Ano Novo sem Promessa de Vida Nova

Todas as mensagens de ano novo sugerem mudanças. Aguardei, li todas e fiz diferente. Enviei mensagem pedindo aos amigos para não mudarem, pelo menos, não tanto, porque basta a vida que muda tanto e que não será nunca um rito sequenciado, com acontecimentos lineares.
Ganha-se aqui, perde-se ali, há quem amou muito, há quem perdeu o único amor, há quem partiu e há quem ficou.

Os fatos acontecem quando você se expõe, quando é vencido o medo, os preconceitos, quando se quebra conceitos antigos contidos no complexo entendimento de que a vida não é feita de ornamentação. É um desafio após o outro, feridas que sangram, feridas que cicatrizam e feridas que contaminam.

Olho a rua e na rua as pessoas apressadas, com movimentos desconfiados, trocam palavras ásperas. Eu não quero compartilhar esse sentimento de que tudo dá medo, de que os suspeitos se escondem e espreitam. Eu quero olhar a chuva transparente e límpida, esbarrar no vento e lavar a alma.

Não pretendo me desdobrar para cumprir promessas que descaracterizem meus objetivos. A motivação pode ser alguém, pode ser além do corpo e talvez, um livro bom. Poucos projetos concebidos em bares, entre amigos e familiares tem chance real de ser colocado em prática quando se está só e sóbrio.

Vivo minhas guerras simbólicas; a luta para enxergar além do universo das aparências,  olhar e poder ver e se ver, saber reparar,  como citou Saramago, no livro “ Ensaio sobre a Cegueira”. Sou eu…às vezes só e simples, tentando estender os conhecimentos e interpretar os sinais emitidos pelos Mamaés.( na cultura xinguana Mamaés são espíritos que povoam o universo paralelo dos índios e quando invocados, deixam seus domínios e entram na vida de quem os invocou, mas são vistos apenas pelos pajés).Os Mamaés maus são condutores de doenças, como o Jacuí, que atrai o índio pelo toque de uma flauta e quem a ouve acomete-se de dor no peito e pescoço.

Olhando retrospectivamente os anos, reconheço que os fantasmas não mais assombram. Não há o que temer. A pobreza é familiar, tanto as causas quanto a falácia em torno dela, a violência é comum a todos, sobretudo como vítimas, a política produz e reproduz com surpreendente rapidez o “tipo ideal”, político sagaz, que desvia recursos e os acomoda nas meias e cuecas – um procedimento menos burocrático e mais barato que o envio de remessas para o exterior e que, ao final de arrastado processo, suas pobres almas são resgatas pela reeleição.

Há visíveis progressos e avanços no país, no Estado, na cidade, na minha vida e na sua. Há políticos éticos, homens solidários, doenças que curam, flautas que tocam sem causar torpor. E se persiste momento de monotonia em sua vida, avalia, assuma riscos que transcendam o senso comum, denuncia, olha para os lados, para o chão, para o alto. Se ver o céu, agradeça. Se não, já terá valido a pena e você não terá removido montanhas.

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