Tirei um momento silencioso para avaliar o que realmente tocou-me no ano de 2013. O pensamento percorreu os caminhos tortuosos dos dias que se passaram e que refletiram de forma profunda na condução da minha vida, pois trouxeram lições que aprendi, geraram expectativas que não sei onde vão chegar e confesso sem sombra de dúvidas, que fui marcada pelo pronunciamento inspirador de Pepe Mujica, presidente do Uruguai, na 68 Assembleia Geral da ONU em Nova York setembro passado.
O Brasil havia acabado de passar um momento meio mágico de mobilizações, as pessoas haviam despertado da indiferença e imobilismo e foram às ruas clamando por mudanças, pelo estabelecimento de uma nova forma de democracia. Bem parecia que finalmente as coisas iriam tomar um rumo outro, que não fosse a aceitação da corrupção e a acomodação com a velha forma de fazer política.
O indício era de surgimento de uma nova era; a luta do povo e não de uma classe, contra o Estado, considerado corrupto e omisso com o provimento de bens e serviços considerados básicos em qualquer democracia do mundo. Os manifestantes isolaram a classe política e os partidos de direita, centro e esquerda, por acreditar que estariam em colapso, mas nenhum novo líder surgiu dos movimentos, nenhum sindicato assumiu ou comprometeu-se com as mudanças.
Ė certo que precisamos de reforma política, ė igualmente certo que há muitos políticos que atendem apenas as demandas de seu interesse eleitoral, entretanto, será fácil perceber a profundidade dos protestos após as eleições gerais em outubro do próximo ano. Vamos ver se os políticos saberão interpretar o espírito dos protestos e se povo será ouvido e considerado o elemento central das possíveis reformas.
No discurso de Josė Mujica um novo mundo ė absolutamente possível, porque há uma demanda por renovação moral na inquietação civil desse tempo moderno.
Pode parecer utópico, mas eu espero que sejamos capazes de viver com mais humanidade, menos desperdício e sem preocupação demasiada com a acumulação de bens. Nem tudo pode continuar sendo esculpido pelo poder financeiro. Torna-se imperioso conseguir consenso para desencadear solidariedade aos mais pobres e abolir a violência das guerras urbanas que envergonham o mundo. O que precisamos fazer para conseguir isso? Pensar no todo, em todas as formas de vida, incluindo a vida humana com toda a dificuldade para manter o equilíbrio frágil que nos sustenta. Ninguém ė mais do que ninguém, nossas diferenças nos aproximam e a tolerância ė essencial para nos reconheçamos um no outro. Na política aprendemos que os governos devem representar o bem comum, a justiça e a equidade, sem nenhuma deformação. Ninguém deve se considerado pequeno e fraco.
Este é nosso desafio e nosso dilema. Como manter esta nova dinâmica que inspirou as redes sociais a reproduziram novas conexões e circulação de idéias? Os brasileiros aprenderam realmente a se organizar e demonstrar descontentamento com o distanciamento do Estado? Esta tensão latente não pode virar ressentimento.
Que em 2014 sejamos capazes de dar sustentabilidade aos nossos sonhos, que definitivamente compreendamos que somos os únicos responsáveis pela mudança que queremos ver acontecer nas nossas vidas.