Impressionante e inexplicável o silêncio que envolveu a conversa sobre as mudanças climáticas e seus efeitos devastadores sobre a natureza e consequentemente sobre nossas vidas, ocorrida em Lima, no Peru. Apesar do clima no planeta nunca ter sido estável, as diferenças e divergências sempre existiram, a China continua sendo o país que mais polui, a culpa, porém, recai agora sobre os países em desenvolvimento, onde comprovou-se que metade dos gases estufa emitidos no planeta saem desses países, que embora instigados a assumirem suas responsabilidades, anseiam continuar crescendo a despeito da destruição da natureza. O tempo esgota-se e ninguém lança um olhar esperançoso sobre o problema. O mundo está num silêncio conveniente.
Mas por que devo eu preocupar-me se tudo, alienavelmente tudo que constituía a vida natural e pertencia a criação de Deus agora pertence a soberania da estrutura dos Estados? Houve um tempo em que vida e política não necessariamente se misturavam. A vida inquestionável e tutelada por direitos básicos estava acima da esfera política.
Foucault identifica que a vida do homem e todos os processos inerentes ao ser humano passaram a fazer parte do cálculo do poder. O controle político sobre os indivíduos não se dá somente pela consciência ou pela ideologia, mas a partir do corpo, do biológico. A vida é absorvida pelo Estado, que visando ampliar e fortalecer as suas forças, passa a gerir politicamente a vida dos homens, controlando os espaços públicos, ditando regras, estabelecendo acordos, intervendo nas ações individuais e coletivas, num tempo em que parecia moderno a máxima de governar menos, para uma eficácia máxima. A sociedade, porém, não se opõe, entrega-se.
Comportamento contraditório num momento em que o homem moderno conquista direitos universais e o domínio da sua vida entra em questão. A vida, o corpo, a saúde, as necessidades, a reprodução, que antes faziam parte da esfera particular da vida, transformam-se nas questões políticas por excelência.
O Estado ocupa-se de tudo, permeia todas as possibilidades de estabelecimento de novas práticas de economia, de cultura, de vida sustentável. Tudo é objeto de estratégia, de tomada de decisão, de implementação de políticas públicas para adentrar o sonhado Estado do Bem Estar Social, onde o Estado em si, exerce a representação dos indivíduos. O usuário pode até fiscalizar os serviços, mas é o Estado que é colocado para coordenar a produção dos bens sociais.
A ação política anulou a capacidade do homem de produzir reação a partir de seu próprio sentimento ou de sua necessidade. O cidadão espera pelo Estado, que precisa ordenar que se economize água, para que ele o faça.