Por que haveria de ter mais?

Quando muito, no ápice da gula

Quero sempre tão pouco.

Aprendi a conter, a contar, a acalmar

a compartilhar, dividir e exibir

o que a mim cabe.

Parece pouco? Por que haveria de ter mais?

Imprevidente ou descuidada

Por todos os motivos que eu possa alegar

Mais do que isso seria desperdício

Seria alimentar o vício

De querer o que não cabe, não serve mais.

Vida enxuta, sem sobras

De mágoas, solidão, ansiedade.

Quando muito, no ápice da gula

Tempestade perfeita?

Não há nada que dure eternamente, nem a maldade. O extremismo é elaborado estrategicamente nas suas teorias e ações com objetivo de causar mortes e furor, para instigar reações ainda mais violentas.

Pode ser a questão da homofobia, da falta de controle da venda de armas, questão política, étnica religião, ou falta desta. Pode-se dar o rótulo que quiser, mas o que precede o ato de violência é ódio e terror. Ademais, a brutalidade tem sido concebida para ser espetacular.

Diante de tantas atitudes disfuncionais, fico a pensar quantos homens deverão morrer até que objetivamente o poder político tenha debelado as falsas bandeiras, os grupos ou lobos solitários que atacam nossos ideais de liberdade e confiança no ser humano.

Quando se lida com assassino ou história de assassinato, muitas pessoas, a maior parte do tempo, fala de um momento pavoroso, narra cenas cruéis, mas trata o fato como algo momentâneo. E não tem sido assim.

As tragédias têm se repetido, aqui, nos Estados Unidos, na Inglaterra, em toda parte. O que significa é que vamos ter de viver com esses atos horríveis acontecendo o tempo todo, em todos os lugares.

Não podemos esquecer que ao longo da história humana o mundo tem sido dividido em culturas, etnias, religiões e política. Esse tempero variado que deveria tornar o mundo um lugar interessante, não foi absorvido além das fronteiras da ignorância, então, matam-se homens em nome de revoluções religiosas e guerras.

Assim, instala-se a política da divisão e do medo, o que remonta aos acontecimentos violentos que vimos noticiar nos últimos dias.

Proteção e segurança nunca há o bastante em lugar algum e isso faz o medo prosperar. Porém, a tempestade seria perfeita para nos mover em solidariedade contra o ódio pois, onde existe o ódio, encontramos divisão e ignorância e grupos de pessoas são demonizados pelo falso moralismo que cobre o rosto de homens dissimulados, cujos vícios a própria família desconhece.

Embora saibamos que a retórica tem consequências, não devemos nos manter insensíveis diante de acontecimentos brutais nem tampouco nos derreter com argumentos emocionais, ou ainda pior, banalizar os atos violentos cometidos em nome de preconceito de qualquer natureza.

O revés é que os melhores valores que podemos expressar são compaixão, solidariedade e colocar nossas convicções para trabalhar contra a violência e injustiça em todo lugar.

O espírito da cidade adoeceu

Com o olhar atento ao que acontece no mundo e, especificamente, encarando a realidade local, percebe-se no que está submerso, um mundo de tristeza, medo, loucura e violência. O espírito da nossa cidade adoeceu.

Precisamos de remédios mais poderosos do que os que têm sido utilizados para conter o destempero que nos roubou as virtudes essenciais: a bondade, misericórdia e amor. Ônibus são queimados nas ruas, a chama, porém, amedronta o justo, o bom, o misericordioso. Trancam-se todos. É justo?

A vida do espírito da cidade pede a intensificação das tentativas de salvamento desses momentos de dureza brutal e por comum que possa parecer aos olhos de alguns, a violência tem causa sabida e tratamento negligenciado por todos.

As vítimas, o sistema, o homem marginal são fregueses completamente distintos do mesmo mercado, que os empurra rumo a uma vida onde a corrupção, o poder e o dinheiro compensa tudo, nem que para isso tenham que viver no limite dos perigos típicos de uma cidade quase grande.

Dado as incertezas das coisas, percebo que os meios legítimos para uma vida de paz não estão disponíveis para todos os homens – muitos se desviarão e quando se descaminham, o infortúnio não é só deles, pois juntam-se a força de estruturas paralelas à oficial e ameaçam todos os outros homens.

Diante do fogo, da rajada de balas, dos arrastões não podemos viver em dissonância cognitiva, ignorar os riscos que corremos a todo instante. A atmosfera de loucura é real e talvez tenhamos que ter paciência com o caos instalado.

A urgência e a imensidão de um problema tão sério não se resolve numa ação imediata. Nem sempre o poder público tem resposta para tudo. Rezem!

Qualquer ser, todos os seres, por pequeno que seja é dotado de uma substância espiritual, que precisa ser acionada para se animar e conter os ímpetos da corrupção, dos vícios, das monstruosidades. Da mesma forma, todos os seres são capazes de se esforçar e promover a quebra dos rompantes de loucura.

Existem tantas armas das quais o cidadão deveria apossar-se para começar uma luta justa pela educação, pela saúde e segurança. Armas que não são letais, que não machucam e, além disso, preparam o caminho para uma vida melhor.

Lamentavelmente, armas genuínas não servem a homens obstinados e cegos, que carregam o jugo de seus vícios e suas almas carregam o risco da perdição eterna.

As muitas faces de Muhammad Ali

Estranhei quando soube que a escritora e poeta americana Maya Angelou escreveu um livro sobre Mohammad Ali; na verdade, um belo livro, chamado “Muhammad Ali: Aos olhos do mundo”, lançado no ano de 2001.

Ambos se conheceram em Acra, Capital de Gana, em 1964, quando um grupo de ativistas americanos, entre eles, Martin Luther King, Malcolm X, Angelou estavam no país africano, atraídos pelos revolucionários combatentes que haviam libertado o país do domínio inglês.

Muhammad Ali era uma promessa de presença não confirmada. Mas ele veio e veio bradando que precisava se reconectar com suas origens africanas. E durante duas semanas, Ali pertenceu ao povo de Gana e deu um passo importante para confirmar-se com um dos primeiros atletas globais.

Maya Angelou escreveu que o firme compromisso de Ali com a moralidade era o testamento final de sua grandeza e que Muhammad Ali não era apenas Ali, o maior, o pugilista Africano-Americano, que causava forte impacto em todas as pessoas, de todos os continentes, em todos os idiomas. Havia nele algo além do que ele era e do que falava. Uma terceira coisa, estranha, que exalava um misto de carisma e poder.

O humor era uma parte inegável do charme de Ali, especialmente nos comentários sarcásticos que fazia sobre o tratamento dado aos negros pela elite e pelo governo americano. Acerca disso, Ali dizia que era contra os ensinamentos da América um negro sobressair-se, destacar-se. Por isso muitos não aceitaram o fato de ele, um pugilista negro, ser o melhor de todos, então, a indústria cinematográfica preconceituosa, criou Rocky, um lutador branco para contrapor com a imagem negra dele.

Ali não era apenas um lutador que representou bem os tempos em que ele viveu. Recusou-se a ir para a guerra no Vietnã, declarou na mídia que não tinha nada contra os vietnamitas e colocou-se veementemente contra a intervenção americana nos fundamentos de liberdade de outro país, do outro lado do mundo, enquanto aos seus próprios cidadãos negros negavam direitos básicos. Além disso, já estava convertido ao Islamismo e a religião não permitiria que ele fosse para a guerra.

Pagou um preço alto. Foi preso, destituído de seus títulos mundiais de boxe e perdeu a licença para continuar lutando nos estados americanos. Direito restituído três anos e meio mais tarde, pela Suprema Corte, que anulou a condenação.

Maya Angelou explora a outra face de Muhammad Ali; o homem que viajou para o Iraque, usou sua celebridade para garantir a libertação de 14 reféns norte-americanos em 1990; que foi à África do Sul compartilhar a libertação de Nelson Mandela da prisão; esteve no Afeganistão na inauguração das escolas das Nações Unidas Mensageiro da Paz; angariou fundos para a pesquisa do Mal de Parkinson, para o UNICEF e para as Olimpíadas Especiais. Um homem que tomou um rumo interessante, não somente a fama lhe interessara.

O campeão dos pesos pesados que prometeu chocar o mundo, o fez quando disse não ao sistema duas vezes. A primeira quando admitiu sua ligação com Elijah Muhammad, um ativista americano, líder do grupo Nação do Islã e converteu-se ao islamismo e a segunda quando negou-se a ir para a guerra matar vietnamitas.

O amor não conhece sua profundidade

Nem sempre preciso de planos. Ás vezes é na desordem das palavras não ditas, no coração confuso, na inquieta alma que repousa na profundidade do meu ser, que consigo expressar o meu amor.

Nem sempre preciso de olho no olho. Ás vezes é no afastamento silencioso, na cabeça que pende em desacordo que meus sentimentos conflitantes ameaçam se confessar.

Amo imperfeitamente.

Nem sempre tento tanto. Ás vezes deixo as palavras atenciosas sem importância, e, diante de uma vasta estrada, sigo o caminho estreito e deixo-te partir.

Nem sempre restauro meu coração quebrado. Ás vezes, a temporalidade da vida, tira-me coisas que me haviam sido concedidas. Deixo-as ir. Porque nem sempre tenho planos.