O Brasil é um dos países mais desiguais do mundo e por ser este um problema secular, sistêmico, sustentado pela má distribuição de renda, dorme esquecido num canto, enquanto discute-se amenidades. No senso de 2020, o IBGE apontou o Brasil na sétima posição entre os países mais desiguais do planeta.
Um país onde os 10% mais ricos detém 43% da renda nacional e tem a segunda maior concentração de renda entre os mais de 180 países. O problema, embora urgente, parece ter solução inatingível. Como escreveu Mário Quintana, “se as coisas são inatingíveis… ora! não é motivo para não quere-las…Que tristes os caminhos, se não fora a presença distante das estrelas”.
A cada campanha eleitoral que se inicia renasce a esperança de ver temas considerados direitos básicos assegurados pela Constituição serem pautas prioritárias dos candidatos, como investimento em saúde, cultura, lazer, educação, todavia continuamos andando em círculos, envoltos no mar de desigualdade, pobreza extrema, racismo, violência, desemprego, precariedade da saúde, falta de habitação, etc.
Um jornal local publicou essa semana que o alarmante número de 361 mil mato-grossenses não tem acesso à moradia digna. São cidadãos que não possuem acesso ao crédito formal, que não conseguem assumir compromisso mensal de pagamento de parcelas, porque sua condição como trabalhador é instável. Estes são os mesmos que sobrevivem com o auxílio do cartão Ser Família, da distribuição de cestas básicas, de cobertores, enfim, de soluções emergenciais, porém, paliativas.
Mesmo ratificado na Declaração Universal dos Direitos Humanos e na Constituição Federal, considerada a Constituição Cidadã, o acesso à moradia, no Brasil, em Mato Grosso, é um direito assegurado só no papel, não um programa de governo, infelizmente! Em Mato Grosso mais de 140 mil famílias vivem com renda mensal abaixo de R$ 150, o que contrasta sensivelmente com o PIB elevado do estado.
Nos boletins diários da Câmara Federal, onde dão destaques aos projetos aprovados, há pequenos e significativos avanços aqui e acolá, como a distribuição de absorventes higiênicos sobretudo para meninas de baixa renda e realização do centésimo seminário para abordar a importância da participação da mulher na política. Assuntos que perdem a relevância diante da violência praticada pelo aparato do estado na morte do jovem Genivaldo de Jesus, no estado de Sergipe, ocorrida essa semana. Ele morreu asfixiado pelo uso excessivo de spray de pimenta e gás lacrimogêneo aplicado já dentro da viatura, quando ele já estava imobilizado. Genivaldo era negro.
Assim, com episódios recorrentes do aumento da pobreza, falta de moradia digna, precariedade por falta de investimento na saúde pública, falta de oportunidades de emprego, a pandemia escancarou o péssimo quadro de desigualdade social e econômica vigente no Brasil. O cenário dos sonhos seria o governo continuar assistindo quem precisa, com uma renda mínima decente e gerar trabalho e renda para a grande maioria que quer ter sua própria capacidade de trabalho e viver exclusivamente dela e não depender de favores do Estado, que quase sempre, falha na proteção aos seus.