Estranho vento à direita

A situação desesperada da época em que vivemos enche-me de esperança”. Escreveu Marx em carta ao editor Arnold Ruge, em 1943.

Há um vento soprando num movimento significativo empurrando o país para o conservadorismo. É impressão minha que mesmo os jovens estão se tornando conservadores em quase todos os aspectos das discussões que permeiam os temas da contemporaneidade? Esta é uma perspectiva percebida por vários analistas do momento complexo que vive o Brasil, que em ambos os lados do espectro político conta com indivíduos bons e maus, uns levando ligeira vantagem sobre os outros. O certo é que as eleições do ano passado consolidou uma inflexão no perfil político dos deputados federais eleitos. Os deputados conservadores, considerando as filiações partidárias, são responsáveis por mais da metade dos assentos na Câmara dos Deputados. São parlamentares que promovem os interesses dos grupos cristãos e evangélicos, do agronegócio e a chamada bancada da bala.

Os conservadores estão recuperando espaço no Congresso Nacional, e no lugar dos tradicionais coronéis, estão os líderes evangélicos, empresários e os militares, que se filiam a partidos pequenos, com viés anti esquerda, com ideologia e programas completamente inócuos. Na outra ponta, segundo o cientista político, Adriano Codato, professor da UFPR a maioria dos eleitores avalia a política de acordo com a informação que lhe chega pelos telejornais e não hesita em se declarar conservadora ao debater temas como aborto, relacionamento homoafetivo e defender inclusive o aberrante retorno dos militares ao poder. O brasileiro mediano representado pela classe C está dividido. Valoriza as questões sociais, que são bandeiras do governo, das quais se beneficia e questões de moralidade, que são bandeiras dos partidos comandados por religiosos. Uma lástima constatar que até o Sudeste rico e desenvolvido está tornando-se conservador.

A subida do tom de campanhas moralistas pode travar o processo de transformação da sociedade brasileira no momento em deveríamos estar caminhando apressados no sentido de nos tornarmos mais livres e engajados. Porém, no meio do caminho um beijo gay encontrou uma população enfurecida e intolerante, que quase parou o país para repudiar o beijo dado numa novela. Mas o que representa uma novela no contexto da educação e dos valores familiares? O que tem uma novela a ver com a orientação sexual dos seus filhos? Não gosta? desliga a televisão! Mas não!

O indivíduo precisa extravasar com força seu discurso moralizante para assim, crescer a estatística dos valores conservadores que retrocede avanços e assombra mais do que orgulha. Se quando um fala, o outro tem que retrucar com veemência, não sobra tempo para a reflexão.

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