A ética da autenticidade

A primeira fonte de preocupação do ideal da autenticidade seria a ética. Para ser autêntico, é preciso entender e respeitar os limites da própria verdade e a autenticidade do pensamento do outro. Ser fiel a mim significa ser fiel à minha originalidade, a forma como eu me defino e articulo minhas potencialidades.
Esta virtude confundiu-se com o individualismo, esta liberdade moderna, onde as pessoas podem escolher o seu modelo de vida, decidir em consciência as suas convicções e configurar os projetos de vida sem considerar a existência de outros seres e suas ricas histórias de vida.

Esta confusão instalou-se na medida em que nos desvinculamos dos nossos antigos horizontes, onde sentíamos parte de uma ordem cósmica na qual cada ser possuía lugar numa hierarquia da sociedade humana.
A exacerbação do eu como mal moderno e a defesa da autenticidade em todas as instâncias da vida, é um descrédito, porém, na cultura moderna, uma vida boa é aquela que cada indivíduo procura à sua maneira, centrar-se em si mesmo. O que tanto estreita quanto desregula nossas vidas.

Não estamos falando do direito de escolher para si as convicções que se pode abraçar e determinar a vida de maneira que os antepassados não puderam fazer; mas da implicação de práticas individualistas, que determinam o destino por si mesmo, com concentração no eu interior.
E o outro? A cultura vulgar da autenticidade leva as pessoas a falar o que pensam e viver fechados em interesses particulares, desfrutando apenas de satisfações pessoais, prazeres pequenos e fugazes.
A perda ou enfraquecimento dos horizontes morais estão ligados à formas degeneradas do ideal de autenticidade, como o individualismo. Nesta perspectiva a autenticidade tende a favorecer a prioridade do indivíduo e seus desejos acima de tudo.

O filósofo Charles Taylor entende que nossa compreensão sobre a autenticidade precisa ser modificada e o compromisso com essa virtude, não implica um compromisso com o egoísmo, com a imposição de vontades e caprichos individuais.
Podemos decidir os objetivos que queremos perseguir e que contribuem para a nossa qualidade de vida, mas podemos, aliado a isso, ajudar outras pessoas a florescer, num conjunto bem ordenado de preferências para o bem.

A realidade, é que nosso relacionamento com outras pessoas é construção e troca e assim, se não aproveitarmos a oportunidade para conviver, compartilhar ideias, exultar uns as qualidades dos outros, para que ao contabilizar os ganhos não tenhamos o valor da nossa existência, atenuado.
Temos que falar dessa tensão causada pela utilização da autenticidade como fator de individualismo e hedonismo e descobrir como é que vamos conciliar uma forma de estar em nossas vidas individuais e em nossas conexões políticas e sociais com outros indivíduos.

O individualismo gera egoísmo e formas narcísicas de expressar a autenticidade e a autenticidade pode ser um ideal digno se desenvolvido num contexto de valores apropriados.

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