Suíça, foi um dos mais consagrados filósofos no século XVIII. Suas obras inspiraram reformas políticas e educacionais. Em sua filosofia da educação, enalteceu a educação natural, baseada em um acordo livre entre o mestre e o aluno.

Acabo de ler Emílio, um livro publicado em 1762, que embora criticado por setores pedagógicos, que citam a obra como uma leitura equivocada para os educadores, apresenta uma reflexão romanceada de como educar permitindo que as crianças se desenvolvam de forma independente e criativa, em contato com a natureza. A criança aprende valores que a tornaria comprometida com a sociedade, sem nenhuma idéia de superioridade, valorizando a liberdade e igualdade. Emilio soa como um tratado sobre as qualidades naturais do homem, sua bondade e liberdade.
A educação das crianças colocada como prioridade pelos pais, que teriam o dever de educar os filhos, seres humanos sociáveis e cidadãos aos olhos do Estado. O contraditório aí é que o próprio Rousseau não o fez. Pai de cinco filhos, entregou-os todos a um orfanato.

Entretanto, o desafio de educar Emilio é ligar intrinsicamente os valores corrompidos da cultura aos preconceitos e destruí-los para então buscar a simplicidade da natureza e uni-la às necessidades da sociedade. O Emilio, de Rousseau é criado no campo, tem vida simples, o que facilita o desenvolvimento do bem maior da formação humana para o pensador suíço: a liberdade. “Em vez de deixá-lo estragar-se no ar corrompido de um quarto, que seja levado diariamente até um prado. Ali, que corra, se divirta, caia cem vezes por dia, tanto melhor, aprenderá mais cedo a se levantar”. ensina Rousseau.
Rompendo padrões conservadores, à criança não se deve impor o que quer que ela seja. Ignorando todos os modelos de educação, Rousseau proclama que a criança não tem que se tornar outra coisa senão naquilo que ela deve ser; “Viver é o ofício que eu quero lhe ensinar. Saindo de minhas mãos ela não será, reconheço, nem magistrado, nem soldado, nem sacerdote; antes de tudo ela será um homem”.
Rousseau chama a atenção para os primeiros sentimentos da criança, que quando mal dirigidos fazem com que elas deem os primeiros passos para o mal.
Por isso nas brincadeiras e jogos Emilio é ensinado a desenvolver o raciocínio, a criatividade e sobretudo agir com bondade.

Rousseau evoca a compaixão, o bom coração como sentimentos que devem ser cultivados por Emílio, assim como o respeito profundo por si mesmo e pelo outro. Forma-se o bom coração controlando a natureza humana, sondando as emoções, as paixões, as habilidades, as virtudes estampadas na alma.
A educação segue a tendência, hoje moderna, da interatividade, é espontânea, divertida e contextualizada para promover a felicidade, sem imposição institucional. Emilio aprende que deve ter um perfil que se oponha aos dos jovens de vida cotidiana deteriorada; deve ter vigor de um atleta, força no corpo e na alma e a razão de um sábio. Deve seguir as leis eternas da natureza, escritas no fundo do seu coração pela consciência e pela razão. A liberdade em Emílio está no seu coração de homem livre; ele a carrega consigo por toda parte.

No livro Emílio, ou da educação, Rousseau mostra que a educação pode promover no homem um processo de preservação de suas condições naturais como a liberdade e a autenticidade. Ocupando o aluno imaginário com todas as boas ações possíveis, Rousseau apresenta no final Emilio, um homem total, virtuoso, o homem natural que aprendeu a viver em harmonia com a natureza e com seus semelhantes.

Perfeitamente Imperfeitos

Surpreendentemente, os tapetes persas legítimos quase sempre apresentam imperfeições intencionais. Na verdade, há um velho ditado persa que diz: “Um tapete persa é perfeitamente imperfeito e precisamente impreciso”. Esta noção de intencionalmente incluir pequenas irregularidades, além de manter na linha de produção os tecelões humildes, é derivada da crença religiosa de que Deus é o único ser perfeito e que a tentativa de produzir algo de perfeição absoluta seria ameaçar a posição do Todo-Poderoso. Você poderá encontrar nos grossos tapetes persas uma cor principal que sofre variação de tom de uma extremidade a outra. Estas imperfeições, porém, conferem aos tapetes o caráter e a autenticidade.

   A mitologia grega criou seus deuses com aparência humana, para apresentá-los como seres sujeitos à imperfeições, suscetíveis às paixões e intempéries. Não há lugares ou pessoas perfeitas e não há exceção à essa regra. Podemos ser no máximo um “insight” do bom comportamento humano. O que é perfeito, talvez a natureza, não é criação do homem que aqui vive.

   O que existe é a pressão para que sejamos perfeitos. O perfeccionismo é como um relatório interminável, que mantém as pessoas completamente envolvidas numa auto-avaliação eterna, colhendo frustrações, ansiedade e depressão. Levado ao extremo, o perfeccionismo fica no meio do caminho da competência. Isso prejudica o desempenho, em vez de ajudar. A vida é temporária e condicionada a imperfeição. Aceitar a verdade da imperfeição é saudável e mesmo libertador. Não tem nada a ver com descuido e desleixo. Significa baixar a guarda e desapegar da idéia rígida e inflexível sobre como as coisas devem ser.

   Poderíamos pensar em nossas imperfeições como impedimentos, mas as imperfeições são uma grande parte do que somos e minhas imperfeições não são apenas um bom instrumento de triagem, elas são realmente as chaves para a convivência comigo. Na minha vulnerabilidade, autenticidade, coragem, e, por vezes desconfortável nível de imperfeição, está o ingrediente secreto. Ao expor de forma corajosa as minhas imperfeições, liberto os outros para fazerem o mesmo diante de mim.

   E você é corajoso o suficiente para compartilhar suas imperfeições? A perfeição é uma obsessão para muitas mulheres e um negócio lucrativo para os cirurgiões plásticos. Entretanto, seguimos o curso, com ruga, celulite e pele flácida aqui e acolá. Por que prender-se a um padrão de perfeição de beleza se o mesmo é inatingível? Depois repara; existe beleza na imperfeição!

   Angustio-me quando as coisas começam a parecer muito perfeitas, como se isso despertasse a minha desconfiança e me fizesse gritar: “eu não confio em você até você deixar-me ver a sua sombra, sua vergonha, sua dor, tristeza, decepção, a arrogância, o julgamento, a rigidez e constatar em ti a imperfeição que marca todos nós. Somos seres imperfeitos, por isso não há vantagem em julgarmos a nós mesmos ou um ao outro, e na compreensão desta verdade está a aceitação da imperfeição, que deixada à mostra, torna-nos mais livres

Quando viver pode ser simples e prazeroso

A vida é cheia de prazeres simples, cuja lista completa seria bastante extensa. O prazer é a gratificação dos sentidos ou da mente, é a sensação agradável, a felicidade produzida pela expectativa ou pelo gozo de algo bom. O prazer representa uma amostra dos acontecimentos bons que ocorrem todos os dias.

Podemos experimentar a sensação de prazer em pequenas coisas, como por exemplo, quando deixamos o olhar vagar inadvertidamente pela rua e fitamos alguém do sexo oposto que cruza o nosso caminho. A troca de olhar causa uma sensação de prazer momentânea, uma curiosidade que dura uma fração de segundo, mas que faz bem. Assistir pessoas passando e contemplar os passos seguros, incertos, silenciosos, ruidosos, de pessoas altas, pessoas pequenas, magras, gordas e iguais. Cada movimento pende para um lado, tem um compasso diferenciado e expressões difusas. Num cenário natural esse conjunto de pessoas, rebolados e expressões produzem efeito hipnotizador.

Lembrar e contar histórias reais e engraçadas. Um dos papéis mais atraentes de um grupo de amigos é o do contador de histórias. Todos gostam de compartilhar histórias das conquistas que geram sempre uma curiosidade quase maliciosa. É gratificante estar entre amigos ouvindo ou contando uma história verdadeira, recheada de renúncias, desencontros que causa risos anos mais tarde. Ficar na cama em dia de chuva, ouvindo o barulho leve do vento batendo na janela, você estica e fica em perfeita sintonia com seu travesseiro e o quarto se torna um santuário. O único lugar que você gostaria de estar naquele momento.

Ouvir música causa um bem estar indescritível, a melodia transporta as pessoas de um mundo ao outro. Não importa qual seja o cenário, ouvir a música certa no momento certo é um desses prazeres simples da vida que imediatamente levanta o espírito, como um convite para dançar. Algumas músicas são para certos momentos e quando o som chega aos ouvidos, a vida ganha um significado mais cristalino. Não há prazer mais simples e satisfatório do que relembrar os velhos tempos com os amigos, ouvindo a música da época. Os melhores momentos das nossas vidas foram passados com amigos, com fundo musical e muita cena.

Contemplar uma bela paisagem pela janela do carro… o carro segue e o olhar se perde como se fosse possível trazer a imagem distante num zoom. A cabeça pende para o lado de fora. O cheiro das flores, da vegetação, o verde. O cenário do sonho bem ali, mas faltou olhos, tempo e paciência para enxergar. Receber um elogio inesperado num dia sem grande brilho, sem grandes acertos faz o dia tornar-se especial. A espontaneidade dá credibilidade ao elogio, além de elevar o valor das palavras.

Fazer alguém sorrir para aliviar o estado de estresse diante das cobranças cotidianas. Emendar uma frase tola, provocar o riso só para ajudar a descontrair e desconstruir o clima pesado de ansiedade. A vida é extraordinária nos momentos em que você está rindo tanto que mal consegue respirar. Este momento de riso profundo seduz, encanta e define valores mais positivos para o coração. Terminar com as sessões de adiamento e de desculpas e começar a caminhar, a exercitar-se. No final bate uma sensação de realização, de bem-estar com o corpo e mente, que traz leveza à vida. É prazeroso desafiar a preguiça. É algo assim…você no topo das prioridades. E se a família vem junto melhor ainda!

Passear de mãos dadas com alguém que você ama é um sutil, porém sensual contato físico, um gesto simples, romântico, que se não automático, alimenta a sensação de felicidade e proteção. Milhares de outras atitudes simples trazem sentimento de felicidade, que embora momentâneo torna a vida mais prazerosa e agradável. Olhar a vida com olhos de quem sabe viver é um exercício diário que devemos aprender a praticar.