É preciso correr o máximo que você puder, para permanecer no mesmo lugar. Se quiser ir a algum outro lugar, deve correr pelo menos duas vezes mais depressa do que isso”. Lewis Carrol, aclamado autor de “Alice, no país das maravilhas”.
Passamos ano após ano freneticamente ocupados, correndo em círculos, estressados, ansiosos e irritados. Apesar da dor que isso inflige, a vida tem sido pautada pelo sentimento de urgência, pelas atividades frenéticas que atormentam e consomem boa parte do curso de nossas vidas. A sensação de estar apressado não é necessariamente o resultado de uma vida plena. É muito mais um medo difuso de estar desperdiçando a vida.
Algumas pausas, que a princípio podem ser desconfortáveis, acabam sendo reveladoras para racionalizar os sentimentos, os questionamentos, dormências e transformações.
Cultivar a paciência de ver as flores se abrirem depois de longo tempo entre o plantio e sucessivas regadas é essencial para manter o equilíbrio nesse tempo em que se vive colocando urgência em tudo e assim fica para trás a cortesia nas argumentações, a tomada de posição compatível com a sabedoria que detemos.
O relógio, de fato corre e viver, aprende-se. Envolve análise, não meramente conceitual, mas baseia-se principalmente na compreensão de que o tempo não está passando rápido demais. O dia, de todos nós, tem as mesmas 24 horas de outrora e a forma como utilizamos essas horas é que nos dão a sensação de prazer, de urgência, de aflição ou de gratidão.
O inimigo da urgência é um calendário de compromissos em que tudo se opera com extremo senso de urgência e não raramente nos afasta de nossas prioridades e da capacidade de respondermos bem a todas as nossas demandas.
Viver é um processo de movimento em direção à uma boa morte, é como uma dança transitória, um processo que regenera e cura. Não precisamos ser vítimas da doença da pressa. Viver é muito mais do que vagar pelos corredores de um grande hospital, procurando remédio para curar as doenças que desequilibram emocionalmente, que causam convulsões ou produzem emoções falsas.
Devemos ser proativos sim, mas precisamos nos libertar da necessidade de ter respostas e propostas para tudo, aqui e agora e usar os dias de maneira mais intencional, consertando a vida, os relacionamentos e refazendo coisas desfeitas.
Enfim, conduzir a vida entre conexões profundas e significativas, dedicar tempo as pessoas que amamos, realizar o trabalho que inspira e que pode fazer a diferença e não nos entregarmos ao angustiante processo de sermos os primeiros a opinar, a responder, a confirmar. Opiniões dadas às pressas tendem a ser mais provocativas e nem sempre são autênticas.
Se a vida é curta, não faz sentido passar correndo por emoções e prazeres que já são em si sentimentos efêmeros. Percebo que a questão é não levar a ferro e fogo a frase eloquente do filme Clube da luta. “Esta é a sua vida e ela está se acabando a cada minuto”.