Os sujeitos estão fragilizados. São cada vez mais os dedos que se queimam no calor das discussões, quando as emoções são atiçadas.
A socióloga polonesa Elzbieta Tarkowska, citada várias vezes pelo sociólogo Zygmunt Bauman, diz que a indefinição e insatisfação que permeia nossas vidas, remete à ideia do caos, porque estamos sempre, de certa forma, vivendo um estado de coisas caracterizados pelo fluido, pela ausência de forma, indeterminação, indiferenciação, a total confusão.
No estado de caos a mudança é permanente, a situação parece, aos que nela estão envolvidos obscura e imprevisível. Entendo o caos descrito por Tarkowska como um estado de coisas em que tudo pode acontecer, um estado em que a probabilidade de um certo acontecimento não é superior a de qualquer outro, ou ainda que fosse, não poderíamos prevê-lo.
A existência caótica é desprovida de estrutura, de lógica, sem clara distribuição das probabilidades e a ausência de intervenção no desenrolar dos acontecimentos cotidianos.
As transgressões vão acontecendo, abrindo brechas, até que o absurdo se instala em nossas vidas.
O confronto com o caos já seria por si bastante perturbador e doloroso, mas a novidade do fato, é que aqui estamos nós absortos, indiferentes em meio a toda desorganização de nossas existências.
A ordem tão almejada existe tanto quanto existe a desordem. São faces da mesma moeda.
As pessoas se adaptam facilmente à riqueza ostentada e à miséria interior ocultada. Tudo está no palco do espetáculo: catástrofes, crueldades, epidemias e outras tragédias que imundam a ordem dos nossos dias.
No mundo contemporâneo o que conta é a habilidade de se mover, não importa se para frente ou para trás. Não queremos que nossa identidade se fixe. Somos seres multifacetados.
Todavia, o mundo que habitamos esta cada dia mais assustador, ambíguo, incontrolável, violento e instável.
A vida política, inclusive foi atingida por evidente fase de desconsideração.
A ciência tem explorado a complexidade, o inédito, porém evidencia-se que não há busca pela harmonia na mesma proporção. “Um caminho parece claramente traçado. É o caminho da perda de sentidos, do conformismo, da apatia e da repetição de formas vazias”, como afirmou Castoriades, filósofo grego/francês, quando escreveu sobre a ascensão da insignificância.
Embora haja uma exigência de se buscar novos objetivos políticos e novas atitudes humanas por seguir caminhos dignos, o que vejo são poucos sinais de que isto esteja acontecendo.