Sentimento de distanciamento

O Instituto de Pesquisa do Senado Federal vem há mais de 10 anos aplicando pesquisa quantitativa nacional para estruturar o panorama político do país e avaliar a opinião dos brasileiros sobre democracia e alguns dos principais temas em debate no país. No final de 2021, o levantamento foi realizado em todas as regiões do país. O fato relevante é que apesar de parecer em queda vertiginosa, o índice de interesse dos entrevistados pela política, foi considerado razoável, 53% manifestaram-se atentos ao desenrolar das construções de candidaturas, embora ao mesmo tempo tenham demonstrado falta de compreensão sobre as regras do sistema político brasileiro.

Uma mulher jovem, entrevistada em Curitiba disse que a falta de conhecimento sobre o sistema político é, em parte devido às mudanças constantes das regras e também, um jogo de alienação mantido pelo político, a quem interessa resguardar seus interesses e que uma maior consciência política por parte da população poderia trazer mudanças não desejadas pelo complexo sistema político, que hoje, favorece a manutenção do poder nas mãos dos mesmos em detrimento da renovação nas casas parlamentares, sobretudo.

Outro fator apontado nas respostas sobre a participação na vida política foi a desilusão proveniente da percepção de que a política em muito pouco, tem sido transformadora da realidade e pouco se discute sobre as demandas urgentes da sociedade. Por demandas urgentes podemos citar a má qualidade da educação pública, falta de investimento no SUS, descontrole da economia, percebido no preço do gás de cozinha, alimentos e combustíveis. São pautas que vão e voltam envolvidas em discussões superficiais e paliativas.

Decepcionados, muitos entrevistados não foram capazes sequer de lembrar em quem votaram para o senado nas eleições passadas. Questionados pela razão do esquecimento, muitos reforçaram o sentimento de distanciamento, não físico, da política nacional.

Consenso houve quando a pergunta girou sobre as principais fontes de notícias que tem influenciado o eleitor brasileiro: redes sociais, sem dúvida! As razões vão desde a agilidade com que as notícias são atualizadas ao direcionamento de comentários feitos pelos jornalistas.

Um entrevistado, homem colocou que as mídias sociais são mais isentas do que os canais fechados, além de permitir que se leia posicionamentos diferentes sobre o mesmo tema. A maioria dos entrevistados apontaram que as principais fontes de disseminação de fake news são amigos e familiares, em cerca de 73% dos casos.

A maior parte dos entrevistados avaliam que a TV tradicional é tendenciosa e distorce as informações para atender interesses de determinados grupos econômicos e políticos. Ao contrário da internet, que permite ao cidadão buscar informações livremente, a TV é vista como manipuladora. Como consequência, perde a credibilidade de grande parcela dos entrevistados.

Devemos caminhar no sentido de restabelecer o interesse do cidadão na política, em níveis, que não seja de encantamento, mas de participação e engajamento. Longe daqui, a comunidade acadêmica brasileira de estudantes de Harvard e do MIT, em Boston, nos Estados Unidos, fez o que muitos entrevistados pelo DataSenado reclamaram não ver por aqui, se reuniu para discutir os desafios e caminhos para o Brasil, na Brazil Conference 2022.

No centro de tudo, financiando e palestrando estava o Sr. Jorge Paulo Lemann, o homem mais rico do país, que do alto de seu mundo paralelo, inatingível para 99% dos brasileiros, encarregou-se de falar sobre a situação da educação no Brasil. Falou que só através da educação pode-se melhorar a desigualdade brasileira e propôs-se a discutir fórmulas de tornar a educação mais efetiva e os jovens brasileiros mais competitivos no contexto global. Falou também o óbvio, “que a educação pública brasileira é de péssima qualidade, que os alunos brasileiros sempre ficam nos últimos lugares em testes de interpretação de texto, matemática e que o problema não é de falta de recurso, é mal gerenciamento do investimento, gasta-se muito em ensino superior, quando a solução está na base”.

Perguntado sobre a política e as eleições brasileiras, esnobou. Disse não se interessar por política, nas escorregou nas palavras e finalizou: “Temos uma eleição em curso no Brasil  e no ano que vem, teremos um “novo” presidente.

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