A universalidade da dor

A Primeira Nobre Verdade do Budismo nos ensina que há sofrimento em todas as instâncias da vida; é inevitável. E não devemos alimentar qualquer ilusão de que seja o contrário, não é possível ao ser humano conquistar total satisfação neste mundo, há momentos que desejamos poder mudar o final da história que estamos vivendo, às vezes, perdemos o que nos importa, somos separados daqueles que amamos, nossos corpos falham à medida que envelhecemos, nos sentimos impotentes ou feridos ou nossas vidas parecem estar se esvaindo. 

Seres humanos sofreram na antiguidade, sofrem hoje em dia e muito provavelmente também irão sofrer no futuro. Sofremos todos, desde os seres humanos mais privilegiados aos mais desesperados e desprivilegiados. Toda a gente, em todo o lado sofre. É uma ligação que temos em comum, todos compreendemos. 

E não é a impermanência das coisas que nos faz sofrer, é nossa ignorância, que nos faz pensar que a felicidade eterna pode ser obtida por meio de coisas materiais e transitórias. 

O Budismo percebe a universalidade da dor e repousa sua filosofia sobre esse eixo e para curar essa condição semelhante à doença, primeiro temos que reconhecer a existência do sofrimento, encontrar sua causa e, em seguida, buscar o caminho de treinamento semelhante à medicina para restaurar nossa boa saúde interior. Isso, contudo, não é causa para proclamar que o Budismo é uma prática pessimista mas, ao contrário, ensina que a verdade repousa no caminho do meio entre pessimismo e otimismo.

Seria o sofrimento uma condição inerente ao simples fato de estarmos vivos, temendo a morte, o sofrimento latente, aquele que está presente mesmo nos momentos mais felizes: o medo consciente ou não das perdas, da impermanência, da deterioração dos laços, do fim dos bons momentos: coisas se quebram, pessoas morrem, sofremos porque vivemos presos a um mundo de ilusões constantemente mutáveis. O sofrimento, segundo o Manual Diagnóstico e Transtornos Mentais (DSM) é algo difícil de definir, pode ser uma experiência, uma resposta emocional a tantas aflições sociais.

Entre os textos Budistas antigos e a análise do sociólogo Zygmunt Bauman diante do mal-estar na pós-modernidade, reveladas em quase todos os seus livros, há certa simbiose e uma vigorosa reflexão sobre os anseios, a violação de valores nas periferias do mundo, o individualismo e as relações efêmeras, que acabam provocando um vazio existencial, que dá sobrecarga ao sofrimento inerente, que já nos pesa os ombros. Entre os filósofos, o alemão Arthur Schopenhauer utiliza a máxima que “toda vida é sofrimento”, porque, segundo ele, nada existe fora da manifestação da vontade e a vontade é faminta, daí a caça, a angústia e o sofrimento. “Para todo ser vivo, o sofrimento e a morte são tão certos como a existência”.

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