Flores do mal

Baudelaire, um dos maiores poetas do final do século 19, graças à sua genialidade com as palavras, escreveu em 1857 o livro as Flores do mal. O livro foi mal compreendido, proibido e recolhido. Em 1861 volta em segunda edição, com quadros da vida cotidiana de cidadãos marginalizados na Paris moderna, e a vida é colocada como cena melancólica, dolorosa e difícil.

A beleza em Baudelaire não combina com a normalidade e a modernidade não era primariamente uma designação para um período histórico. Era uma aspiração estética, uma vida voltada para a superficialidade, para a aparência e valores volúveis.

A poesia de Baudelaire exprime igualmente essas convulsões e angústias que assaltam os corações em todos os tempos. Eis a relação da sua poesia, na aparência tão sofisticada, com a vida de sentidos despedaçados.

O poema de abertura do livro Flores do Mal oferece provavelmente o retrato mais aterrorizante da versão do tédio, da tristeza. Ele afirma que, de todos os males, talvez seja, a tristeza, o mais vil de todos. Em contraste com outros sentimentos, a tristeza não faz alarde, não dói no peito, não chama a atenção para si.

Lentamente faz sucumbir a preciosa vontade de reagir. A partir daqui, os limites normais são apagados e as vítimas, quando podem saem em busca de algo para sentirem-se vivas. O céu é negro e torna o dia mais escuro que a própria noite. O abraço que envolve a todos, pode indicar a condição de estrangulamento. Dias e noites igualam-se. Em dias assim, tão obscuros, a esperança parece minguar e o futuro é inalcançável.

Provocativo, Baudelaire avança a partir dos retratos chocantes da tristeza como um monstro, que requer um tipo diferente de luta, onde a falta de vontade de viver é representada como um componente interno de uma vida criativa, que gira fora de si, num presente fugaz e futuro irrealizável.

A vida entristecida é tão apenas a personificação da morte em vida. Ao mostrar a degradação causada pela modernidade, pela frugalidade, ele mesmo passageiro de uma viagem efêmera, demonstra riqueza ao conseguir unir à degradação interior à figura do belo.

Baudelaire escreveu sobre um tempo em que não há esperança, sobre um tempo em que não se pode recriar a liberdade, sobre um tempo em que a tentativa de reconstruir uma vida justa lateja em dor. Tão contemporâneo!

Artigos e discursos sobre a tristeza, a perda da vontade de viver, tem ganhado grande audiência, no entanto estamos assombrados com este tema que assinala a entrada em um mundo de possibilidades inexploradas. E a alma é uma coisa tão frágil e impalpável, que muitas vezes é tapeada pelo mal, que vem suavemente travestido em flor.

Baudelaire, ele próprio, um homem angustiado e melancólico. Boêmio desde os 18 anos, Baudelaire vive um período  nas ruas, apaixona-se por uma prostituta, contrai doenças, perde-se e morre aos 46 anos.

A vida é muito curta para ser pequena

Apesar de ouvirmos sempre que a vida é um teatro, que não permite ensaio, que vem sem manual de instruções, o Ministro do Supremo, Luís Roberto Barroso, que tem sido convidado a ser patrono de turmas de Direito, sobretudo da UERJ, onde ministra aulas há décadas como professor titular, chama os alunos de filhos espirituais, enumera as boas ações que devem praticar segundo um manual para a vida, cuja oralidade busca palavras simples, porém de efeito profundo, para a reflexão dos jovens.

Dá exemplos, cita parábolas bíblicas, trechos de Kant, numa tentativa monumental de dar vigor e esperança para quem está se apresentando para a vida adulta.

Ao ler os discursos não resisti reproduzi-los, com revelada pretensão, à minha maneira, ora acrescentando ingredientes éticos que considero indispensáveis à uma vida plena e harmoniosa, ora revelando a insensatez do mestre adentrando a vida pessoal e espiritual dos pupilos.

Mas isso é também fruto do afeto, da ansiedade de condensar os ensinamentos num guia para se ter às mãos nos momentos tempestuosos. Sabemos que a vida é plural, que a felicidade é vivida de forma diferente por cada pessoa e que as verdades são descobertas ao longo da caminhada.  É preciso estar atento, saber ouvir todos os lados da mesma história.

Percebo que muitas vezes não sabemos quem está certo porque não sabemos interpretar os fatos. Temos a tendência de não vermos as coisas como elas são, nós as vemos como nós somos. Portanto nunca formemos uma opinião sem antes ouvir todos os lados. Pois a verdade não tem dono e pode ter várias faces.

Diz que não somos dispensados de agir com integridade nem quando somos acometidos por coisas tristes. Portanto, independente do que estiver acontecendo à nossa volta, devemos fazer o melhor que pudermos, sermos bons e corretos, mesmo quando ninguém estiver olhando. É sábio pavimentar o caminho sem esquecer que ninguém é bom demais, que ninguém é bom sozinho e que precisamos aprender a ser gratos.

Certamente alguns se reportarão ao advogado constitucionalista, como o ministro que defendeu pesquisas com células tronco, a equiparação da união homoafetiva à união convencional, que seria um excelente ministro na Suécia. Intrigas? Má vontade com o ministro? Não sei. Mas não é disso que estamos falando aqui e sim, do breve manual de instruções que afetuosamente elaborou para seus alunos.

A má vontade emperra a reforma política

As discussões sobre a reforma política têm dominado a agenda dos políticos brasileiros desde que a democracia foi reintroduzida no Brasil, como o único instrumento viável para a renovação do ambiente político, mas igualmente há décadas, encontra-se emperrada nos corredores da Câmara Federal.

Sem entendimentos, exibindo conteúdo fatiado e com viés de autoritarismo, o processo de reforma tem sido conduzido de forma caótica. Até agora, batem sempre na mesma tecla, o fim da reeleição para os cargos do executivo, quando vários outros temas considerados de suma relevância, tais como; a redução do número de partidos, o fim do financiamento empresarial às campanhas, regulamentação mais sérias as formas de coligações, para que elas não sirvam apenas para somar tempo no horário político na TV e a unificação das eleições, devem aguardar na prateleira do plenário.

O financiamento empresarial de campanhas, deve ganhar contornos proibitivos. Isso á foi tentado antes , não avançou. As mesmas grandes empresas e empreiteiras continuarão dando as cartas na política brasileira, de outras formas. porque entre o financiador e o financiado, ficará a dívida perversa e o ônus da retribuição, num universo gigantesco.

O Brasil tem 32 partidos, segundo o site do TSE. A cada ciclo de 4 anos, com eleições regulares de dois em dois anos, o Brasil elege 59.500 vereadores, 1.059 deputados estaduais, 513 deputados federais, 81 senadores, 27 governadores e um presidente da república. O povo, que deveria estar na base do debate, apenas abana a cabeça consentindo com o que o Congresso decide. Para deputados e senadores, a reeleição continua valendo, lógico ou você acreditou que os deputados votariam contra algo que os favorece?

A falta de empenho e má vontade política são claras. Os parlamentares estão atuando para dizer que tentaram, mas não vai haver avanço significativo.
Os partidos estão acomodados do jeito que as coisas estão. Vão adiando, protelando até onde puder para não fazer efetivamente uma reforma política que possa decrescer os favorecimentos.
Sabíamos que iriam emperrar a proposta porque para os políticos, a discussão básica passava pela manutenção do financiamento das campanhas por empresas privadas, embora os partidos e candidatos podem, voluntariamente, recusar dinheiro de empresas mal intencionados. Parece que isso já ocorreu num passado recente. Poucos porém, ousam dizer não.
Enfim, o pacto em torno da construção de uma profunda reforma política, que ampliasse a participação popular, não aconteceu.

Saudade

Saudades, em mim, nunca têm pressa. Demoram tanto que
nunca chegam. Só quando eu danço me liberto do tempo — esvoam
as memórias, levantam voo de mim. Eu devia era dançar
todo o tempo, dançar para ela, dançar com ela.
Mia Couto
al pacino

Não se confia no bom senso dos homens

Muitas leis são criadas para se cumpra, por coerção o que deveria naturalmente ser praticado pelos homens. Sabemos todos que não se deve bater em mulher, todavia a incidência de casos chegou a níveis astronômicos e expôs o Brasil à punição internacional por omissão em relação aos casos relatados de violência doméstica.
Criou-se a Lei 11.340/06 (conhecida como Lei Maria da Penha) para punir com rigor casos negligenciados de violência doméstica e familiar contra a mulher.

Sabem os pais que não se deve bater nas crianças, porém os casos de espancamentos causados por familiares eram recorrentes e então? Criou-se da Lei 13.010 (Lei da palmada), para garantir que as crianças sejam educadas sem castigos físicos. É preciso educar as crianças, mas igualmente o estado foi chamado para criar um programa de incentivo à freqüência escolar.

Sabemos todos que o financiamento de campanhas políticas por empresas e corporações é pernicioso à prática democrática, e quando uma esperança de proibir essa prática surgiu, o que fizeram os nossos parlamentares? Numa manobra questionável, decidiram manter a influencia do poderio econômico sobre os parlamentares e a bancada do bife (JBS) satisfeita, continuará com seu clientelismo.
Contribuiu com a eleição de 162 políticos brasileiros, segundo dados publicados logo após as eleições. No mesmo caminho, seguem os grandes bancos Bradesco e Itaú e grandes empreiteiras. A história nos mostra que não aprendemos muito, apesar de tudo o que sabemos. Deveríamos agir certo pelo motivo correto, não por temer a punição.

Deveríamos…mas o estado tem interferido em comportamentos que deveriam ser autônomos. A autonomia tem sido relacionada à rotina, à banalidades e mediocridades e não à temas relevantes e fundamentais. Mas por que a racionalidade dos homens é sempre colocada em desconfiança?
Por que a capacidade livre dos homens exercerem suas convicções naturais tem se expressado quase sempre em licenciosidade? A confiança é uma parte intrínseca da natureza humana. A confiança no bom senso dos homens é fundamental para manter os relacionamentos e ter uma sociedade consciente e saudável. Ser um indivíduo correto na verdade não é uma questão de escolha. De fato é, falta de escolha. Já que escolher, seria ir contra a ordem natural das coisas.

A fragmentação das nossas ações nos impedem de ver os resultados ou as consequências delas. A falta de conceitos e de valores é uma consequência da modernidade, que nos empurra a viver inclinados a fazer o que queremos e não o que nós sabemos que devemos fazer. E não nos falta informação e exemplos. Desde o início do tempo o homem vem buscando o sentido de si mesmo e de seu mundo. Ele tem buscado esse entendimento. Mas o tempo passou e o homem não foi capaz de conquistar sua própria natureza.
A situação muda, mudam-se termos, mas mantém os conceitos, não muda a mentalidade, com isso, a forma de estancar os problemas continua a mesma: coerção do estado, punição e mais leis.