Sem futuro?

Em vez de falar sobre punição vamos falar sobre a questão real da onda de violência que se abate sobre nossos adolescentes. O UNICEF, braço das Nações Unidas para a infância, está divulgando no Brasil um levantamento cujo resultado traz números apavorantes quanto ao assassinato de 16 jovens por dia no país.

E numa perspectiva futura, 43 mil adolescentes, com idade entre 12 a 18 anos terão a vida ceifada por homicídio ao longo dos próximos 7 anos.

O perfil do adolescente vítima de violência é do sexo masculino, negros, de baixa escolaridade e moradores da periferia. As principais razões das mortes são falta de políticas públicas inclusivas de responsabilidade do Poder Público; o consumo de drogas, o recrutamento pelas facções criminosas, causas que levam a evasão escolar.

Não adianta muito o estado receber o relatório, reconhecer o aumento da violência. É preciso que o estado faça alguma coisa para evitar essas mortes anunciadas e entenda que investir na educação é a única forma de dar um futuro a estes adolescentes. Orçamento parece não faltar. No ano passado o Ministério da Educação teve orçamento de R$ 100 bilhões e neste ano o valor se manteve, porém é preciso mudar a maneira como a educação vem sendo pensada, para fomentar além do conhecimento, o crescimento saudável de nossas crianças.

Não se trata de excluir a família da responsabilidade pelo destino da trajetória dos filhos. Sabemos que a família tem papel decisivo na educação formal e informal das crianças. É neste espaço que se absorve valores humanitários, laços de solidariedade e se formam valores culturais.

Vale lembrar que os adolescentes assassinados, inocentes ou não são copiosamente chorados pelos familiares, que em entrevistas relatam história de várias tentativas de resgate fracassadas.

Edgar Morin, conhecido no meio educacional é sociólogo, antropólogo e filósofo francês, é autor de vários livros. Entre eles, “Os sete saberes necessários para a educação do futuro” que são:

1- Transmitir conhecimento capaz de criticar o próprio conhecimento: educar não pode ser apenas a transmissão de conhecimento cega quanto ao questionamento do que é o próprio conhecimento;

2- Discernir informações chaves: o estudante deve ser encorajado a escolher o que lhe interessa dentro da enorme gama de informação que recebe.

3- Ensinar a condição humana: através da didática interdisciplinar falar sobre a diversidade e complexidade do ser humano.

4- Ensinar a identidade terrena: a Pátria comum é a Terra e isso pode ser compreendido quando se ensina as navegações a partir do século XVI. Foi a partir dai que o mundo interligou-se.

5- Enfrentar as incertezas: os jovens devem ser ensinados a navegar no oceano da imprevisibilidade e das incertezas. Isso pode ser feito mostrando a história, onde impérios pensados como perpétuos cairam.

6- Ensinar a compreensão: ensinar respeitar a idéia dos outros, os seus modos de vida, códigos éticos, rituais e costumes. Nunca etiquetar pessoas com rótulos racistas e xenofobicos.

7- Ensinar ética do gênero humano: a democracia não pode ser a ditadura da maioria. A democracia necessita de diversidade e antagonismos.

As inspirações de Morin para os educadores não devem ser guardadas para o futuro. Devem ser implantadas a partir de hoje.

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