A violência contra a mulher não é um processo inevitável

Os números e estudos sobre a violência contra a mulher desmentem a ideia de que o perigo está em cruzar com um estranho em uma rua escura. “Em 84% dos casos de estupro, o estuprador é uma pessoa próxima e em 65%, o estupro foi cometido dentro de casa”, dados do Instituto Patrícia Galvão.

A violência contra a mulher segue adicionando requintes de sadismo e crueldade ao ato de subjugar e humilhar a mulher. Essa semana, em Primavera do Leste, na frente de outra criança, um homem agrediu um bebê de apenas três meses de idade. A cena aterrorizante foi gravada pela mãe, que também foi agredida pelo marido. Quanto mais chorava, mais apanhava o bebê, que apresentou lesões na cabeça. Segundo relatos da mulher, o casal já havia se separado devido as agressões que sofria, sem, no entanto, haver denunciado antes.

No estado vizinho de Goiás, um médico, ginecologista, de 73 anos, com cara de avô confiável foi preso em Goiânia após denúncias de uma série de crimes sexuais contra pacientes, depois que o marido de uma das mulheres, que o denunciou por crime sexual entrou abruptamente no consultório do médico e deferiu-lhe alguns socos.  A partir do episódio, que foi amplamente noticiado, muitas outras mulheres se encorajaram a denunciar as violações que sofreram em consultas com o ginecologista ao longo dos anos. Alguns casos, datam de 1994, já devem estar criminalmente prescritos.

O fato em Goiás aconteceu no mesmo momento em que um outro médico ginecologista recebia a sentença de ter que cumprir 35 anos e 11 meses de prisão por crimes sexuais contra 45 vítimas, que eram pacientes.

Fora do Brasil, a situação envolvendo médicos se repete. Dois meses atrás, um famoso oncologista americano estava proferindo uma palestra, num centro médico lotado, quando foi interrompido e agredido, ao vivo, pelo marido de uma paciente, de quem ele teria abusado sexualmente durante uma consulta médica.

Citei casos ocorridos recentemente em casa e no consultório médico porque envolvem relacionamentos que deveriam ser de confiança mútua, porém, percebe-se nos que os médicos sentiam o consultório como um campo seguro para praticar os crimes, ficavam a sós com as vítimas, com portas trancadas e confiavam no silêncio das mulheres, visto que há estudos que comprovam que 8 em cada 10 vítimas não denunciam, o que mostra como o trauma, a vergonha e o medo da exposição são barreiras para que as mulheres vítimas de violência denunciem, o mesmo sentimento de controle acontece dentro de milhares de casas.

A Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou um Projeto de Lei que determina o afastamento imediato do lar de homens que usam violência sexual, moral e patrimonial contra as mulheres, o que já está previsto na Lei Maria da Penha, contudo a proposta da senadora Danielle Ribeiro, inclui outras formas de agressão, que foram se incorporando as práticas de violência, como, a vingança pornográfica virtual, difusão de informações falsas, vulgarização da vida privada, entre outras…

Medidas propostas transformadas em leis há centenas, a efetividade destas não está em questionamento, porque um artigo aqui, outro ali vai fechando o cerco contra os agressores, vai derrubando por terra a tese de que isso ‘vai dar em nada’. Um dia dá, como o caso do médico de Goiás, que desde 1994 assediava e violava pacientes, 29 anos depois, está preso.

Não e não penso que as mulheres tenham que ter jogo de cintura para sair das situações de violência, pelo simples fato de que as situações de violência não deveriam mais acontecer. A violência contra a mulher não é um processo inevitável e pode ser prevenida com mais educação e punição cada vez mais rigorosa.

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