Haveria uma ingenuidade otimista em admitir que a confiança é uma habilidade que pode ser estimulada e aprendida? Ativar o botão para o modo “confiar” num momento de mudança política, leva a reflexão sobre a área que temos sido ativos, os valores que temos negligenciado, sobre as escolhas que temos feito e sobre quem temos prejudicado com nossas convicções e consciência tardia. Não há como corrigir o que já foi. Aprende-se.
Sem querer adotar uma opinião depreciativa, aprende-se que o homem contemporâneo não avalia as consequências de sua mente excitada e indolente. Aprende-se que a corrupção é rasteira e nem sempre dá sinal que está instalando-se.
Aprende-se que os governantes colocam os interesses pessoais acima dos interesses de todos os outros cidadãos, que sabem fazer uso do mal e que o povo nem sempre é moralmente bom e honesto e em muitos casos, aprecia ser seduzido. Aprende-se…por isso é difícil confiar no bom senso dos homens.
Aprende-se que o ideal de igualdade de oportunidades não é sempre um ideal atraente, pois o vulgo nos cobra acúmulo de riqueza, prazeres, boa posição, obediência às leis divinas. Sob muitos aspectos a vida cotidiana torna-se cada vez mais difícil. É grande a pressão e as formas de errar são abundantes.
Nosso hábito tem sido a desconfiança, a alegação que as experiências vividas mais provocam do que aliviam o sofrimento. A sociedade contemporânea tem sido marcada por um contínuo esvaziamento de sentido e cada vez mais os indivíduos sentem-se desconfiados, motivados a isolar-se num sofrimento ético. Ainda assim, é preciso confiar.
Aprende-se a confiar como um caminho possível, ainda que entre suspiros e preocupações, mas as relações recíprocas são as únicas a assegurar condições nas quais podemos gozar de paz verdadeira e duradoura. Aprende-se a confiar lentamente, dependendo de exercícios e práticas a esse respeito.
Entretanto, confiança não é instintiva. A vida com intencionalidade nos joga em algum nível de desconfiança, de insatisfação. A vida nos instiga a desconfiar do inesperado. São as agruras da própria existência humana.
Então, uma relação real deve vislumbrar a confiança como a essência e o sentido da vida e mais do que uma questão de tempo, a confiança se estabelece não permitindo lacuna entre o que se deve ser e o que é. E isso vale para todas as estâncias da vida.