O espírito de não apoiar, de não posicionar-se de lado algum de determinado jogo ou disputa é uma atitude temerária, sobretudo porque a imparcialidade é o mesmo que dizer: “isto não é problema meu” e esta frase remete a indiferença ou a falta de ordem num determinado momento em que cada um faz o que quer.
Numa sociedade em que se convive com a supervalorização da exposição, da intervenção, não é possível pensar num cidadão absolutamente divorciado das questões eleitorais. Por essa razão a pseudo neutralidade é destrutiva e não possui a força necessária que o argumento deve ter para convencer um eleitor a votar ou não em uma pessoa. A postura neutra no campo político tanto pode ser usada para o bem quanto para o mal, porque quando a vontade não é manifesta, recrudescem as críticas, cria-se a divisão, a interpretação maliciosa de um silêncio traiçoeiro.
O que fazer então quando não basta admitir que todos nós somos tendenciosos mesmo quando assumimos uma posição de não participação em determinados processos? A pretensa neutralidade não seria apenas um subterfúgio para manter a cordialidade com todos os lados envolvidos na disputa? Como alguém pode isolar-se com relação a um assunto que pode influenciar substancialmente a vida das pessoas? Neutras devem ser as instituições humanitárias, que precisam operar dentro de contextos sem restrições ideológicas. Neutralidade é a posição mais rentável que político pode ter em relação a uma disputa eleitoral, porque a tomada de posição é impopular para um lado e pode custar caro. Os candidatos não apenas querem a declaração de apoio dos grandes líderes políticos, mas também serem agraciados com algum recurso financeiro.
Na contra mão da neutralidade, quando ficar invisível é a tônica do negócio, é moda, uma aberração ideológica; o palanque ampliado, com candidatos realizando atos públicos da campanha, sem ter um palanque específico em alguns estados. Isso vem ocorrendo desde as eleições gerais passadas. Com a institucionalização dessa modalidade de “swing eleitoral”, onde planos de governos não foram construídos juntos, a presumida neutralidade cai em desuso. Há partidos que elegantemente chamam de independência esta prática de liberar seus filiados e candidatos a qualquer palanque que ofereça um diferencial momentâneo ou “após a vitória nas urnas”.
O senador Cristovam Buarque, voto vencido, quando seu partido optou ora pela neutralidade, outra pela pluralidade de palanques, não poderá manifestar seu apoio a qualquer candidato a presidente da república. O senador justificou aos jornalistas: “Eu vou respeitar a decisão do diretório do meu partido, que por ampla maioria tomou essa decisão. Não estou em cima do muro. Estou proibido de dizer de que lado do muro eu estou. Esse não é assunto para jornal, é para livro de História”.
Vamos ver como vai ser conciliar o aspecto de neutralidade de um lado e a pluralidade dos palanques, do outro. A pluralidade de palanques já está em prática, quanto a neutralidade…os mais respeitados filósofos dizem que ela não existe ou pelo menos, nesse caso, não deveria existir.