“O oposto do amor não é o ódio, é a indiferença. O oposto da arte não é a feiura, é a indiferença. O oposto da fé não é heresia, é indiferença. E o oposto da vida não é a morte, é a indiferença.” Elie Wiesel, romeno, prêmio Nobel da Paz e escritor.
A maioria das pessoas não se importam com o que você passa e algumas secretamente torcem pelo seu fracasso, pelo seu fim. A indiferença é próxima da apatia, é a sensação de não estar interessado, de não se importar de qualquer maneira, uma tendência do egoísmo moderno. De certa forma, ser indiferente ao sofrimento é o que torna o ser humano, desumano.
Li uma entrevista densa e emocionante do cantor Gilberto Gil, sobre a ameaça de morte da filha Preta Gil, diagnosticada com câncer de intestino. É um drama particular, familiar, uma dor lacerante vivenciada solitariamente por milhares de famílias brasileiras. Pensei: quem, além da família e alguns amigos se importam? Conectei-me ao texto belíssimo do escritor Elie Wiesel, onde ele reflete sobre o perigo da indiferença, ‘considerando-a tão tentadora quanto sedutora’, porque nos ajuda a desviar o olhar dos que sofrem, dos que são vítimas e assim, não precisamos estar envolvidos na dor e no desespero de outra pessoa. A nossa indiferença reduz o outro, o que sofre, a uma abstração.
Talvez a maior causa da indiferença no mundo de hoje seja a normalização da dor, causada pela doença, pela violência, pela pobreza; temas que são manchetes nas primeiras páginas de nossos jornais todos os dias e nem a todos causa inquietação. Afinal, a indiferença é mais perigosa do que a raiva e o ódio. A raiva às vezes pode ser criativa. Escreve-se um grande poema tomado pela ira, alguém faz algo especial pelo bem de outros porque está indignado e furioso com tanta injustiça. A raiva pode levar a denúncia e ao desarme. A indiferença não provoca resposta. A indiferença não é uma resposta. A indiferença está contida no silêncio.
Devemos lutar contra a normalização da dor de qualquer origem, contra a sedução da indiferença, embora, individualmente não possamos fazer muito, a maioria de nós pode fazer mais para honrar a humanidade dos outros.
Cada um de nós pode desenvolver seu próprio plano de ação contra a própria indiferença. Não somos capazes de reconhecer cada coração que sangra de dor por um familiar que enfrenta a batalha contra o câncer ou outra doença, mas podemos reconhecer e demonstrar empatia por aqueles que moram próximos, por aqueles que trabalham no mesmo ambiente que nós e externar solidariedade e compaixão por todos que nos chamaram à atenção e compartilharam seus dramas, no mínimo, como reconhecimento de suas existências e humanidades.
Elie Wiesel me apavora quando diz: “Mas é isso que devemos fazer: não dormir bem quando as pessoas sofrem em qualquer lugar do mundo, que não consigo alcançar. Não dormir bem quando alguém é perseguido. Não dormir bem quando as pessoas estão com fome. Não dormir bem quando há pessoas doentes e não há ninguém para ajudá-las. Não dormir bem quando alguém em algum lugar precisa de você.”