Viver uma boa história é um milagre

Escrevo com a preocupação de manter um estilo que possa evidenciar o perfil do meu caráter,
cumprir o compromisso com a prosa sociológica, com a observação essencial, porém, sem viés ou reforço ideológico. Uma vida profissional vigorosa requer muito mais do que superficialidades e confissões.

Nesse tempo moderno em que as habilidades são globais, cada um de nós e mais ninguém, é
o artista que pinta a própria vida. Isto significa também que não há que culpar outros por todos os males do mundo, por nossos fracassos e desilusões, quando desatentos nos entregamos à tendência de nos conformar com atitudes, costumes e crenças dominantes somente para assegurar harmonia à vida familiar, social e política. A fim de sobreviver muitas pessoas jogam na defensiva.

O Natal chegou e nesse período do ano tentamos demonstrar aos outros a relevância do que somos e dos bens materiais que conseguimos, tentamos decifrar o mundo, perceber a realidade com mais precisão e questionar nossa própria identidade e dos outros e numa urgência desesperada buscamos resignificar nossas vidas e ser alguém. Todavia o homem que reinventa a si mesmo, precisa de alguém que acredita nele para provar que conseguiu.

Ser trazido à luz nessa armadilha que o mundo se tornou requer saber que todas as coisas humanas tem dois lados. Fantasia e verdade são como fogo e a água e não é nada fácil encontrar um grupo ao qual possamos pertencer, neste mundo onde tudo está se movendo, se transformando, as aparências enganam e nada mais é garantido.

Erasmo de Roterdã, no Elogio da Loucura, ao usar a alegoria dos Silenos de Alcibíades, que tem 2 caras completamente diferentes, nos lembra que devemos ter prudência quanto as primeiras impressões que percebemos. “Á primeira vista o que parece ser a morte, observado com atenção, é a vida; o que parece belo ao ser examinado com clareza é horrível, o que parece rico, é na verdade pobre, o que parece culto, é ignorante, o que parece alegre é triste, o que parece amigo é inimigo.

“Bastando virar o Sileno, toda cena muda”.

Não podemos ser pequenos para as grandezas que queremos viver. Amor e razão não podem ser colocados em trilhos opostos, os laços dos relacionamentos não podem ser frouxos, o outro, meu irmão, não pode ser transformado em muitos estranhos, cujas índoles se acostumam com tudo.

Somente avaliando nossas experiências, em termos de conduta, seja emocional, racional, física ou psicológica percebemos o benefício ou não que causamos na vida das pessoas. É melhor nos preocuparmos do que nos eximirmos da responsabilidade; é melhor sermos solidários com a infelicidade do outro do que sermos indiferentes porque o tempo presente é breve.

Entretanto, não temos uma vida curta, mas, desperdiçamos uma grande parte dela. A vida, se
bem vivida tem o tempo suficiente para realizarmos importantes tarefas. A vida se esvai, se desperdiçada no luxo e na indiferença. “Muito breve e agitada é a vida daqueles que esquecem o passado, negligenciam o presente e temem o futuro. Quando chegam ao fim, os coitado entendem, muito tarde, que estiveram ocupados fazendo nada”. (Sêneca)

Refugia-te nas coisas mais tranquilas, mais seguras e mais elevadas!

Sexo como mecanismo de poder

O importante é que as denúncias tenham sido feitas e que o abusador, João Teixeira, de Abadiânia, esteja preso, para responder à justiça da terra, onde os abusos foram cometidos.

Abusos sexuais ocorrem em qualquer classe social e quase sempre é seguido de ato de corrupção para que o crime não seja revelado.  Normalmente, o abuso envolve uma relação de confiança, um pacto de silêncio, por isso, muito casos só são revelados anos depois.

Autores de abusos, geralmente, são conhecidos das vítimas, pessoas próximas, com quem elas sentiam-se seguras. Seres imorais, eles se aproveitam da proximidade para cometer os seus crimes.

No caso do medium João Teixeira, de Abadiânia, que vem sendo brandamente investigado por contrabando de minério, desde 2009, um e outro caso de abuso sexual; inclusive corre em segredo de justiça, o processo que a própria filha move contra ele, acusando-o por abusos cometidos na infância, 330 mulheres já reportaram terem sido abusadas por ele, que deve ter comprado o silêncio de muitos de seus séquitos de funcionarios e voluntarios, que o atendem pessoalmente e prestam serviços à Casa de Dom Inácio, local onde o medium faz atendimento espiritual. Conversando com pessoas que já estiveram em Abadiânia e lendo o site da entidade é possível perceber que a casa tem uma rotina extremamente organizada,  um fluxo incrível de visitantes, inclusive estrangeiros, tem-se a impressão que o medium e o abusador não são as mesmas pessoas.

Para a posteridade, a vida do sr. João Teixeira foi escrita em livro e virou filme. Todavia, pelas manifestações observadas sobre o caso,  esse episódio é o maior escândalo de abuso sexual do país.

Não nessa escala, mas o médico Roger Abdelmassih, que era é tido como um dos maiores especialistas em fertilização in vitro, foi acusado e condenado pelo estupro de 39 mulheres. Foi preso, condenado a 278 anos de prisão e a história acabou virando uma minissérie, chamada “Assédio”. Assim como no caso do medium, algumas mulheres relataram os abusos em anos anteriores, porém, as acusações não foram acreditadas e os ataques igualmente ocorriam em momentos em que as pacientes estavam em tratamento, vulneráveis e agarradas nos casos, ao medium e ao médico, com sentimento de confiança extrema e de fé.

Ao sairmos dos casos locais, vemos a Igreja Católica às turras com as práticas predadoras de padres mundo afora, porém agora, mais do que nunca, tem sido denunciados e afastados dos serviços sacerdotais pelo Papa Francisco, num esforço recobrar a confiança dos fiéis  na igreja.

Atrizes de Hollywood, levantaram-se e uniram-se num movimento chamado “Me too” para denunciar os casos de abuso sexual cometidos pelo produtor Harvey Weinstein. O poderoso produtor foi acusado por mais de 70 mulheres e os ataques eram cometidos numa demonstração clara de poder e controle sobre o mundo da fama.

Também quebrando uma relação de confiança, o médico da Seleção Americana de Ginástica Olímpica foi acusado por 100 mulheres, entre elas, estrelas campeãs olímpicas, que foram abusadas em nome da manutenção na equipe, de tratamentos nada convencionais porém, aplicados para o bom rendimento das ginastas. Larry Nassar traiu a confiança das atletas, foi denunciado, preso e condenado a prisão perpétua (360 anos de cadeia).

É sabido que muitas vítimas não denunciam as agressões sofridas por medo de represálias, receio de serem desacreditadas e moralmente desqualificadas para inocentar o criminoso. Entretanto, mesmo tardiamente, compartilhar a história pode ser um caminho para a cura e pode encorajar outras mulheres a denunciar também.

É essencial lembrar que esses tipos de histórias não ocorrem em algum lugar distante.  Elas ocorrem em todas as partes, nestes tempos de transgressão contínua e falta de respeito.

Portanto, não idolatre alguém incondicionalmente, não perca o discernimento em nome de    de oportunidades, de cura e nem em nome de Deus.

Por que as pessoas mentem?

A mentira é uma verdade que se esqueceu de acontecer, como escreveu Mário Quintana.

Admita: você também já mentiu. Estudo recente mostra que as pessoas contam duas ou três mentiras a cada dez minutos e a mesma estimativa aponta que mentimos pelo menos uma vez por dia. A mentira se alastra sobretudo onde há decepção generalizada com a vida cotidiana e é usada, como uma mal social necessário para lubrificar as engrenagens do discurso social.

O jornal inglês The Telegraph publicou uma pesquisa encomendada sobre o tema e a mentira mais popular da Grã-Bretanha é: “desculpe, eu não tinha sinal de telefone celular”, desculpa essa, admitida por um em cada quatro pessoas entrevistadas. Os pesquisadores descobriram que o britânico diz, em média, quatro mentiras todos os dias ou quase 1500 por ano. Um em cada três britânicos mente sobre o peso, sobre o valor da dívida e sobre a quantidade de exercícios físicos que praticam.

A pesquisa indica que as mulheres mentem melhor do que os homens, embora em número 46% das mulheres foram flagradas mentindo contra 58% dos homens. Em segundo lugar, a mentira mais comum é ”Eu não tenho nenhum dinheiro comigo”, ”Não há nada errado – eu estou bem” ficou em terceiro seguido por ”Você está linda” ‘e ”Prazer em vê-lo”. Ainda entre as dez mentiras mais contadas registra-se: ”Nós somos apenas bons amigos”, ”Nós vamos nos encontrar logo” e ”Eu estou a caminho”.

A tecnologia moderna emergiu como o instigador de muitas mentiras como ”eu não recebi o seu texto”, ”O nosso servidor caiu” e “minha bateria descarregou”. O diretor da empresa OnePoll, que realizou a pesquisa com 4.300 adultos, disse que o resultado apresentado justifica-se pela obsessão das pessoas em serem agradáveis e tentar encobrir o que realmente querem dizer. As mentiras admitidas foram consideradas nem completamente inofensivas nem taticamente necessárias. Muitos especialistas não vêem muita diferença entre uma pequena ou grande mentira, porque todas apresentam um efeito, quanto mais mentira mais degradação e depois você não consegue mais parar. “Meia verdade muitas vezes é uma grande mentira.” Frase atribuída a Benjamin Franklin.

Diz a pesquisa que quando uma pessoa diz uma mentira ousada e descarada normalmente fica tensa e inquieta, a batida cardíaca acelera e a temperatura corporal aumenta.

Desculpas e mais desculpas… mas porque as pessoas mentem? Bob Feldman,  autor do livro “Um mentiroso em sua vida”, revela que a maioria das pessoas ao mentir não carregam nenhum sentimento de culpa e mentem por que não conseguem cumprir a sua carga de responsabilidade. Ao analisar o comportamento de estudantes universitários constatou que os mesmos matam seus avós não apenas duas vezes, mas oito no decorrer do período do curso e que a desonestidade acadêmica vai da aplicação apara conseguir bolsas de estudos até a falsificação de cartas de recomendação.

As pessoas mentem para fugir com desculpas e acabam reforçando a sua inclinação para mentir novamente e muitas vezes para dar o tom de realidade a uma mentira é necessário envolver uma segunda pessoa. As pessoas que mentem ficam vulneráveis ao plantio de falsas memórias e fazem todo tipo de manobra mental para credita-las como identidades verdadeiras, mesmo que o comportamento esteja em conflito direto com a realidade.

Jogamos a culpa em outra pessoa, numa situação fora de controle, mas nunca em nós mesmos quando inventamos uma desculpa ou mentimos. Existem várias razões complexas e interligadas para mentir, enganar, e fabricar desculpas> A verdade é que acabamos criando um falso “eu” e então, o fosso alarga-se entre quem você é e quem você deseja ser. Eventualmente, você perde contato com seu “eu” real e entra no terreno da paranoia.

A mentira é imoral.

Canção dos homens

A música pode ser usada para expressar a emoção, unir as comunidades e fazer juramentos. No livro O Mundo Musical em Seis Canções, Daniel Levitin sugere que todas as músicas podem ser agrupados em seis tipos; amizade, alegria, conforto, religião, conhecimento e amor são os seis fundamentos. Ele vê esses temas básicos como indicadores do estado de ânimo pessoal. Como exemplo, ele vê uma canção de alegria como um indicador confiável da saúde física e mental de uma pessoa.
Ele observa que a música afeta a biologia humana e pode influenciar o pensamento e sentimento, além de aliviar as tensões e agir como um mecanismo de ligação entre os grupos distintos.

A música tem desempenhado um papel vital na história da humanidade e as evidências parecem sugerir que o canto é bom em um nível comum e pessoal. Pesquisas diversas revelam uma relação inequívoca entre ouvir música, cantar e bem-estar. Seus benefícios físicos incluem aumento da oxigenação da corrente sangüínea e trabalha grandes grupos musculares na parte superior do corpo, aumenta a energia, melhora a postura, reduz a pressão arterial.
Psicologicamente a música tem o efeito positivo na redução dos níveis de estresse através da ação de um sistema que está ligado ao sentido de bem-estar emocional, elevação do humor, ativação da memória, aumento da concentração e melhoria no sistema imunológico também.

No sistema social Xinguano, a música é ritual que performatiza a delicada linguagem da relação entre os indígenas do Xingú. A música é sempre a história de um passado recente, fatos cotidianos da vida, sobre encontros com outras tribos e ao mesmo tempo, a música promove uma comunicação entre os que tocam e os que escutam. Assim, na mitologia kalapalo, a música é tratada como manifestação das transformações dos seres perigosos e como um meio de exercer o controle sobre essas forças. Dessa forma, os Kalapalo usam a música ritualmente como meio de comunicação entre categorias desiguais de seres.

A poetisa africana Tolba Phanem conta que quando uma mulher, de certa tribo da África, sabe que está grávida, ela segue para a selva com outras mulheres e juntas rezam e meditam até que surge a canção da criança. Quando nasce a criança, a comunidade se junta e cantam a sua canção. Logo, quando a criança começa sua educação, o povo se junta e canta sua canção. Quando se torna adulto, eles se juntam novamente e cantam. Quando chega o momento do seu casamento os noivos escutam a sua canção. Finalmente, quando sua alma está para ir-se deste mundo, a família e amigos aproximam-se e, como no nascimento, cantam a sua canção para acompanhá-lo na viagem.

Nesta tribo da África há outra ocasião na qual os homens cantam a canção. Se em algum momento da vida a pessoa comete um crime ou um ato social aberrante, levam-no até o centro do povoado e a gente da comunidade forma um círculo ao seu redor. Então todos cantam a sua canção. A tribo reconhece que a correção para as condutas anti-sociais não é o castigo; é o amor e a lembrança de sua verdadeira identidade. Quando reconhecemos nossa própria canção já não temos desejos nem necessidade de prejudicar ninguém. Os amigos conhecem a sua canção e a cantam quando a esqueces. Aqueles que te amam não podem ser enganados pelos seus erros ou pelas imagens escuras que mostras aos demais. Os amigos recordam sua beleza quando te sentes feio; sua totalidade quando estás quebrado; sua inocência quando te sentes culpado e seu propósito quando estás confuso.

A sua música pode ser Tocata e Fuga, de Bach, a belíssima Missa da Coroação, peça de Mozart; de Heitor Villa-Lobos ao repertório de Artur Piazzolla.
Parte da beleza da música dos pássaros deve-se a sua brevidade. O som não deixa evidência para trás.

Geração zangada

Os humanos são adaptáveis. Estamos vivendo um tempo interessante, que pode ser interpretado como uma benção ou maldição, à medida que enfrentamos várias ameaças, que vão desde a evolução tendenciosa dos algoritmos, o extremismo político e religioso e as mudanças climáticas. Mas sobreviver neste planeta é nosso instinto.

A Associação Americana de Sociologia divulgou pesquisa feita com 105 profissionais de áreas diversas, entre os quais sociólogos, antropólogos, neurocientistas, astrônomos, médicos, ambientalistas, advogados, educadores, biólogos… de vários países e duas questões foram colocadas para  debate: “O que mais preocupa no futuro e o que dá esperança no futuro”.

As preocupações passam exatamente por onde imaginamos: Nossos sistemas econômicos, políticos e religiosos não funcionam para todas as pessoas. Acentuam as desigualdades, a fome, preconceito, a divisão crescente ao longo das linhas da etnia, religião e raças. Há uma preocupação centrada nos maus políticos, nos governos autoritários, que promovem corrupta distribuição de recursos ambientais e financeiros além de esvaziar a cidadania e direitos civis dos cidadãos. Preocupam-se também com coisas que aparentemente ocorrem sem controle no mundo todo: proliferação de notícias falsas, comércio das drogas e armas e a retórica do ódio.

Entendo que a essência do ser humano é o amor. A ganância e o ódio são os desvios. Mas não estamos numa situação de sentar, respirar fundo e relaxar, todavia, foram surpreendentes as considerações dos pensadores apontando os caminhos pelos quais sairemos do vale nublado que nos encontramos. É impressionante a força que creditam aos movimentos sociais, com o engajamento de jovens. Dizem que os jovens estão reinventando o ativismo e encontrando maneiras radicais de entender e lidar com as injustiças praticadas ao longo dos tempos e responsabilizar culpados.

Constatam que a geração jovem está zangada e essa raiva justa ativa a criatividade radical deles, que estão caminhando numa combinação entre a ciência, a arte e teoria crítica, com o objetivo de criar conhecimento que não reproduza maior desigualdade e assim, o extraordinário potencial das gerações futuras de assumir desafios imensos, sem serem intimidados por fracassos do passado, deixou os profissionais pesquisados esperançosos de que a informação e educação acabarão chegando a lugares e grupos de pessoas, que historicamente nunca foram alcançados.

Os educadores relatam que orientam teses de jovens comprometidos, engajados nos processos de inclusão, que questionam as plataformas políticas antiquadas, desafiam os estereótipos do que é estabelecido como certo e errado. Que esses jovens utilizam os avanços da tecnologia para resolver problemas da vida real e através das mídias sociais se mobilizam e distribuem conhecimento.

Enfim, as interações saudáveis ​​e a motivação humana para a inovação durante períodos de quase colapso, nos guiam em direção à novos caminhos, novas formas de conexões à medida que nos adaptamos a um mundo em mudança.  Ainda estamos a tempo de perceber que podemos ser a salvação, ao invés de destruidores da vida e assim, eventualmente, encontrar um significado mais profundo para nossas próprias vidas.

Críticas mais ou menos encomendadas

A maioria das pessoas tomam conhecimento dos fatos políticos e das decisões políticas através da mídia. A partir dessa hipótese é uma tendência crer que a mídia “colonizou” a política, como argumentou o cientista político alemão Thomas Meyer ao explicar as relações entre mídia e a política. Em linhas gerais, ele exemplifica que a política flexibilizou sua própria lógica para adaptar à lógica e ao sistema de influência da mídia.

Nem é preciso ilustrar isso de forma mais clara porque percebemos o dia a dia dos governos, políticos e suas assessorias ligadas no “timing” das emissoras de mídias. Isso reforça a tese de Meyer de que a política abriu mão de suas particularidades para ajustar-se aos códigos da mídia. E parece que o sistema político não tem opção e a mídia tem gerenciado as cenas e as relações políticas. Então, por contraditório que isso possa parecer, o fato é que a mídia encontra cumplicidade no próprio campo político.

É inegável a midiatização da política. A imprensa tem exercido o papel de criticar e reproduzir críticas aos governos, políticos e cidadãos que circulam próximos a estes e isto é absolutamente benéfico ao processo democrático, no entanto, muitas matérias chegam a parecer encomendadas e as críticas parecem assinadas por sabidos adversários no meio político. São críticas de opinião, geradas por critérios objetivos, feitas por panelinhas de partidos ou grupo de interesse difuso, para criar embaraços e descompensar adversários.

A ligação da política com a mídia não pode ser vista de forma perigosa ou potencialmente negativa, porém, nada justifica as críticas reproduzidas pelos meios de comunicação, como forma simples e pura de ataques pessoais, faltando com a verdade, na maioria dos casos; defendendo interesses espúrios e revelando promiscuidade na relação.

Tem sido assim: conversa de bar sem a devida verificação tem se tornado nota pública nos meios de comunicação e a quem interessa o que dizem esses fraseadores vulgares?

Quase a totalidade do que se lê hoje sobre política está baseado na superficialidade de “gostei/não gostei”. Na atividade apressada dos que buscam notícias para publicar, não há revisão nem filtro nas publicações e consequentemente dão importância exagerada a pequenos fatos que mal mereciam ser notas de rodapé. Visto que são, em grande parte, matérias inconsistentes, elevadas à impressões pessoais, objetivos pessoais, críticas crônicas e provocações aos adversários.
Política é coisa séria. Imprensa é coisa séria. Pelo menos, deveriam ser.

Quando as pessoas pensam alto

É creditada a Winston Churchill a seguinte frase, sobre política: “o melhor argumento contra a democracia é uma conversa de cinco minutos com o eleitor médio”. Aplica-se a frase aos demais ambientes da vida e pode-se até expandir a escala de inteligência que tem-se a constatação de que as pessoas deliberadamente decidiram falar, opinar sobre tudo, em todas as mídias que conseguem acessar, “falar pelos cotovelos”.

A maioria, baseia suas opiniões em quem são e não no que pensam, considerando o contexto cultural, a participação em grupos diversos na sociedade. Ou seja, o pensamento e comportamento representam apenas a sua tribo e seus interesses.  E assim as questões pessoais ganham relevo incômodo nesse emaranhado de vozes impregnadas de ignorância racional.

Conversei demoradamente com um amigo, que habituado a muito falar e ser aplaudido sem muita contestação, está estranhando esse momento em que as pessoas, expressam discordância, estruturam teses incertas, desnorteadas, manifestam ódio ou apoio, mas não mais hipotecam a ele o silêncio cúmplice à suas teses cultas e bem elaboradas.

Compreendo que nossa mente não pode ser fechada em nós mesmos, em nossas experiências. Devemos ampliar nossa visão com os valores trazidos por pessoas nos diferentes encontros promovidos pela vida como oportunidade para vencer a vaidade que aprisiona no estreito ambiente confortável e familiar.

Precisamos ouvir as histórias uns dos outros. Nós realmente precisamos reconhecer a experiência do outro como eles nos apresentam, em caprichosas elucubrações, ainda que com conhecimento em nível médio.

Penso que a realidade não é condicionada a vitórias e derrotas, equilíbrio e desequilíbrio, manifestação positiva e negativa. Nem sempre precisamos de resultados específicos. Nós precisamos um do outro!.

Não havemos de nos espantar com os exageros, com as misturas tóxicas adicionadas às discussões, com a confluência de circunstâncias; não havemos de nos intrigar porque os indivíduos descobriram que efetivamente podem usar a internet para fazer voar suas opiniões ou crenças. Isso não tem volta.

Lembro meu amigo que as pessoas que comandam os shows são surpreendentemente medianas e conviver com as diferenças, inclui aturar os desníveis intelectuais, por outro lado, muitas pessoas contrapõem nossas ideias não para desafiar nossas opiniões ou banalizar o esforço da pesquisa, mas para nos despir do desesperado desejo de impressionar os outros.

Junto ao calhamaço de informação sobre a vida alheia, sobre a política, ouve-se  o eco desconcertante dos que não aprenderam que dialogar é uma via de mão dupla e que emitir juízo sobre algum tema não implica catapultar-se dentro da história e liderar a trama.

Não existe lado de fora

Respeitar os outros é um valor melhor compreendido por aqueles que respeitam e valorizam a si mesmos, seus estudos, o pensamento, a crença, a visão de mundo e a constituição familiar. Não é retrógrado aquele acolhe com carinho as ideias concebidas em ambientes que não frequenta.

Podemos falar de tudo: do céu, da terra, de coisas remotas e opostas, transmitindo respeito e compreensão, porque a tolerância é a virtude da moderna democracia pluralista. A tolerância, não é um valor decadente, tampouco um valor subversivo.

Hoje, mais do que nunca, interagimos com pessoas de diferentes etnias, religiões e culturas. Os espaços públicos estão cada vez mais diversificados, refletindo as comunidades que fazem parte do nosso patrimônio cultural. As diferenças vêm de pessoas de todo o mundo e enriquecem nossa cultura, trazem novas ideias e revigoram nossas relações.

Internamente somos também uma rica mistura de tradições culturais de todos  os cantos do país. Não há, portanto, ponto de partida para descobrir semelhanças, para se conectar e construir relacionamentos plenamente realizados à luz da distinção e do respeito às opções particulares quanto a fé, cultura, política e tudo o mais que constitui o nosso complexo e desacomodado ser.

Diagnosticar uma doença não é o mesmo que curá-la. Estamos conscientes da confusão que as diferenças ideológicas, culturais e religiosas causam nas nossas mentes, porém, não podemos nos sentir hesitantes ao expressar insatisfação diante de certos posicionamentos carregados de cizânia,  mas não podemos negar ao outro o direito de manifestar-se igualmente livre da tutela intelectual, que tem calado diálogos que poderiam enriquecer as discussões sobre esse mundo e os mais de 7,59 bilhões de seres únicos que aqui vivem.

Tolerar e acolher o fato de que vivemos em uma sociedade ricamente diversa e que este fato é imutável por desejo ou decreto, seria talvez o primeiro passo para enxergar a tolerância como um valor indissociável à vida moderna e importante no mundo interdependente no qual vivemos, onde não há mais lado de fora, tampouco, a opção de isolar-se.

Em tempos de rispidez, da política de ressentimentos, a adaptabilidade à mudanças exige continuada tolerância e compromisso de habilmente manter aberta a porta do diálogo, principalmente para não permitir a legitimização da intolerância.