Desembarquei sozinha em Copenhague. Era agosto de 2009, ainda verão, com temperatura entre 18 e 22 graus. Quinze dias de férias, no país dos meus sonhos. O reino da Dinamarca, outrora o pais dos vikings, depois invadida e ocupada pelos alemães, tornou-se livre em 1945; está situada entre a Europa e a Escandinávia, é uma nação próspera e culturalmente muito rica. Impossível descrever Copenhague, a cidade da famosa escultura da pequena sereia, numa só palavra, porque a cidade situa-se entre vários adjetivos: é linda, liberal, caríssima (para meu padrão), sofisticada, próspera e pitoresca. A bucólica Copenhague também tem trens elétricos, o Blue Planet Park, o maior e mais moderno aquário do mundo, o Tivoli Park, os bares e cafés da boêmia Kongensgad, o renomado restaurante Noma, premiado por 3 anos consecutivos como o melhor restaurante do mundo.
Sem roteiro, ia andando. Desde o belo porto de Copenhague, o Royal Theatre, The Opera, até a Universidade de Copenhague, que orgulhosa ilustra a história de seu filho famoso, o filósofo Soren Kierkegaard, considerado o pai do existêncialismo, que incorporava reflexões filosóficas na relação existencial do ser humano com o mundo e consigo, o que faz dele um autor angustiado e desconcertante.
Dentro de Copenhague está Christiania, uma vila que se auto proclamou uma cidade livre. Um grande área privada, onde o consumo de drogas e todo tipo de sexo é praticado livremente. Vale enfatizar que este país absolutamente liberal é, na sua essência, composto por 90% de protestantes luteranos, sem nenhum analfabeto. De trem fui de Copenhague para Esbjerg.
Uma das maiores cidades da Dinamarca, localizada á beira do Mar do Norte. Esbjerg virou a base para novas explorações. Cidade portuária, moderna, próxima da milenar cidade de Ribe, com suas três belas Catedrais católicas, (na Dinamarca só existe cinco) datadas de 1175. Ribe hospeda o melhor museu da cultura da era dos Vikings, cujo estilo de vida é reproduzido em encenações nas ruas. De balsa, fui para a Ilha de Fano, onde é proibido a entrada de veículos. Bicicleta alugada para trafegar pelas ladeiras, ruas estreitas e lotadas, num final de semana mágico de solstício de verão. Sol até as 22 horas. Por fim, fui a Billund, onde está construído o segundo maior aeroporto do país e a matriz da lendária fábrica de brinquedos Lego.
A Dinamarca é reconhecida pela equidade, políticas sociais universais, como o sistema de saúde e educação gratuitos e salário mínimo elevado, onde segundo pesquisa da ONU, vivem as pessoas mais felizes do planeta, considerando estilo de vida, ambientes familiares e culturais e respeito à natureza.
Paradoxalmente um jovem dinamarquês de origem árabe, de apenas 22 anos causou ranhuras irreparáveis nesta sensação de felicidade, atirando contra o Centro Cultural, onde reuniam-se em seminário para discutir a liberdade de expressão, o Ministro de Relações Exteriores da França, intelectuais e o artista sueco Lars Vilks, considerado o alvo do ataque, por que desenhou caricaturas de Maomé em 2007. Horas depois o jovem disparou contra uma sinagoga. O ataque à liberdade da Dinamarca era questão de tempo, porque a tensão existe desde 2004, quando um radical muçulmano assassinou o diretor de cinema Theo Van Gogh, um critico do fundamentalismo islâmico e no ano seguinte, um cartunista dinamarquês publicou charges do profeta no jornal Jyllands-Posten, o que gerou uma onde de violência no exterior, com várias Embaixadas da Dinamarca incendiadas pelo mundo afora. É senso comum afirmar que estamos diante de uma crescente crise de violência global que tem o potencial de se agravar e escapar ao controle dos governos.