Solidariedade na rede

De certa forma há solidariedade nas redes sociais, explosões de mensagens afetuosas, porém, as explosões, mesmo potentes, são de efeitos breves. É um desafio interessante.

São muitas sensações e contradições nos abraços espalhados no universo virtual, onde imagens e vozes lutam para acalentar nosso interior e garantir que podemos descansar a mente exausta ali também. Vivi a experiência da observação ao perder minha irmã, semana passada.

Contudo, as mensagens chegam, nós é que estamos fragmentados, em tantos aspectos diferentes, que nem sempre somos capazes de saber com qual aspecto nos identificamos ou acreditamos.

Se incorporamos alguma mudança no estilo de vida nos últimos anos, uma delas é que, não sem dor, estamos substituindo os contatos, a externalidade do toque por um mundo elaborado em redes, mas estático, que satisfaz as necessidades humanas momentâneas.

Há cerca de uma década estamos limpando o contato humano das agendas e coletivamente não valorizamos o “cara” que nos serve no supermercado, no lar, no bar, que lava o carro, que mora ao lado. Lamentavelmente estamos perdendo a narrativa de nossas próprias histórias, trocando-a por ilusões transitórias.

Não precisamos viver de um modo obscuro, fechados, incapazes de reconhecer a amplidão de tudo. Não precisamos ficar presos a uma vida comum, nem nos perdermos nos exageros de catarse da modernidade líquida.

O fenômeno que evidenciamos é global, mas atuamos em termos paroquianos, engrossando o movimento dos indignados com os caminhos transversais da tecnologia que, com nossa permissão tornou-se uma intrusa até nas pequenas intimidades e grandes aflições. É interessante essa prisão que as pessoas estão experimentando. A prisão virtual.

Pode ser que a falta segurança nos tenha feito recolher e perder o hábito da interação. E, por conta disso, nos familiarizamos mais com os algoritmos que indiferentes cruzam nossos caminhos virtuais do que com a face do vizinho desempregado, com a precariedade contínua dos serviços públicos, com os conflitos e antagonismos entre cada pessoa e a sociedade.

Não mais buscamos ajuda, ligamos atrás de suporte técnico, não fazemos perguntas para as pessoas, fazemos buscas obsessivas on-line sobre as atividades que as pessoas exercem.

E nesta vida tão breve quanto um relâmpago, o mundo é grande demais para nós que não sabemos utilizar nossos poderes nem a vida de forma criativa e interessante, frequentemente traímos nossa essência e na hora da morte, pode ser que sequer saibamos quem de fato somos.

Mais do que tudo, precisamos de humildade para pedir ajuda, compaixão, para pedir a cura, o entendimento do sofrimento e transformar tudo isso, em nível relativo de paz e clareza.

No livro Tibetano do Viver e Morrer está escrito que precisamos nos abalar às vezes e questionar: Não há mais pressa… o amanhã ou a próxima vida virá primeiro?

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