Café, pão de queijo e política

Nas divisões das tarefas, as compras quase sempre são tarefas das mulheres, entretanto este artigo reflete sobre as implicações para marcar a distinção social buscada por muitos frequentadores de determinado supermercado de Cuiabá.

Supermercado este, onde uma variedade de relações se estabelecem de forma direta ou indireta e onde obrigações e lazer se misturam numa simbiose interessante.

Ir ao supermercado demanda alguns cuidados e uma certa produção no visual, o que concede ao ambiente a relevância de um lugar, onde as estratégias de consumo são aliadas as estratégias de diferenciação social. Assim, ir às compras é, em sua maior parte, um meio de alcançar determinados fins.

E se todo ato de consumo tem um significado, se as relações entre consumo e política são multifacetadas, ir ao supermercado, além da intenção de se adquirir produtos que satisfazem, pode ser também uma estratégia para consolidar o poder, para abordar, despachar e encaminhar alguma agenda.

Quer encontrar um médico, marcar consulta? Encontrar um político, pedir emprego, criticar algum projeto? Tenta no tal supermercado.

O supermercado em questão é colocado como um lugar onde se estabelece relações recíprocas de cordialidade, mas também de auto afirmação, visto que consumir determinados produtos à vista dos adversários ou amigos  eleva ou nivela o status e ainda que seja a mulher, a protagonista da cena doméstica, os homens, ajustam os horários, enfrentam filas para acompanhar as esposas e  invariavelmente nos cantos ou na adega, falam ao pé do ouvido ou batem papos descontraídos com amigos que executam a mesma tarefa, com a intencionalidade de encontrar uma figura pública difícil de acessar por vias normais.

Muito raramente alguém entra e sai do supermercado sem estabelecer algum tipo de conexão e não há aqui uma análise se isso é bom ou ruim, é a constatação de que o espaço desse supermercado transcende a rotina de suprir a despensa vazia e onde o estilo de vida encontra ressonância num ambiente privado preparado esteticamente para ser um espaço público.

O supermercado surgiu no século XX, nos Estados Unidos, como um novo modelo de comércio de grandes lojas localizadas fora dos centros urbanos, sem atendimento personalizado, com mercadorias expostas em embalagens atraentes, para escolha livre do consumidor.

Essa invenção moderna foi consolidada no Brasil na década de 1970, com a entrada das grandes redes estrangeiras no país, o que alterou significativamente as práticas de consumo dos brasileiros. Ir ao supermercado é parte da organização da vida cotidiana, mas ir ao Big Lar na Avenida Miguel Sutil é um marcador social, onde os encontros entre gôndolas comunicam algo que é impossível não perceber.

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