As ligações complexas entre a democracia e a vida sustentável

A questão hoje é avaliar se os nossos esforços estão sendo suficientes ou pelo menos chegam perto de deter a maré da destruição anunciada nos fóruns ambientais que se realizam pelo mundo, se nossa visão tem sido compatível e ao alcance dos problemas que nos propusemos a resolver. Honestamente, acho que ainda não. Segundo a escritora e ambientalista americana Frances Moore Lappé, precisamos criar uma cultura de responsabilidade mútua, transparência e participação cidadã. Democracia não é apenas votar uma vez por ano, é uma cultura, um modo de vida. A crise ambiental, a disseminação da pobreza são de fato, crises da democracia.

Desde 1987 quando a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente redigiu um documento chamado Nosso Futuro Comum. Fez-nos cientes que a incapacidade de promover o interesse comum no desenvolvimento sustentável é na maioria das vezes fruto da negligência entre as nações, no que se refere a justiça social e econômica. Assim o paradigma do desenvolvimento sustentável vai criando ligações complexas entre seres humanos, economia, política e meio ambiente.
O desenvolvimento sustentável requer um sistema político que assegure a participação efetiva dos cidadãos na tomada de decisões e enfatiza a importância da democracia na resolução de problemas sociais e ambientais. Há dependência mútua entre as pessoas, o planeta e as atividades econômicas. A fonte de recursos da terra é finita e nossa cultura de consumo expõe nosso apetite de devorar tudo o que vemos pela frente.

Ao estabelecermos práticas pessoais para vivermos de modo sustentável, vamos percebendo como os problemas ambientais estão intimamente ligados às desigualdades econômicas e sociais e então, ao trazermos a questão do desenvolvimento sustentável para o debate ambiental, temos que destacar as características do eixo pobreza – meio ambiente. Os danos ambientais causados pelo consumo global recai mais fortemente nos países mais pobres ou em desenvolvimento, justamente os menos capazes beneficiarem suas sobras e dejetos. O crescente número de pessoas pobres e sem-terra lutam pela sobrevivência na base da exploração de recursos naturais e o esgotamento desses recursos por causa sobretudo da ganancia dos grandes agricultores reforça a espiral do descaso com as práticas ambientais

A outra vertente que escandaliza é a nossa cultura perdulária com relação a produção e consumo. Há estudos publicados, não sei se comprovados, que contabiliza dezesseis quilos de milho e soja para alimentar o gado para obter um quilo de carne. Esse mesmo quilo de carne também requer aproximadamente 12.000 litros de água. Na produção mundial de alimentos quase metade de todos os alimentos colhidos nunca é consumido. Este desperdício incrível, que não é exceção, não acontece apenas com a produção de alimentos, estende-se a produção de energia também.

Mas não nos enganemos, as coisas estariam muito piores se essas comissões não tivessem escrito relatórios trinta anos atrás, se a transmissão dos dados alarmantes não tivesse vazado pela internet. Talvez possamos agora nos concentrar em criar um sistema de vida que melhora a saúde, a felicidade, a vitalidade ecológica e o poder social em vez de seguimos com o estigma de sermos seres tão destrutivos.

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