\”As dores do mundo” é o título de um livro de Arthur Schopenhauer. “O melhor consolo no infortúnio ou aflição de qualquer tipo será pensar em outras pessoas que estão em uma situação ainda pior do que você; e esta é uma forma de consolo aberta a todos”.
Mais de um ano após o início da pandemia da COVID-19 e em meio ao processo de vacinação, restrições ainda vigentes, não sabemos quando a vida pode voltar ao normal nem se teremos as mesmas habilidades de convivência social quando isto acontecer. Um ano de isolamento, de falta de contato físico com familiares e amigos pode nos deixar desconfortáveis quando for possível as reuniões presenciais, as grandes festas. Penso que haverá uma hesitação entre ir correndo em busca do abraço ou permanecer com a atitude distante imposta pela bolha na qual estamos vivendo.
A pandemia do coronavírus interrompeu o fluxo que movimenta quase todos os aspectos da nossa vida diária. As regras rígidas de distanciamento, o medo de ser infectado e a falta de conhecimento sobre as mutações do vírus nos fez voltarmos todas as nossas forças para nossa própria sobrevivência e dos familiares. Nunca nos sentimos tão oprimidos por nossas próprias ansiedades.
O ex-presidente Barack Obama disse num discurso recente que: \”o maior déficit que temos em nossa sociedade e no mundo agora é um déficit de empatia. Precisamos muito que as pessoas possam se colocar no lugar de outras pessoas e ver o mundo através de outros olhos”.
Em termos simples, empatia é a capacidade de compreender as coisas sob a perspectiva de uma outra pessoa. É a capacidade de compartilhar os sentimentos e emoções de outra pessoa e entender por que ela está sofrendo.
O espaço no coração para sentir a dor do outro não pode fechar-se em nós mesmos. Ao abrir as mídias sociais, fico entristecida com tantas mensagens de pesar que devo postar. De certo modo constrangida, tenho evitado postar momentos felizes vividos nesse tempo sombrio. Aos poucos o vírus causou uma mudança concreta no meu comportamento, porém um fio de felicidade percorre meu ser, ao constatar que tenho sido fortemente impactada pela dor dos outros, dos que conheço, conheci ou de estranhos.
Densa nuvem de dor tem pairado no mundo, mais especificamente no Brasil, não apenas pelos mortos ou sobreviventes da Covid, mas também pelas mulheres vítimas de violência, pelas crianças negligenciadas, abusadas e mortas por parentes correlatos, pelas crianças mortas em ataques de ódio, pelos 14.272 milhões de desempregados no país, pelo avanço das desigualdades sociais que fizeram com que 19 milhões de irmãos passassem fome no de ano de 2020.
Entre tragédias, pandemias e injustiças, precisamos efetivamente de vacinas para todos, da garantia do pagamento do auxílio emergencial enquanto durar a pandemia, da punição severa sobretudo para agressores de mulheres e crianças.
Mas pegue leve consigo mesmo. Está tudo bem se você não está conseguindo fazer tudo o que fazia antes. Nada está como antes. Quando tivemos que lidar com ansiedade, medo e compaixão ao mesmo tempo? Quando tivemos que conviver com distanciamento, isolamento em meio a uma crise brava de solidão?
Tudo está instável, o trabalho, a vida, os sentimentos e exatamente por isso é vital olhar em volta e perceber que estamos juntos nesse mar revolto.