É imprescindível a conclusão do projeto de pavimentação da BR 163, trecho Cuiabá – Santarém

Considerada uma das principais vias de escoamento da produção de Mato Grosso, a BR 163 vem sendo prometida, lançada, iniciada, paralisada, retomada as obras, desde o governo de Itamar Franco. Hoje, há parcerias ali entre Governo Federal, Governo do Estado, Empreiteiras, Exército e está avançando, contra o tempo, contra as mazelas da poeira, das pontes estreitas. São cerca de 60 pontes de madeiras que estão sendo substituídas. Pelos governos de ambos estados, a BR 163 é considerada a espinha dorsal dos projetos de logística e desenvolvimento por abrir novas perspectivas de progresso para a região.
Viajei com olhos atentos, olhando a estrada, os estragos, as vidas e vilas que se amontoam no curso da BR. Ao longo do planejamento da viagem, depois de centenas de telefonemas e e-mails pude conhecer algumas pessoas que demonstraram de forma contundente, que a luta do povo em algumas regiões, depende muito do espírito solidário, da determinação, articulação e liderança de alguns poucos.

Logo que se ultrapassa a fronteira entre Mato Grosso e Pará, está localizado o pequeno Distrito de Castelo de Sonhos. Distante 1.100 km do município sede, Altamira, considerado o maior município do mundo, em extensão territorial.O distrito tem um sub-prefeito, mas é a comunidade que se organiza e realiza inclusive obras, em parceria com os comerciantes locais, que em coro pedem a emancipação do distrito e para tanto aguardam esperançosos a alteração na lei, diferenciada, que dispõe sobre a criação de municípios na região Amazônica.

Em Castelo de Sonhos foi criada a Associação de Produtores Rurais do Vale da Garça, que declarada de utilidade pública, é presidida por uma mulher, a Preta, que não sossega, anda pra lá e pra cá, reclama, dá ordens e organiza tudo impecavelmente, com ajuda de seus diretores. A Associação tem vida financeira própria, promove festas, cobra, arrecada e sobretudo, cuida de gente, com respeito. Nascida no Paraná, filha de produtores rurais pobres, veio para Mato Grosso criança, depois de percorrer com os pais os Estados de Rondônia e Acre em busca de oportunidade. Casou-se aos 15 anos em Mato Grosso, criou 5 filhos. Criou no sentido literal da palavra, deu-lhes estudo, dignidade e esperança. Mora em Castelo de Sonhos há 12 anos e desde então luta com dificuldade e afinco para melhorar a vida dos habitantes de Castelo de Sonhos.

Preta relatou os avanços que a Associação tem conseguido para este lugar que não tem hospital, não tem telefonia celular e sofre apagões constantes, um deles, recentemente, durou 3 dias. Mas as melhorias vão aparecendo aqui e acolá, um médico a mais para o PSF, projeto e convênio para a construção do primeiro hospital para a comunidade, que conta hoje com cerca de 10 mil moradores e tem ainda grande número de adolescentes sem escolas. Preta já foi recebida pelo ex Presidente Lula. Corajosa manifestou-se de forma irônica, escreveu Brasil com Z numa faixa e abriu-a na frente do Presidente e explicou que escreveu com Z porque os moradores de Castelo de Sonhos se sentiam como estrangeiros, fora do processo de desenvolvimento do país. A Associação tem lutas diversas em curso, entre elas, a regularização de áreas para doação para construção do hospital, a ampliação dos limites ou reversão da lei que criou a Floresta Nacional do Jamanxim.

A criação inesperada da reserva rendeu ato de protesto liderado por diversas Entidades e a Associação presidida por Preta, que coordenou boicote a uma série de oficinas sobre manejo, oferecidas pelo Ibama. História como a de Preta, deve existir muitas no eixo da estrada e a propósito, dois sonhos povoam a mente dos castelenses: a emancipação e a conclusão da BR 163.

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