Que a doença tenha logo a cura

Eu me relaciono com a vida como um mistério que se desenrola aos poucos. Todo momento, toda circunstância é uma chance de experimentar as coisas como elas são, e não como desejo ou temo que sejam. Passo muito tempo na companhia de meus pensamentos e sentimentos, e às vezes, sou companheira da observação silenciosa.

Neste momento, impossível ignorar o contexto de caos diante da pandemia, que levou consigo familiares, amigos e milhares de pessoas que não conheço, porém tenho compaixão pelo sofrimento de todos os seres. Deixei-me sangrar no luto, porque o luto não é o prenúncio de uma vida escura. As perdas fazem parte do caminhar de todos nós.

A tristeza, às vezes arrasa como um grande incêndio, embora na mente não haja lenha, mas não vivo a fantasia de viver em paz, negando a tristeza que certos fatos causam. A dor me abre para muita ternura e amor.

Entretanto, tem sido necessário reprogramar a mente para absorver as mudanças, aceitar as novas regras de convivência. Distanciar-se é ainda estranho, assim como, impedir o abraço, sorrir com os olhos. Não são mudanças sutis que passam despercebidas. Uma série de mudanças, de um dia para outro, de uma vida para outra, além do nosso controle, dos limites da cultura de tocar, abraçar, estar juntos.

É grande a porcentagem de pessoas que relatam sintomas de ansiedade por estarem, de certa forma, ainda inseguros de retomar a rotina de atividades fora de casa. Nostalgia ao lembrar das caminhadas no Parque, jantar com amigos afetuosos, que brindam e abraçam.

Às vezes, a impermanência é essa ruptura radical mesmo e não há nada que possamos fazer além de acumular o mérito de recitar orações, cada um ao seu Deus ou nenhum, para que nos libertemos do medo da doença, para que possamos abrir os olhos e dizer sim para as coisas das quais nos afastamos.

Quando as coisas estão difíceis, abro meu coração ainda mais para a reconciliação com a esperança eclipsada pelo caos que dura muito mais do que imaginávamos.

Como a pandemia não passa, estamos vivenciando este ciclo hora pós hora, há como certo, formular que, passar por momentos turbulentos dói, que o sofrimento faz parte da vida e que ainda assim podemos cultivar uma relação positiva conosco e com os outros, protegidos de reações emocionais exageradas e descansar a mente na perspectiva que contém confiança no rumo que as coisas vão seguir. Que a doença tenha logo a cura!

Estou consciente que muito prezo a conexão com as pessoas e nunca mais quero estar ocupada demais para parar, expressar apreciação e conhecer alguém.