Igualmente credenciados

As mulheres têm feito progresso na arena política. Ainda assim, estão sub representadas e são menos propensas a concorrer a cargos políticos em todos os níveis de governo, do local ao nacional.

As mulheres representam mais da metade dos eleitores brasileiros e, por mais que tenham progressivamente elevado a participação como candidatas nas eleições e contam com a existência da lei que obriga a aplicar a cota de 30% de candidaturas de cada sexo, é difícil, senão constrangedor, tentar explicar a baixa representatividade política que as mulheres exercem no cenário político brasileiro.

Ocupam pouco mais de 10% das cadeiras no Congresso Nacional, o que é a mais baixa representatividade da América Latina e uma posição humilhante diante da média mundial de 23,6% de parlamentares federais mulheres.

Em 2017, a Inter Paliamentary Union classificou o Brasil na 152ª posição entre os 190 países que informaram o percentual de cadeiras ocupadas por mulheres nos respectivos Parlamentos. E Mato Grosso está entre os 3 estados brasileiros que não elegeram nenhuma deputada federal ou senadora.

Um levantamento realizado com cerca de 188 países identificou que a maioria deles adota algum tipo de cota e que, naqueles em que não há cotas previstas em lei, elas são praticadas por iniciativa dos próprios partidos políticos.

Na Alemanha, no Reino Unido, na Argentina, no México, os partidos reservam entre 30% a 40% de suas candidaturas para mulheres. Entretanto na Bolívia, que ocupa a segunda posição como o melhor país do mundo quanto à equidade de gênero no parlamento, os partidos reservam a metade de sua lista para candidaturas femininas.

No Brasil, a legislação eleitoral e partidária estabelece o percentual mínimo de 30% de candidaturas de cada sexo, aplicação mínima de 5% dos recursos do Fundo Partidário em programas de promoção da participação política das mulheres e que 10% do tempo de propaganda gratuita no rádio e televisão sejam destinados à propagação da participação das mulheres na política.

Registra-se que muitas candidaturas femininas prestam-se somente para o preenchimento formal das vagas, (candidatas laranjas). O percentual de mulheres eleitas tem sido infinitamente inferior aos 30% das candidaturas femininas registradas.

E, em muitos casos, os partidos optam por burlar a lei e sequer registram candidaturas femininas. As sanções, em alguns casos tem resultado em cassação coletiva de mandatos. Os eleitos recorrem e continuam recorrendo… quase sempre no exercício de seus mandatos.

O Instituto Patrícia Galvão alerta que se não fosse adotado o sistema de cota, apenas no ano de 2118, as mulheres alcançariam a igualdade na representação política com os homens. Ainda, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral nas eleições municipais de 2016, de cada 10 concorrentes sem votos, nove eram mulheres.

As repetidas afirmações sobre as dificuldades de encontrar mulheres com perfis de candidatas, resvalam no senso comum e não refletem a verdade. O exercício da política ainda é uma atividade predominantemente masculina e machista, resultado de séculos de dominação e discriminação imposta ao gênero feminino.

Realidade temporal

isso é inevitável. A análise política do momento é o pensamento dos analistas e políticos debruçados sobre eles mesmos para reajustar-se à realidade mais adiante.

As opiniões sobre o mesmo fato são contraditórias, mas isso não nos deve impressionar, pois, salvo exceções, análises, embora algumas elaboradas com estudos profundos refletem pontos de vista individuais, sujeitos às idiossincrasias de quem analisa os fatos.

Ainda é cedo, as definições políticas têm calendário para acontecer e por que razão os políticos antecipariam suas decisões? Dos políticos não se espera que tenham apenas uma visão genérica do caos, mas que trabalhem firmados em dados e fatos.

É hora de ouvir para ampliar o ponto de vista; ouvir para saber o que excluir; ouvir para reafirmar a decisão, consciente da prematuridade do momento e que nenhum colégio de iluminados está apto a decretar a verdade que outubro nos revelará.

E não é tarefa fácil desviar-se do sistema estabelecido há décadas que prevê fazer concessões absurdas, injuriar, plantar notícias falsas, sobrepor-se ao partido e aos apoiadores, acender uma vela para Deus e outra para o diabo, para levar adiante propostas sérias, considerando a transversalidade de uma agenda sem interesses privados e que contemple várias categorias de cidadãos.

Em entrevistas públicas candidatos e analistas têm exagerado na divulgação de teses; é Jayme com Taques, Mauro com Pivetta e você se pergunta: como assim, não são Jayme e Mauro do mesmo Democratas? Ainda assim devemos seguir sem perder o senso de medida.

A maioria dos candidatos não discute e não propõe o que é essencial para o Estado e para Brasil, alguns por medo de perder votos, outros para não esvaziar o debate antecipadamente e outros, dotados de características próprias favoráveis à promover a mudança, movimentam-se cuidadosamente e destacam-se da massa que postula um cargo eletivo e se projeta como uma forma de representação coletiva.

De fato é pré-campanha. Nem os aliados estão configurados. Um e outro adversário são óbvios por estarem em desalinho com a linha pragmática de determinados partidos ou grupos. E não nos esqueçamos ainda das recomendações que virão dos Diretórios Nacionais dos Partidos, permitindo ou vedando algumas coligações. Por enquanto o panorama é incerto, especulativo, temporal e não se sustenta até a próxima semana.

Entre tantas incongruências estabelecidas pelo sistema brasileiro, o político que precisa proteger-se contra a punição de seus crimes deve concorrer ao mandato de deputado estadual. Viu isso? O Supremo decidiu que os mandatos de senador e de deputado federal não protegem os eleitos contra a punição por crimes cometidos antes da eleição, mas os de deputado estadual, sim.

O eleitor não gosta muito de arriscar, de ficar sem a pouca representatividade, quando tem, porém, a eleição é uma extraordinária oportunidade de mudança e ajustes quando as coisas não estão bem. O poder político concede inegável visibilidade ao eleito, mas cobra-lhe a fatura com muita exposição.

Quando as pessoas se comprometem

Em Benjamin Constant a liberdade deve prevalecer até mesmo perante a igualdade. Nada deveria impedir o homem de expressar-se livremente, de desenhar seu pensamento político e teorias liberais ou restritivas sem medo do terror das revoluções e das mãos pesadas dos acusadores e críticos que deveriam sair de cena para dar lugar à libertação da apatia e ao diálogo permanente.

A participação efetiva do cidadão no processo político, a contribuição sem alienação enriquecem os debates, afastam as emoções desconfortáveis e a crença tola de que os opostos não se entendem.

Há um álbum épico, chamado Vozes do Silêncio, do grupo tcheco Symphonity, onde eles misturam de forma impressionante música erudita e rock. O resultado musical é um refinamento que beira a perfeição.

Por aqui, os maestros Fabrício e Leandro Carvalho experimentaram misturar clássicos com rock e pop com resultado vibrante.

Em nenhum momento devemos nos encolher, nos omitir, não ouvir ou temer experiências novas. Como cidadãos devemos ter compromisso com a honestidade e não permitir que a falta de representatividade política de qualidade cause prejuízo ao nosso Estado.

Não podemos viver o paradoxo de nos sentirmos estranhos em nossa própria casa ou pior, de ver escapar a oportunidade excepcional de nos movermos da limitada crítica e opiniões ilusórias para mudanças reais.

Pelo que sei, nada se ajeita por si e os cidadãos bons devem se comprometer com a política porque não faz sentido ficarem apenas contabilizando perdas sociais e econômicas.

Não incomoda-me a efervescência singular da qual se nutre a política e mais fortemente o processo eleitoral. A expectativa unânime é de que haja inovação desde o formato engessado dos debates, que bem poderiam ganhar o tom de discussões racionais, conversas civilizadas, juntando conhecimentos, projetos e buscando soluções para melhorar a vida de cidadãos igualmente civilizados.

Quem senão e sobretudo o cidadão comum para comprometer-se com a mudança?

Jovens maiores de 16 anos, a classe produtiva do Estado – não apenas de grãos, mas também a classe produtora de conhecimento e pequenos empregos-, os trabalhadores em geral precisam sair de suas invisibilidades sociais ou zonas de conforto e começarem a esboçar o mapa de suas insatisfações e reivindicações antes que os discursos fragmentados dos candidatos anunciem, como sempre, grande preocupação com os mesmos temas: saúde, educação e segurança.

A propósito, hoje é 1º de maio, parabéns a todos os trabalhadores!