Empobrecimento existencial

“Diga-me quais são os seus valores e eu lhes direi qual é a sua identidade”
Zygmunt Bauman

As identidades são mutáveis e estão em contínuo processo de construção, desconstrução e reconstrução. Essa falta de identidade fixa é um produto da pós modernidade. Esse processo de despersonalização do indivíduo, imerso no oceano da indiferença existencial, é a característica por excelência da ideia de uma vida precária, em condições de incerteza constante. A insegurança nos estimula a assumir uma ação defensiva. Preocupa-me saber o que estamos fazendo com o nosso tempo neste planeta e como escolhemos viver nossos momentos aqui.

Nada contra a beleza, nada contra cuidar-se. Contra o exagero, o apego às futilidades e a prática desmedida de não aceitar-se. Vejo pessoas aturdidas, gastando a maior parte de seu tempo e dinheiro para tornarem-se outras pessoas.
O processo de construção da identidade é vendido como algo que é divertido, como algo que deve ser prazeroso e como algo que é indicativo de liberdade individual. Basta olhar para os vários perfis das redes sociais e sites para ver que a expressão da identidade é algo associado ao prazer e a aparência. Tornou-se uma parte normal da vida gastar uma quantidade considerável de tempo, esforço e dinheiro na construção, manutenção e transformação contínua de si mesmo. Embora possamos pensar que somos livres, na verdade somos obrigados a nos engajar num processo de reinvenção contínua, porque nossa vida social está condicionada a um fluxo muito acelerado.

A maioria das pessoas estão insatisfeitas consigo mesmas. Reclamam dos cabelos, do cheiro, do olhar, dos peitos. Isso não deve ser assim. Nossa cultura está cheia de mulheres de rostos plastificados, sorrisos sem expressão alguma. Homens de emoções engarrafadas, que compram relógios e carros caros, esperando que um dia isso os faça sentirem-se homens especiais.
Esse descompasso entrou nos relacionamentos. A mesma atitude crítica, o julgamento de que o outro nunca é bom o suficiente, impede que as pessoas vivam seus amores plenamente. Parece que algumas pessoas nunca vão encontrar a paz de espírito, nunca descobrirão quem realmente são e todas as tentativas de se encontrar através da reinvenção de si mesmos nunca será satisfatória.

É assim que nós deparamos com a maior tragédia do nosso tempo: a futilidade, que faz com que as fofocas de celebridades sejam mais importantes para as pessoas do que a fome, a guerra e a doença em todas as partes do mundo. Porém, ninguém é forçado a nada, as escolhas vão sendo feitas ao longo da vida e no final, sem surpresas, somos o que construímos em corpo e alma. Se todos soubéssemos o quão poderosos e bonitos podemos ser, não viveríamos a alimentar o potencial caótico dentro de cada momento dessa curta e emocionante viagem que chamamos de vida.

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