Todas as vezes que percebo um tema assumir a dimensão de incitar o recrudescimento do ódio, das campanhas para promover o medo, a falta de respeito à individualidade e a liberdade de expressão, tenho certeza que somos todos afetados por discussões estéreis e histéricas e nossos posicionamentos declarados recebem interferências indevidas, falsamente moralistas e disso resulta a clareza que não vivemos num país estável e que a grande maioria da população não tem uma visão realista da política, dos desdobramentos do processo político e da importância da participação popular.
Li uma entrevista do filósofo Renato Janine onde ele relembra um comentário feito por Carlos Lacerda acerca do marechal Castelo Branco. Disse Lacerda que o marechal parecia um santo da rua Conde Lages.
Uma rua que concentrava muitas casas de prostituição no Rio de Janeiro. Lacerda explicou: Todos os bordéis da rua tinham um santo na sala de entrada. E lá ficava o santo, assistindo inerte todas as safadezas que faziam na frente dele.
Assim estamos nós, feito o santo.
Não devemos jamais ter medo ou nos eximir da responsabilidade de rebater, debater e argumentar sobre assuntos que entendemos, sem as afrontas que tem perpassado algumas conversas recentes.
É igualmente inaceitável a intolerância, o preconceito que ainda dão o tom das discussões. Afinal, não se pode falar sobre política, pontuar as divergências sem ser arrogante ou ficar na defensiva?
O jogo nervoso de desfocar os acontecimentos reais, muitas vezes, se confunde com os despojos de um coração ferido. Não se pode discordar, contra-argumentar e continuar a amizade?
Não se atinge objetivos largos, politicamente falando, desprezando os estudos, as pesquisas, as convenções e a imprensa. A especulação em muitas searas não tem um transbordamento meramente negativo, mas ultimamente e falando de Brasil os críticos de tudo se envolvem com insistência nos problemas econômicos, políticos e afetivos da nação, apresentando suas intuições e insights que transcendem todas as lógicas do estado e dos indivíduos razoavelmente politizados e engajados.
Não podemos limitar as discussões por medo de sermos inapropriados e alijados de grupos de convivência. As divergências rejuvenescem as ideias sobretudo em um tempo em que a maioria dos discursos políticos são, na melhor das hipóteses, decorativos.
Difícil é encontrar soluções de longo prazo para endireitar as instituições que dispomos e a mentalidade de um povo que preocupa-se no dia-a-dia com banalidades efêmeras, palpita sobre política enquanto assiste a “centésima primeira” edição do Big Brother ou perde tempo postando fotos e falando do Brasil que não querem.