Quase todas as grandes tradições espirituais do mundo cristão dizem que a morte não é o fim. Todas pregam sobre algum tipo de vida futura, numa dimensão outra e mesmo a possibilidade de continuarem humanos.
O que vivem num deserto espiritual, destituído de significados, podem crer que essa vida é tudo o que existe e por acreditar que a vida se exaure, as pessoas modernas vivem a saquear as riquezas da natureza e de suas existências para satisfazer suas vaidades imediatas.
Muitas pessoas quando pensam na morte, o fazem de maneira frívola, dizem que se a morte chega para todos, tudo bem, um dia vai chegar aqui também. Mas não é bem assim. Não se deve correr da morte, tampouco desmerece-la ou viver aterrorizado por ela.
Pois a morte não é aniquilação e perda. Aqueles que não creem na vida após a morte são exatamente os que sustentam suas vidas no curto prazo, sem grandes preocupações com as consequências de seus atos. Esses, vão vivendo seus dias felizes até que a morte emite sinais que se aproxima e aí nenhuma lembrança de felicidade ou extremo conforto pode proteger do sofrimento.
Penso no mundo moderno que hoje vivemos, reverenciando a juventude, sexo e poder, nos escondendo da velhice natural que chega, inexoravelmente!
Quase sempre quando alguém muito próximo morre, inventamos a máxima de que temos que deixar os mortos em paz. Isso nada mais é do que uma negação clara e dolorosa de pensar sobre o futuro do morto.
A morte não é deprimente nem excitante. É um fato da vida.
Os que creem tem tempo para preparar uma boa morte. Os que não creem são devastados por remorsos e arrependimentos tardios. Pessoas morrem despreparadas, assim como viveram despreparadas para viver.
A jornada da vida nos oferece oportunidades para mudar, para nos preparar com paz de espírito para a morte e a eternidade. Eternidade exatamente com o teor poético de Vinicius de Moraes. Vida eterna enquanto durar.
Na abordagem budista, que solitariamente estudo há uns cinco anos ou bem mais, a vida e morte são parte de um todo, onde a morte é o começo de um novo capítulo da vida.
No Livro Tibetano dos Mortos e no Livro Tibetano do Viver e Morrer, aos quais tenho de dedicado a ler, entender e interpretar aprendi muito sobre as realidades transitórias, vida em constante mudança, os meus “bardos”. E tal busca, sem razão aparente, tem servido continuamente para que eu reflita serenamente sobre minha vida, morte e renascimento.
Como disse o poeta e santo tibetano, Milarepa: “Minha religião é viver – e morrer – sem arrependimentos”.