Eu quero estar presente no mundo, saber o que está acontecendo, mas o teor das notícias e a velocidade com que elas se propagam estão causando a mim e tantos outros, um nível preocupante de descompensação emocional. Afirmo que meu desejo de estar bem-informada está atualmente em desacordo com meu desejo de permanecer sadia.
Tem sido um ano desafiador em termos de notícias ruins, pesadas e difíceis de superar. Em apenas 3 meses, 2023 já mostrou a cara perversa da violência com o ataque às instituições em Brasília em 08 de janeiro, a chacina de Sinop, em fevereiro, a fúria das águas no litoral de São Paulo, que deixou um rastro de destruição e 65 mortos, o ataque a Escola em SP, que matou uma professora e desde então, deixou uma inacreditável marca de 279 ameaças de ataques em escolas paulistas, conforme informação da Polícia Civil e entramos abril com a tragédia na creche em Santa Catarina, que deixou 4 crianças mortas e outras feridas. Não há outro nome senão uma epidemia de notícias devastadoras.
E em um mundo onde as más notícias surgem em alta em 2023, essas são apenas algumas das manchetes mórbidas, com vítimas fatais, que dominaram o noticiário de janeiro até agora. Entretanto, não são apenas as notícias de ataques, desastres naturais com vítimas que chocam, acrescenta-se os casos macabros dos trabalhadores resgatados em situação de escravidão, 85 pessoas somente no Rio Grande do Sul, esse ano, a denúncia, que está sendo apurada pela Polícia Federal, da atuação de grupos neonazistas no sul do país.
É preciso dosar, equilibrar o tempo lendo notícias com o tempo lendo um bom livro, afinal, gerenciar a energia e o bem-estar não é egoísmo e sim, prevenção a um mal, considerado uma espiral negativa, apelidada de “doomscrolling” – uma tendência de insistir na busca por notícias ruins, tristes e deprimentes, que pode prejudicar a saúde mental. Estudos associaram o consumo de más notícias ao aumento da angústia, ansiedade e depressão, mesmo quando as notícias em questão são relativamente mundanas. Li um artigo do Dr. Graham Davey, professor emérito de psicologia da Universidade de Sussex, UK, com mais de 140 artigos científicos publicados nas revistas e jornais especializados, sobre a exposição a más notícias, que podem fazer com que as preocupações pessoais pareçam maiores e até causar “reações agudas de estresse e alguns sintomas de transtorno de estresse pós-traumático que podem durar muito tempo”. Diz ainda, que “os sentimentos de medo, tristeza e indignação desencadeados por manchetes negativas podem manter as pessoas presas em um padrão de monitoramento frequente”. Um preocupante quase vício.
Não há em mim a necessidade artificial de estar ‘por dentro’ das coisas e não considero a opção de desativar, e sim, equilibrar, o sininho que notifica a chegada das notícias, porque notícias boas chegam também, não com a mesma velocidade, não com a mesma ênfase. Li, que, em 2023, a primeira mulher preta chega no cargo máximo da Marinha Brasileira; apesar do problema de saúde recente, o Papa Francisco visitou na Sexta-Feira Santa uma casa de detenção de menores e lavou os pés de 12 jovens em privação de liberdade; o ator Brad Pitt comprou algumas pequenas casas ao lado da sua mansão, numa delas, morava um idoso, de 90 anos, que havia ficado viúvo. O ator decidiu deixar o vizinho continuar morando de graça até morrer. O vizinho viveu até os 105 anos.
As notícias pinçadas para divulgação, boas ou ruins não têm poder de explicar o mundo, são bolhas estourando na superfície de um mundo mais profundo, portanto, cuidado com a forma como você consome as notícias que recebe.