Alegria X Tensão

Estamos em 2014. Mas a  maior aposta para o Brasil realizar um grande mundial já havia sido feita em 2007: a alegria. A expansividade do povo brasileiro já havia sido exaltada por quase todos os presentes na irreverente comitiva brasileira como uma grande vantagem do país na realização da maior competição de futebol do mundo. O presidente Lula afirmava que este ingrediente seria o diferencial do Brasil em relação a outras Copas. “O comportamento extraordinário do povo brasileiro, o tratamento que este povo dará aos turistas, estejam certos que marcará a história das Copas”. Todos os vinte membros do Comitê Executivo da FIFA votaram a favor da candidatura do Brasil.

O futebol é um esporte que causa certo torpor e amnésia. Como torcedores, esquecemos os maus resultados e olhamos sempre para frente, numa esperança cega. O futebol tem em si uma ligação direta com a sensação de felicidade, de alegria, de energia. É um esporte indicado para diminuir a ansiedade, já que os estímulos que provoca, curiosamente imitam os efeitos dos antidepressivos no cérebro. Felicidade e futebol são semelhantes de maneira significativa ​​na liberação de endorfina, um hormônio que causa sensação de bem-estar. Ao que tudo indica a endorfina tem o poder de contagiar os torcedores, transmitindo-lhes alegria em dose dupla.

Na política, as coisas ocorrem de forma quase inversa. O povo não demonstra a mesma capacidade de externar alegria. Os políticos enfrentam altos níveis de stress, são enviados para zonas de guerras ideológicas, onde a energia é sugada e a confiança abalada pela instabilidade típica da movimentação política. Faz-se campanha com cansaço, com sono, com ansiedade e com raiva. E estes fatores, todos negativos, podem afetar de forma crítica a tomada de decisão dos candidatos. No futebol, a tática parece absolutamente simples; é só controlar a bola e passar, controlar e passar, combinando movimento com velocidade o tempo todo. Na política tudo é bem mais complexo.

Embora eu dê muito crédito ao sistema político e entendo que nos últimos anos as instituições públicas tenham sofrido um grande teste de estresse, questiono as condições sentimentais em que ocorrem as eleições. O povo, de um lado raivoso e os governos, de certa forma impotentes para corrigir tudo o que fora assinalado como errado. Vê-se que, diferentemente do futebol, onde a vibração é trocada, na política não há uma conexão harmônica entre as manifestações dos eleitores e os discursos dos candidatos.

Na política respira-se tensão desde a confirmação dos nomes dos candidato à composição das forças políticas que se juntarão numa chapa.  Agrada-se aqui, descompõe-se ali. Depois de muitos anos, aliviada constato que a agitação e as mudanças que a política causa não conduzem necessariamente a uma instabilidade dramática, que possa preocupar. Na política há muito jogo de cena igual no futebol, para valorizar o passe em futuras negociações. Em tempo de Copa do Mundo e eleições, confirma-se apenas o futebol como a verdadeira paixão dos brasileiros.

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