Toda instabilidade na política e na economia leva a sociedade a pagar um preço alto, mais alto quanto maior for a incerteza. Ninguém está em condições de fazer prognósticos sobre o possível encaminhamento da crise instalada no país.
Certo é que está instalado um cenário de conflitos e esse tsunami da gravação ilegal e delação do Joesley Batista, pegou o país alinhavando um processo de retomada da economia e da estabilidade política.
Devido à interação que existe entre política e economia, qualquer movimento que balança a posição do presidente, causa estresse profundo e retração em todos os ambientes. Os empresários seguram os investimentos que estavam prontos para fazer, as famílias adiam os projetos que as levariam a gastar mais, porque ninguém está seguro quanto aos riscos que poderão enfrentar logo a frente.
Em meio a zonzeira em que se encontram os analistas políticos e os próprios políticos é aconselhável ler tudo, colocar fé em quase nada e aguardar o desfecho, do que foi, mais um caso de grampo, delação e fuga a emporcalhar a já combalida república.
Sinto-me, às vezes, sem inteligência suficiente para traçar um paralelo dos delitos cometidos pela Odebrecht e JBS. Ver que enquanto um empresário cumpre justa pena de prisão, o outro leva vida milionária em Nova Iorque e teve os crimes praticamente anistiados.
Penso que entra aí o trabalho hercúleo dos advogados de defesa dos irmãos Batista, senão cabe crer, que foi adotado a favor destes, velha prática de dois pesos e duas medidas distintas para uma situação de corrupção quase idêntica: apropriação de recursos públicos, desvios e subornos.
Aqui em Mato Grosso, a JBS entrou firme no mercado do Estado que é o detentor do maior rebanho bovino do país e que operava o abate em várias pequenas e médias plantas frigoríficas espalhadas pelo Estado. Agressivamente, a JBS investiu na compra de várias plantas, para posteriormente fechá-las, causando desemprego e desequilíbrio nas contas de municípios pequenos que contavam com o aporte dos impostos gerados.
Verificou-se claramente que a JBS praticava concentração de mercado. O resultado final dos trabalhos na CPI dos frigoríficos, conduzida pelo deputado Nininho, detectou essa formação de cartel e apontou a preocupação com o fechamento de mais plantas no decorrer deste ano.
Para evitar que isso aconteça, o relatório da CPI indicou oficiar ao Ministério da Agricultura, para que adotasse providências para evitar o encerramento das atividades frigoríficas no estado e interceder para a reabertura em curto prazo de pelo menos 6 plantas. Ao CADE também foi encaminhado solicitação de abertura de procedimento para averiguar e punir a concentração do mercado nas mãos únicas da JBS.
Com retração, indignação ou paralisia não devemos distanciar à atenção da Câmara e do Senado. Hoje, terça (23), está pautado para ser votada a Proposta de Emenda à Constituição, PEC de autoria do deputado Federal Miro Teixeira, que prevê o estabelecimento de eleições diretas em caso específico de vacância do cargo de presidente da república, até 6 meses antes do final do seu mandato, o que pode até parecer casuísmo para favorecer candidaturas já colocadas.
Caso Temer não resista, o texto atual da Constituição prevê eleição indireta para presidente, sendo este votado pelos 513 deputados federais e 81 senadores. Tal situação nos levará a ter um governo biônico. Já articulam uma saída controlada, a ideia é eleição indireta mesmo.
Em meio a bagunça do cenário atual e com a certeza que o jogo é bruto e que dias difíceis virão pela frente, vale considerar cuidadosamente três pontos: o encontro entre o Presidente Temer e o empresário da JBS, fora do local de trabalho e da agenda oficial do presidente; a JBS já havia sido alvo de várias operações, portanto, já existiam provas cabais contra a empresa investigada; relembro que esses senhores não caíram do céu. É o que nosso sistema produz.