O incompreensível virou rotina. Mulher briga com marido e joga o cachorro do 12º andar; uma criança paquistanesa de 10 anos, trabalhava como doméstica para um casal da classe média no Paquistão e é morta com barra de ferro pelos patrões; briga generalizada fere várias pessoas numa festa de formatura em Cuiabá; senhor idoso foi denunciado após ser flagrado se esfregando na sobrinha de 9 anos e após a denúncia várias outras sobrinhas denunciaram que haviam sido molestadas também; Ana Clara, uma garotinha de 6 anos foi queimada viva dentro de um ônibus no Maranhão. Pessoas absolutamente inocentes tratadas de forma vil. O que é isso? A banalização da maldade?
Seria insano negar a realidade do mal e os perigos a ele relacionados. O bem parece perder seu caráter, o padrão, pelo qual o bem e o mal podem ser reconhecidos. O homem perdeu a fé, a capacidade de pensar e de agir com auto controle. A maldade de certa forma nos embaraça, nos envergonha e deixa uma verdade desconfortável que nos ameaça como cidadãos.
O mal é banal. É banal e apresenta-se nas mais variadas formas de covardia e camuflagem. O mal é praticado diariamente pelo homem comum. Pessoas perfeitamente normais psiquicamente e socialmente podem cometer um mal inimaginável, pois as pessoas acumulam rancores pervertidos e como agravante, adicionam o componente da hipocrisia, da capacidade de enganar e mentir. Ou seja, qualquer sujeito patético, dentro da sua mediocridade pode armar cenas cruéis, de elevado impacto. O mal insidioso e emblemático reside em toda parte. O que horroriza, é a nossa incapacidade de perceber que o monstro pode estar por perto, porque o monstro tem a cara do bom vizinho da porta ao lado.
Grandes males estão manchando nosso cotidiano. O homem mimado vive de escolhas individuais, não pensa na dor do outro. A filósofa política, Hannah Arendt, ao analisar as atrocidades praticadas pelo chefe nazista Adolf Eichmann, que havia passado anos vivendo oculto na Argentina e após ser preso, foi julgado em Jerusalém, criou esse termo “banalidade do mal”, após ouvi-lo explicando as atrocidades que cometera, fazendo crer que limitou-se a cumprir ordens superiores, como se fosse indiferente o trabalho que desempenhara na chacina de seis milhões de seres humanos. A palavra é essa: Indiferença!
Vê-se então, que pessoas normais conseguem realizar tarefas condenáveis, portanto, não podemos de forma nenhuma aceitar que as pessoas que praticam o mal sejam, para se defender, tratados como deficientes mentais ou sádicos. A grande maioria são pessoas plenamente normais e não apresentam qualquer sinal de profundidade diabólica.
A banalização da crueldade, do pensar despreocupado com a punição é o extrato de uma realidade de oportunismo inconsequente e assustador. Não sei o que dizer, mas cuidado; as conversas vazias podem ocultar pensamentos hediondos.
Nossa vida flui ou se arrasta de um desafio para outro e de um episódio para outro, os pânicos vêm e vão, e embora possam ser assustadores, podemos presumir que terão o mesmo destino de todos os outros. Serão banalizados!