Debate necessário: mulheres na política

Pensou em entrar para a política?

Para, pensa e repara todos os seus atos dos últimos tempos.

A vida privada será muito mais explorada do que as competências e tudo, absolutamente tudo pode vir à tona e contribuir para eleger ou para afundar um pretenso candidato.

Dias atrás participei de seminário sobre comunicação política voltada para mulheres candidatas. E lá não nos pouparam de revisar as criticáveis estatísticas. O Brasil está em 95ª posição no ranking mundial de igualdade de gênero, considerando mais de 50 itens, entre os quais, acesso a saúde, educação, renda e participação política. Igualdade de gênero somente no ano de 2080, em diante.

52% da população é feminina, 40% das famílias mantidas por mulheres. Brasil é o 5º país considerando a taxa de feminicídio.

Mesmo representando 52% do eleitorado as mulheres são sub- representadas na política em todos os níveis de poder. Em Brasília, um grupo de quatro mulheres jovens  estão rodando o documentário chamado “Me Farei Ouvir” e quer mostrar exatamente esta vulnerabilidade, da baixa representação.

Elas abordam questões como sub-representação, Lei de Cotas e a urgência na equidade de gênero. Estão tentando passar conteúdo para servir de alerta nas eleições do próximo ano.

O documentário aborda a questão da cota de 30% para as candidaturas e 30% do financiamento público de campanha também para elas e faz um paralelo com as candidaturas que não entram na cota eleitoral, como ao Senado Federal e Executivo. A presença feminina é ainda menor. Algo injustificável, uma vez que mulheres são responsáveis por 40% dos lares, segundo o IBGE, e representam 30% dos candidatos.

O objetivo do filme, que descarta qualquer recorte partidário e ideológico, é .promover um debate necessário no país: a dificuldade de as mulheres se elegerem.  O trabalho destaca números instigantes: dentre os 513 membros da Câmara dos Deputados, só 77 são mulheres. Destas, apenas 13 são negras e só uma é indígena, números desproporcionais em relação a representação do universo feminino existente no país.

Em outra ponta, o seminário apresentou o estudo de Jennifer L.Lawless, professora de política na Universidade de Virgínia, E.U.A., que cita que entre tantos fatores é preciso que as mulheres tenham motivação e ambição pela política. A autora questiona se homens e mulheres estariam num grupo de elegibilidade de candidatos em potencial com a mesma probabilidade e condições de concorrer a um cargo público. Claro que não!

Aponta o estudo que as mulheres, mesmo nos níveis mais altos de realização profissional, são significativamente menos propensas do que os homens a demonstrar ambição de concorrer a cargos eletivos. E os mais importantes cargos dentro dos partidos estão nas mãos dos homens, assim a estrutura partidária é indiscutivelmente masculina e machista. Nisso, tanto o documentário brasiliense quanto o estudo americano estão de pleno acordo.

Tem que ter o que mostrar

Quem trabalha com política sabe que cada minuto é crucial para o bom andamento do planejamento de uma campanha. É gratificante quando uma campanha ganha a mente e o coração dos eleitores por meio de uma estratégia de marketing cuidadosamente elaborada, humanizada, que divulgue uma mensagem crível.

Os políticos são quase todos indomáveis. Mais ainda agora com a novidade da eleição sem coligações partidárias, portanto, cada candidato por si e os maiores, com passos largos à frente.

A política é uma atividade complicada. Dá enorme visibilidade e poder. E se exercida com seriedade, também tolhe, exige abnegação e expõe.

Os partidos já estão em plena preparação para as eleições municipais em 2020, buscando adesão de lideranças com perfil político e não estão se antecipando muito não. O pleito municipal é algo grandioso, em números. Na última eleição, a Justiça Eleitoral registrou quase meio milhão de candidatos aos cargos de prefeito, vice-prefeito e vereador nos 5.568 municípios brasileiros. (Exatamente 496.894 candidatos).

A tecnologia certamente continuará sendo uma grande aliada das produções de conteúdo de campanha, mas vale lembrar que nas eleições municipais nada substitui uma visita ao bairro, uma batida na porta, uma boa conversa para relatar as práticas diárias. Passou o tempo das campanhas envoltas em pirotecnias e superficialidade.

Vale muito ter o que mostrar.

Apesar dos números grandiosos, a eleição municipal não rende muito entusiasmo na mídia tradicional, mas grandes batalhas ocorrem nesse paralelo entre o desinteresse, a falta de informação e as “fakes News”.

Para combater as “fakes News”, há um acordo entre a Câmara e o Senado para aprovar, antes de outubro, um projeto de lei que possa coibir a proliferação de notícias falsas durante o pleito eleitoral de 2020.

As eleições municipais tem muito a ver com educação gratuita, bons serviços de saúde, distribuição de água, geração de emprego, pautas que em geral resultam na inquietação diária das famílias menos favorecidas.

Um ponto que vale muito observar é como as nossas cidades sairão das eleições, se transformadas em zonas conservadoras, liberais ou oposição. Esse é um legado interessante do processo eleitoral nos municípios ano que vem.

A escritora mineira, Adélia Prado, ao perceber a aproximação da eleição, certa vez escreveu: “Ô-vida, meu Deus. Pior é que eu já perdi a inocência para os partidos, então quando falam em ‘os estudantes‘ ou ‘as donas de casa‘ eu saio no meio do discurso, seja quem for, porque não acredito que a humanidade se salvará por uma de suas classes. Não quero ser governada por operários enfatuados, deslumbrados por terem a chave do cofre. Quero que me governe um homem bom e justo, que cuide para que chegando a noite todo mundo vá dormir cedo e cansado com tanto trabalho que tinha pra fazer e foi feito”.

A mão que afaga é a mesma que apedreja

Vale tudo é um tipo de esporte, considerado agressivo e violento, uma luta com poucas regras e limites em que os mais diversos golpes são aceitos, tem a duração de 15 minutos, divididos em 3 blocos chamados de round. Isso quer dizer que um sujeito tem 15 minutos para espancar o outro, tentar nocauteá-lo. Só que normalmente as lutas se dão em igualdade de peso e potencial de bater e defender-se.

O vale tudo do qual vou falar é o que tem estampado as primeiras páginas de todos os jornais locais e nacionais e tem acontecido no ringue em espaço familiar, na sala, quarto e qualquer lugar público. Sim, tem tido audiência! A luta desigual em força física, tem acontecido inclusive, na frente das crianças e muitas vezes tem a duração de uma noite toda.

O que está acontecendo com os homens? A mão que afaga tem sido a mesma mão que espanca impiedosamente.

Temos lido sobre sessões de tortura, mordidas que arrancaram pedaços da face e dos lábios, casas incendiadas, animais de estimação sendo envenenados. Como pode o amor transformar-se em ódio brutal, como pode compartilhar uma gestação e depois matar o bebê apunhalado com chave de fendas por retaliação ao fim do relacionamento?

O que tem cegado os homens, que explodem em fúria, espancam, atiram, queimam, arrancam coração? Como crer que tenham sido humanos um dia?

O fim, não apenas de um relacionamento mas de tudo na vida é coisa certa, não perceberam ainda?

A ignorância de depositar no outro a responsabilidade sobre a própria felicidade e a confiança de que as coisas vão se ajeitar, de que a violência não vai se repetir tem resultado em mortes absurdas.

Os indomáveis estão à solta, os alvos estão ao alcance e vulneráveis e imagino o medo que tem permeado algumas relações, sobretudo quando baixa a noite.

Não estamos conseguindo superar a violência praticada por homens contra mulheres, na qual o agressor e vítima estão intimamente ligados à explicação dessa violência, quase sempre perpetrada pelos homens para manter o controle e o domínio sobre “sua” mulher. O fato é que, geralmente, as mulheres estão emocionalmente e economicamente envolvidas com seus agressores.

Torna-se cada vez mais evidente que os abusos cometidos contra crianças e adolescentes é tanto mais comum quanto mais severo nos segundo casamentos, com a figura dos padrastos. Mas a agressão contra as mulheres está acontecendo em toda esfera de relacionamentos.

Temos percebido a justiça mais ágil, os assassinos logo presos, mas nas manchetes do dia seguinte um novo rosto com marcas roxas estampará as capas dos jornais. Mais um assassino será preso e assim tem sido cumprido o círculo de sonhos, casamentos filhos, espancamentos e mortes.

Boas práticas e tentativas de diminuir a violência têm acontecido nos Conselho, nos Governos, com adoção de políticas públicas para prevenção e combate à violência, porém todas tem sido ineficientes no sentido literal de seus propósitos, inclusive a ativista Maria da Penha, que cede seu nome à Lei de proteção à mulher, criticou a Lei num evento recente, justamente porque não tem, com efeito, conseguido proteger as mulheres.