Institucionalização da incerteza e as eleições

A democracia é um método de seleção de governantes através do voto popular, por isso o “futuro nunca está escrito, porque só o povo pode escrevê-lo”, disse Adolfo Suarez, primeiro –ministro espanhol (1976 -1981). O alicerce da democracia é mesmo um mercado livre, onde várias forças políticas competem entre si e produzem resultado temporário para preenchimento dos cargos e os perdedores não desistem do direito de participar das próximas e próximas eleições. A incerteza é inerente à democracia. Os analistas sabem o que é provável e possível, mas não são capazes de prever o que vai acontecer.

O incerto é algo que existe, mas não tem suas dimensões bem definidas, o incerto pode ser uma hipótese e como algo que não é conhecido, deve ser avaliado com prudência. Essa imprevisibilidade é o que atiça e atira as pessoas a disputarem o jogo eleitoral. Porque? Uns porque acreditam no debate racional, na possibilidade de implantar programas para melhorar a vida das pessoas, outros acreditam na estrutura institucional, que permitirá que eles realizem seus interesses através de negociações e acordos com os líderes políticos e alguns outros, por questão de debate ideológico; aquela historia de perder, mas não subverter-se ao sistema vigente.

A perspectiva de um futuro de vitória também ajuda a aceitar a derrota, pois as instituições democráticas são mecanismos de estabilidade política, que mantém regras confiáveis, que possibilitam a exposição das ideias, dá visibilidade a qualquer um e com isso as forças políticas derrotadas asseguram tempo na TV, participação no fundo partidário, etc… O resultado do jogo democrático das eleições é incerto porque é determinado pelas estratégias das forças políticas que disputam as eleições.

O arrombo de vitórias esmagadoras, as chapas puras tem sido raras ultimamente, o que se vê são as composições, coalizões e o cuidado para não lançar-se prematuramente na disputa.
Na ditadura, o governante tem a certeza dos resultados e toda pessoa que o cerca também sabe que os inimigos não serão incluídos no governo, na democracia, isso raramente acontece. A fonte da incerteza se apresenta para todos os participantes, onde nem mesmo a riqueza é fator determinante para a vitória, mesmo assim a sedução do jogo atrai muitos atores. Quem não se lembra de nomes anunciados de antemão governadores, senadores, que ficaram para trás após abertura das urnas? Pois bem, se os resultados fossem facilmente predeterminados os grupos não precisariam se organizar para lançar candidatos.

É incrível como a institucionalização da incerteza move o tabuleiro político e faz com que todos apostem mais fichas no jogo. O que pode virar o jogo político é a capacidade de organização da campanha e é aí que muitos partidos e candidatos se perdem. O autor Adam Przeworski, que escreveu “Democracia e mercado: reformas políticas e econômicas na Europa Oriental e na América Latina, explorou bem o grau elevado de incerteza no processo de eleições, pontuando que a democracia é um sistema em que os partidos perdem eleições e ponto.

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