Entre roubos, arroubos, frouxidão, delação, prisão, estamos encerrando mais um ano, numa conjuntura inquietadora, cheia de angústia, num estado de expectativa e de demora para o desfecho do momento político impregnado por fatos e atos estéreis.
O que há? Há um torneio de palavras disputado por juristas eruditos, que num choque de palavras, como uma brincadeira que causa um misto de terror e contentamento, propõe o impedimento da presidente, para ser julgado por uma corte rasa que, com pouquíssima exceção, concentra sua energia em negociar vantagens e escapar de suas próprias armadilhas.
Mas a intervenção no poder político é salutar quando o povo assim o quer. É com esse olhar turvo de incerteza que terminamos o ano. É provável que essa perspectiva de sombras afete nossos relacionamentos, a paz interior. Mas nós, pessoas sem glória, temos a chance de gesticular e extravasar a indignação, a aflição e apesar da modéstia, com argumentos obstinados, podemos declarar que vida não é apenas aquilo que se extrai no choque do poder e que o poder pode ter efeitos múltiplos que não seja escândalos nem a aniquilação da esperança.
Mas veja o empobrecimento e a desordem do ensino! Não são mais capazes de conter a sã rebeldia dos nossos adolescentes, que tiveram que furar bloqueios policiais, alcançar a rua e pedir apoio para que não fechassem escolas. Em parte, ao menos o cotidiano não apresenta grandes mudanças. As relações revestidas de imagens prematuras vão se estabelecendo pelo poder, se desfazem e se reconstituem em outra dimensão não muito diferente desta.
O poder vai ser sempre alimentado pela ira e pelas vilanias. Porém é sabido que toda generalização é perigosa. Não se deve colocar todos no mesmo saco.. Há tanta injustiça quanto compaixão, tanto drama quanto frustração, tanto amor quanto dor. Mas é tão difícil perceber as exceções!
Sobre tudo isso se ouve discursos inflamados, disputas públicas e muitas conversas secretas. Resolver? O que? Se cessa esse murmúrio do impeachment, logo começa um outro. Mas, dia virá em o poder será exercido no nível da vida cotidiana, onde o que vale pode ser visto e dito em meio a pequenos gestos, humildade, gentileza e honestidade, virtudes que enriquecem a vida e melhoram os homens.
Entretanto, enquanto não atingimos esse nível de civilização, a ceia do homem comum é um diálogo com o que ele passa durante o ano todo: bebedeira, violência, desentendimento dos casais, arrependimento, promessa e espera.
Esta retórica queixosa é meio típica de final de ano, assim como a contraditória esperança de que viveremos dias melhores no próximo ano.