Todos querem ser candidatos

Mesmo no sistema político notadamente apodrecido, “todo mundo” quer ser candidato; em que pese as razões legítimas para muitos não confiarem na política; o fato é que as histórias geradas ou engrandecidas pela mídia nos últimos anos não esfriaram o frisson de tentar uma cadeira ou continuar a carreira política.

Seria o idealismo, ideologia, o fascínio pelo para exercer o poder de mando e influenciar pessoas ou porque querem mudar o mundo?

Ser candidato não é fácil desde a filiação partidária, porque a relação dos candidatos com os partidos é mais caracterizada pelo desinteresse (de ambas as partes) do que pelo acolhimento e abraço a determinadas candidaturas.

O começo deve ser sempre devagar e com cautela. Afobados, mesmo com patrimônio financeiro considerável e espólio político interessante são esmagados pelo sistema, pelo jogo de bastidor comandado pelos caciques que puxam o protagonismo político para si. Um exemplo clássico? Dória.

Não diria que o país perde grande coisa com o enfraquecimento da campanha de Dória, mas o partido perde uma grande oportunidade de abertura de atrair um público novo, de refrescar as discussões políticas. Mas quem quer inovação?

Creia-me, a maioria dos políticos não são tipos comuns. São homens de lideranças concentradas nos seus redutos, não gostam de vida sossegada, não abrem mão da continuidade, do conforto dos gabinetes, do staff generoso que só fala o que o chefe quer ouvir.

Tentar mostrar os políticos e os possíveis candidatos como pessoas comuns serve apenas para diminuir o fosso que separa o povo da política, para diminuir certo ressentimento. Tipos comuns não acabam na liderança de movimento algum. Por outro lado, tipos comuns não tem a privacidade invadida nem tem seus gestos, declarações, roupas e interações examinados por um microscópio julgador nem são dominados pelo clima tenso de opinião sobre seus projetos.

Há quem queira ser político porque quer acabar com “essa história”de usar o dinheiro da classe média para implantar programas para beneficiar os pobres,(ignoram que isso chama-se programa de inclusão social); há quem queira ser político porque é possível reconstruir uma nova “direita”no país, com segurança baseada no “tu me matas ou te mato” e queimando em praça pública bruxas que falam em igualdade de gênero.

Há quem queira ser candidato porque a saúde está um caos, como se fosse possível analisar a saúde desconectada da transversalidade que a envolve, sobretudo, a educação e economia. Enfim, há muitos que querem se submeter a votação no ano de 2018 mas não tem discurso para enfrentar uma multidão de no mínimo 20 mil pessoas.

Tudo se articula no discurso do mundo político, onde os recursos públicos embora pareçam inesgotáveis, não o são. Aqui, a votação da PEC dos teto dos gastos (Projeto de Emenda Constitucional) que já recebeu mais de 40 emendas parlamentares, depende da aprovação em segunda votação para entrar em vigor. Brasília aprovou a Reforma Trabalhista, que desde o dia seguinte enfrenta contestação na justiça. Esse mundo que você quer salvar é feito de desigualdades; falta moradia; pessoas ficam semanas em cadeiras de fio no corredor do pronto-socorro esperando que um médico de alma caridosa o escolha para salvar; a educação não é acessível a todos e o desenvolvimento humano é tragicamente afetado pelas diversas crises econômicas e políticas que atravessamos.

Não vai acontecer, nem agora nem no curto prazo nenhuma refundação da Republica brasileira, mas seria bom, para começar, discutir o respeito ao contraditório e tentar conter o discurso de ódio, porque senão como os homens públicos irão a público defender suas propostas?

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