Estranhei quando soube que a escritora e poeta americana Maya Angelou escreveu um livro sobre Mohammad Ali; na verdade, um belo livro, chamado “Muhammad Ali: Aos olhos do mundo\”, lançado no ano de 2001.
Ambos se conheceram em Acra, Capital de Gana, em 1964, quando um grupo de ativistas americanos, entre eles, Martin Luther King, Malcolm X, Angelou estavam no país africano, atraídos pelos revolucionários combatentes que haviam libertado o país do domínio inglês.
Muhammad Ali era uma promessa de presença não confirmada. Mas ele veio e veio bradando que precisava se reconectar com suas origens africanas. E durante duas semanas, Ali pertenceu ao povo de Gana e deu um passo importante para confirmar-se com um dos primeiros atletas globais.
Maya Angelou escreveu que o firme compromisso de Ali com a moralidade era o testamento final de sua grandeza e que Muhammad Ali não era apenas Ali, o maior, o pugilista Africano-Americano, que causava forte impacto em todas as pessoas, de todos os continentes, em todos os idiomas. Havia nele algo além do que ele era e do que falava. Uma terceira coisa, estranha, que exalava um misto de carisma e poder.
O humor era uma parte inegável do charme de Ali, especialmente nos comentários sarcásticos que fazia sobre o tratamento dado aos negros pela elite e pelo governo americano. Acerca disso, Ali dizia que era contra os ensinamentos da América um negro sobressair-se, destacar-se. Por isso muitos não aceitaram o fato de ele, um pugilista negro, ser o melhor de todos, então, a indústria cinematográfica preconceituosa, criou Rocky, um lutador branco para contrapor com a imagem negra dele.
Ali não era apenas um lutador que representou bem os tempos em que ele viveu. Recusou-se a ir para a guerra no Vietnã, declarou na mídia que não tinha nada contra os vietnamitas e colocou-se veementemente contra a intervenção americana nos fundamentos de liberdade de outro país, do outro lado do mundo, enquanto aos seus próprios cidadãos negros negavam direitos básicos. Além disso, já estava convertido ao Islamismo e a religião não permitiria que ele fosse para a guerra.
Pagou um preço alto. Foi preso, destituído de seus títulos mundiais de boxe e perdeu a licença para continuar lutando nos estados americanos. Direito restituído três anos e meio mais tarde, pela Suprema Corte, que anulou a condenação.
Maya Angelou explora a outra face de Muhammad Ali; o homem que viajou para o Iraque, usou sua celebridade para garantir a libertação de 14 reféns norte-americanos em 1990; que foi à África do Sul compartilhar a libertação de Nelson Mandela da prisão; esteve no Afeganistão na inauguração das escolas das Nações Unidas Mensageiro da Paz; angariou fundos para a pesquisa do Mal de Parkinson, para o UNICEF e para as Olimpíadas Especiais. Um homem que tomou um rumo interessante, não somente a fama lhe interessara.
O campeão dos pesos pesados que prometeu chocar o mundo, o fez quando disse não ao sistema duas vezes. A primeira quando admitiu sua ligação com Elijah Muhammad, um ativista americano, líder do grupo Nação do Islã e converteu-se ao islamismo e a segunda quando negou-se a ir para a guerra matar vietnamitas.