Quando argumentar não vale a pena

Algo mudou com relação a capacidade dos indivíduos de desenvolverem bons argumentos, esticar as horas contrapondo-se às ideias de seus opositores, sem perder o equilíbrio, sem esboçar reações agressivas, sem deixar escapar obscenidades.

Não refiro-me exclusivamente as mídias sociais não, mas obviamente estas são instrumentos confortáveis atrás das quais os corajosos se escondem para destilar a intolerância com o pensamento, com a vontade e com a hesitação do outro.

Hannah Arendt adverte que a abertura ao diálogo é a precondição da humanidade, em todos os sentidos e que o diálogo verdadeiramente humano é totalmente permeado pelo prazer com o que a outra pessoa diz.

Porém, como dialogar com indivíduos que carregam a convicção de que suas opiniões são expressões da verdade, ou melhor, são as únicas verdades existentes? A opinião dos outros, se diferentes, são meras opiniões.

A mania de sermos o tempo todo passionais é idiossincrasia de gente temperamental que traz o coração na boca e nesse momento político então, a coisa descamba. Os barris de pólvoras estão cheios. Será que é tão difícil defender um ponto de vista, uma candidatura sem perder a cabeça? Confesso que muitas vezes calo-me, sufoco a defesa de uma idéia ou de uma pessoa, sobretudo por entender que a melhor resposta muitas vezes é virar as costas e seguir.

Entretanto não bastasse o policiamento que permeia as mídias, descrevo um tempo de prolongada inquietação que tem conseguido arrefecer a disposição e levar ao anonimato indivíduos que algum tempo atrás expunham-se a si próprios e suas posições políticas  e a respeito de vários outros temas, levando em conta as circunstâncias e a finalidade dos debates.

Dialogar deve estar fora de moda.

Em termos práticos, a comunicação que temos conseguido estabelecer exibe hoje a feiura das pessoas que não respeitam o outro, que não procuram palavras adequadas exatamente porque querem polemizar e provocar. E provocam, sobretudo, silêncio e o desencanto, porque não vale a pena comprometer-se em discussões atravessadas por ressentimentos.

Por questão de especial apreço a quem lê meus artigos, declino de enveredar-me pelo caminho desgastado da intolerância, de escrever com perturbação e descontrole, tentando encarnar em todos os textos, um culto a minha personalidade.

Nenhum ser humano é perfeito, ninguém tem familiares e amigos perfeitos, a vida não é um jogo onde ganha-se sempre e a convivência na maioria das vezes não contamina uns com os pecados dos outros. O ideal seria se estabelecêssemos relações cambiantes: eu te respeito, você me respeita.

Política,espaço de poder masculino

Se alguém te disser para ficar longe da política e mesmo que se enumere mil razões para que você o faça, não vire as costas para a realidade de que as mulheres são a maioria dos eleitores brasileiros, que existem no país mais de 6 milhões de mulheres a mais do que homens, que quase 40% destas mulheres são efetivamente as responsáveis pelo sustento de suas famílias.

Considere ainda que a expectativa de vida das mulheres elevou-se a um patamar de mais de 77 anos em média e, embora tenha se registrado aumento da participação das mulheres no processo eleitoral de 2014, os números ainda estão bem abaixo do que preceitua a própria lei eleitoral e poucas, muito poucas mulheres se elegeram. Estranho? Nem tanto, num país onde não se cumpre o estabelecido nos estatutos partidários nem na legislação.

A lei eleitoral brasileira está morta, inexiste. O Ministro do STF Marco Aurélio, embora pregue punição aos partidos pelo descumprimento da lei, laconicamente reconhece que, na prática, os partidos não investem e nem garantem condições mínimas de estruturas de campanhas para as mulheres candidatas, preferem registrar candidatas fictícias para burlar a lei que os obriga a preencher o mínimo de 30% das vagas com mulheres, a fazer o repasse de pelo menos 5% dos recursos do fundo partidário para criação de programas de promoção e difusão da participação política das mulheres. Parece pouco, mas nem isso acontece.

Não é bem verdade que o voto é nossa única arma e oportunidade para mudar, para indicar o rumo que queremos para nossa cidade e para nosso país. Certamente há mil outras formas de atuação que também fazem a diferença, que podem promover mudanças substanciais. O consenso é que as mudanças precisam acontecer nas bases onde mulheres valorosas são líderes comunitárias, presidentes de clubes de serviços, organizadoras de reuniões.

A participação feminina não pode continuar nesse desempenho pequeno, não atingindo sequer a marca dos 10% na Câmara Federal, mas alimentando a ilusão de uma participação legítima, quando no máximo, servimos para legitimar as candidaturas masculinas. Ciente dessa necessidade, a Secretaria da Mulher da Câmara dos Deputados tem promovido encontros e incentivado a ampliação da participação feminina na política de modo geral.

Mas com o corporativismo masculino instalado no Congresso Nacional, qualquer mudança que realmente altere as regras do jogo para torná-lo igualitário, parece improvável. Este ano, tem eleições para as Câmaras Municipais e os números que o País apresenta são vergonhosos. De todos os vereadores eleitos no Brasil, apenas 12% são mulheres e na eleição de 2014 cinco estados não elegeram nenhuma mulher para a Câmara Federal e entre eles está nosso querido estado de Mato Grosso. (os outros são: Sergipe, Paraíba, Espírito Santo e Alagoas).

Pelo que se ouve e se vê, as mulheres continuarão no backstage, organizando comitês, reuniões, balançando bandeiras e pregando cartazes.

O espírito da cidade adoeceu

Com o olhar atento ao que acontece no mundo e, especificamente, encarando a realidade local, percebe-se no que está submerso, um mundo de tristeza, medo, loucura e violência. O espírito da nossa cidade adoeceu.

Precisamos de remédios mais poderosos do que os que têm sido utilizados para conter o destempero que nos roubou as virtudes essenciais: a bondade, misericórdia e amor. Ônibus são queimados nas ruas, a chama, porém, amedronta o justo, o bom, o misericordioso. Trancam-se todos. É justo?

A vida do espírito da cidade pede a intensificação das tentativas de salvamento desses momentos de dureza brutal e por comum que possa parecer aos olhos de alguns, a violência tem causa sabida e tratamento negligenciado por todos.

As vítimas, o sistema, o homem marginal são fregueses completamente distintos do mesmo mercado, que os empurra rumo a uma vida onde a corrupção, o poder e o dinheiro compensa tudo, nem que para isso tenham que viver no limite dos perigos típicos de uma cidade quase grande.

Dado as incertezas das coisas, percebo que os meios legítimos para uma vida de paz não estão disponíveis para todos os homens – muitos se desviarão e quando se descaminham, o infortúnio não é só deles, pois juntam-se a força de estruturas paralelas à oficial e ameaçam todos os outros homens.

Diante do fogo, da rajada de balas, dos arrastões não podemos viver em dissonância cognitiva, ignorar os riscos que corremos a todo instante. A atmosfera de loucura é real e talvez tenhamos que ter paciência com o caos instalado.

A urgência e a imensidão de um problema tão sério não se resolve numa ação imediata. Nem sempre o poder público tem resposta para tudo. Rezem!

Qualquer ser, todos os seres, por pequeno que seja é dotado de uma substância espiritual, que precisa ser acionada para se animar e conter os ímpetos da corrupção, dos vícios, das monstruosidades. Da mesma forma, todos os seres são capazes de se esforçar e promover a quebra dos rompantes de loucura.

Existem tantas armas das quais o cidadão deveria apossar-se para começar uma luta justa pela educação, pela saúde e segurança. Armas que não são letais, que não machucam e, além disso, preparam o caminho para uma vida melhor.

Lamentavelmente, armas genuínas não servem a homens obstinados e cegos, que carregam o jugo de seus vícios e suas almas carregam o risco da perdição eterna.

Quem não está em risco?

“Este mundo está cheio de monstros. Há racismo, homofobia, ódio étnico, ódio de classe, ódio político e ódio religioso. Nunca devemos pensar que o inconcebível não acontece – acontece com frequência e atrocidades estão acontecendo agora e nós devemos querer saber não apenas quando esse ódio terminará, mas como isso começou”. Trechos do discurso proferido por Steven Spielberg na Universidade de Harvard, onde recebeu o título de doutor em Artes.

Esse discurso serve às sociedades que não concebem a educação como um bem maior, como talvez o único mecanismo que pode coibir as barbáries que estão ocorrendo de forma sistêmica e repetitiva no Brasil. 405 mulheres por dia ou 1 a cada 4 minutos são vítimas de violência atendidas pelo sistema público de saúde – SUS.

Na rede particular, a maioria dos casos não são reportados às autoridades policiais, embora saibamos que casos de estupros não se limitam a uma classe econômica ou outra; há denúncias por todo o país.

A cidade do Rio de Janeiro tem registrado altíssima taxa de violência sexual. Foram 4.725 estupros em 2014, uma média de 13 por dia. Ainda assim, o governo segue soberbo preparando a cidade para as Olimpíadas, como se uma força telúrica pudesse baixar sob a cidade e proteger a sua população.

Não se deve culpar a nação pelo crime bárbaro cometido por 33 marginais contra a garota carioca de 16 anos, até porque a maioria dos brasileiros está indignada e demonstra veemente repúdio ao estupro sofrido pela jovem; mas tampouco podemos seguir adiante sem um debate amplo e sério sobre como coibir a violência que vitimou também agarota de Bom Jesus, no Piauí, que foi estuprada, amarrada e amordaçada; as quatro amigas que foram estupradas e jogadas num precipício com mais de 10 metros de altura; sobre os casos ocorridos em Cuiabá e em todo o Brasil.

Desde 1993 a Conferência das Nações Unidas sobre Direitos Humanos reconhece formalmente a violência contra as mulheres como uma violação aos direitos humanos. Desde então, os governos e as organizações da sociedade civil têm se reunido, alterado leis visando humanizar o atendimento; tornar as penas mais severas, porém na prática, são medidas adotadas para os momentos pós violência.

Reconhecer que a violência contra a mulher permeia todos os setores da sociedade não basta para erradicar o mal, assim como também não basta determinar que os estados priorizem a criação de delegacias especializadas para o atendimento às vítimas e para investigar das ações criminosas. Ameniza porque são providencias de amparo às vitimas, instrumentos de punição aos culpados.

Visivelmente chocado com o estupro coletivo que ganhou a mídia, o presidente Michel Temer convocou uma reunião de emergência e determinou que a Policia Federal entre também na rede de prevenção e punição de crimes contra mulheres. Lamentavelmente, o ministro da educação, que pela transversalidade do tema, deveria ter-se envolvido na discussão, ocupava-se de receber o ator Alexandre Frota. Sim! Aquele que teatralmente, cinicamente narrou, num programa ao vivo na TV, como estuprou uma pessoa.

Pois bem, quando Steven Spielberg disse que atrocidades estão acontecendo agora, ele não se referia a nenhum de seus filmes. Ele falava da vida real. Ele falava do Brasil.

A vida caça jeito

Quando se conta uma piada interessante pela primeira vez para um determinado grupo de pessoas, todos riem muito. Ao contar a mesma piada para o mesmo grupo pela segunda vez, poucos riem. Ao contá-la novamente para o mesmo grupo, ninguém mais ri.

Assim estamos nós; reclamando das mesmas coisas, da política à vida amorosa, dia após dia. É preciso reagir aos acontecimentos, aprimorar os argumentos, ceder, mudar, avançar para um estado de coisa sem essa velha fragilidade de temer as turbulências ou mudanças.

Eu sou resmungona e ás vezes repetitiva como muitas pessoas. Eu reclamo por impaciência de ter discutir os mesmos problemas todos os dias, sem nenhum fato novo para dar combustível a novas leituras. Eu resmungo por sou incapaz de considerar normal essa bagunça que virou meu país.

Mas sinceramente? É hora de lembrar que nada muda da noite para o dia, nada muda se não mudarmos nós, se não sairmos do estado de paralisia e negatividade, se não aprendermos a colocarmo-nos numa posição de indivíduos merecedores de respeito. O que sempre foi assim, não tem que ser assim para sempre.

Não devemos ignorar a existência das crises pelas quais passamos, tampouco viver como se não houvesse amanhã, senão as coisas podem ficar muito pior antes de melhorar. Queixar-se não é necessariamente o primeiro passo para a mudança se a insatisfação não encontrar um meio de ecoar. Assim como o inverso, calar-se e aceitar a situação ruim e aprender a conviver com ela, ajuda a perpetuar a insatisfação. Devemos prestar atenção nas mensagens que transmitimos e ouvimos. Pessoas muito rápidas para criticar e julgar não se interessam e não são respeitosos com o ponto de vista dos outros.

Há pouco vimos o quanto os políticos são intolerantes e arrogantes uns para com os outros quando divergem ou tem seus interesses contrariados. São homens birrentos! E não tomemos nós essa divergência como sinal de liberdade. Nesse caso é birra mesmo! É a forma como se trata a política, as demandas do povo, os interesses do País. O contexto político atual segue frágil e despadronizado, embora gozemos de uma democracia que resiste bravamente ao processamento dos desmandos, da pessoalidade e da falta de ideias novas.

Os partidos permitem qualquer acordo, entendimento, coalizão imediatista para conquistarem a condição para governar. E repetindo sempre a mesma cantilena, dizemos que esse comportamento faz parte da dinâmica política e que o abraço entre amigos e inimigos é um gesto natural já arraigado no cenário político brasileiro. Consideramos porém, que alianças mal explicadas apenas agrega gente, porém enfraquece o cenário pela calibragem mal ajambrada.

Poucos políticos ainda buscam orientação substancialmente voltada para os interesses da sociedade, dentro de siglas que não tem identidade nem capacidade para controlar seus filiados comuns, imagina então, os que detém mandato.

Os multi réus

“O país está ficando para trás, se “descivilizando” pela violência generalizada, ineficiência sistêmica, incapacidade de gestão e de inovação, saúde degradada, educação atrasada e desigual; transporte urbano caótico, cidades monstrópoles, concentração de renda, política corrupta; povo dependente, tragédias ambientais e sanitárias. Todos os indicadores são de um país em decadência, com raras ilhas de excelência”. Senador Cristovam Buarque.

Como crer que o processo de impeachment tenha sido levado a cabo para expurgar a corrupção que tomou conta do Governo se 60% dos 594 membros do Congresso brasileiro enfrenta acusações graves e respondem no STF por um cardápio diversificado de crimes, como: suborno, fraude eleitoral, desmatamento ilegal, sequestro, homicídio, apropriação indébita previdenciária, corrupção ativa e passiva, crimes contra o sistema financeiro nacional, incentivo à invasão de terra indígena, incitação ao crime, formação de quadrilha, contratação de pastores da própria igreja paragabinetes, desvio de recursos do BNDES, venda de cartas sindicais, superfaturamento de obras para desviar recursos públicos, inclusão de eleitores em programas sociais em troca de votos. Os dados são do instituto de monitoramento da corrupção, Transparência Brasil.

O multi réu, o poderoso presidente da Câmara, Eduardo Cunha dono de contas secretas volumosas na Suíça, abastecidas com dinheiro da corrupção de empresas privadas denunciadas e da Petrobrás responde por crimes contra a Lei de Licitações, de lavagem de dinheiro e corrupção passiva, está encalacrado na mais alta corte do país, o Supremo Tribunal Federal. Cunha, um comentarista de rádio evangélica e economista, posta regularmente mensagens no Twitter citando trechos da Bíblia.

Além de violar as leis, alguns dos legisladores são excepcionalmente réus confessos, debochados e reincidentes ‘ad aeternum’. Um nome? Paulo Salim Maluf, que sozinho responde a todos e muito mais dos crimes acima mencionados. Hoje diz-se preocupado com a corrupção e votou favorável ao impeachment.

Esse é o deboche! Esse senhor foi preso, liberado por conta da lei que permite pessoas com idade superior a 70 anos cumprir a pena em casa. Registrou-se candidato. A lei eleitoral tentou barrar sua candidatura, ele porém, astuto, articulou-se e elegeu-se o oitavo deputado mais votado por São Paulo para a Câmara Federal. Eleito com mais de 250 mil votos.

Votar nesses senhores corruptos tem sérias consequências. Segundo o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (DIAP), a produção legislativa do Congresso teve desempenho insatisfatório no conjunto de matérias aprovadas em plenário por deputados e senadores.

A produção legislativa, além de baixa em termos quantitativos, foi também de baixa qualidade. Foram aprovadas poucas matérias relevantes. Como crer que possam discutir e aprovar as reformas que precisamos com um Congresso Nacional desse nível?

Novamente o senador Cristovam Buarque explica: “Não se debate um pacto pelo emprego com equilíbrio das contas públicas e pela eficiência da gestão estatal; não se discute como fazer, quanto custa, em quanto tempo e que setores pagarão pelas reformas que o país precisa. As discussões despolitizadas, entre torcidas a favor ou contra, como em um jogo de futebol, não debatem, por exemplo, como fazer com que a escola do filho do mais pobre brasileiro tenha a mesma elevada qualidade que as boas escolas do filho dos brasileiros ricos”.

Nos extraviamos

Mesmo vivendo espremidos pelas convulsões e angústias estamos decididos a não permitir que dias e noites se igualem escuros e sem esperança.

A vida em si não é um problema e mesmo que culturalmente estejamos condicionados a uma vida difusa, sem concentração, fazendo muitas coisas ao mesmo tempo podemos expressar um forte senso de justiça nos preocupando com a qualidade da vida humana em todos os níveis da sociedade, com as mulheres, com as minorias, com a segurança e o bem-estar de crianças e idosos, o que seria uma oportunidade para repararmos as injustiças sociais.

O mundo pede tolerância e até mesmo apreciação para com as diferenças, para as necessidades dos menos favorecidos. Não podemos viver a ver nada além de nós mesmos; a julgar tudo e todos pela utilidade que os outros tem para nossas vidas.

A natureza amorosa do homem é a única resposta sã e satisfatória para os problemas da existência humana, então qualquer sociedade que exclui, relativamente, o desenvolvimento do amor e da bondade estará condenada a viver num sistema contraditório de urbanização descontrolada, violenta e caótica.

A violência cotidiana deve sempre assombrar, provocar repulsa e desdobramentos responsáveis, que possam estancar males maiores.

Quando uma criança leva socos de um adulto por um pedaço de bolo, precisamos abandonar nossa zona de conforto e nos perguntar: é esse o mundo que quero para meus filhos, netos e amigos? Que tipo de ser humano sou eu? Seria eu capaz disso um dia? Alguns traços nos distinguem dos animais, outros nos transforma em um deles.

Diante disso, devemos nos questionar se estamos exercendo a virtude necessária para validar nossa existência. Porém, o simples fato de prestarmos atenção no nosso comportamento já é um indício importante pois enganam-se as pessoas que compartilham a ideia de que atos amorosos são incompatíveis com a vida secular da nossa sociedade e com nossa sabedoria.

Pessoas capazes de amar em qualquer sistema, em qualquer padaria, em qualquer lar não deveriam ser exceções

“ Todos nós desejamos ajudar uns aos outros. Os seres humanos são assim. Desejamos viver para a felicidade do próximo – não para o seu infortúnio. Por que havemos de odiar e desprezar uns aos outros? Neste mundo há espaço para todos. A terra, que é boa e rica, pode prover a todas as nossas necessidades. O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos”. (Discurso final do filme “ O Grande Ditador”, com Charlie Chaplin, 1940).

Quem cala nem sempre consente

Calar-se nos dias de hoje, longe de significar consentimento é minha maneira de não permitir se rotulada “coxinha” nem“petralha”. Engraçado, mas ocorreu agora, que posso estar vivendo num limbo político.

Não concordo com a polarização de rótulos, não acredito que temos capital humano que possa nos tirar da crise com saída política honrosa, num curto tempo. E não concordo que tenha que ser o Judiciário a nos dizer: “Olha, os políticos não tem capacidade de governar com a virtude da honestidade, então, tratamos nós de regular-lhes os vícios e ditar-lhes as regras da governança”.

A ética na Justiça é um valor igualmente capenga.

Calar-se é um sinal de diferenciação quando todos gritam, quando todos tem uma receita milagrosa para a crise. Confesso que de xingamentos e milagres não entendo não. Porém a democracia sobreviverá mesmo estando nossas vidas sob ataque da paralisia governamental, com nosso presente comprometido pelas falhas de um governo inábil para lidar com os pilares da vida pública: economia e política. E raramente vamos corrigi-las no mesmo tempo verbal. Porém não podemos viver sem acreditar em alguma coisa, ainda que seja fora das nossas possibilidades imediatas.

Não há como negar que o momento é de certo desencanto, de perda da certeza, de um individualismo absurdo, onde cada um a seu modo, tenta ser protagonista de uma cena mais bizarra que a outra. Vi amigos liderando movimentos, dei-lhes crédito pelo espírito político altruísta, mas estavam apenas advogando em causa própria e já mostram que o altruísmo tem seu preço.Na onda, já se lançam candidatos a vereador. Num caminho paralelo, que talvez peque pela não transversalidade com os acontecimentos atuais, prefiro fazer escolhas autônomas, dentro do arcabouço da minha crença de viver com coragem e independência, sem preocupar-me em agradar ou constranger os que me cercam.

A pós modernidade é entendida como uma condição de fluxo constante. Onde avançar para um estado diferente é a única possibilidade. Se a política estáradical e agressiva é porqueos políticos aceitam todas as condições e se orientam por más intenções.

Porém, se nós pudéssemos nivelar as diferenças veríamos que quase todos lutamos pela mesma coisa; pelo ideal de romper com o desconforto de viver uma vida pequena, sem perspectiva no presente. Porque o presente é tudo que temos.E nossa racionalidade mostra que ele não está funcionando adequadamente e deve ser reformado.

O sociólogo polonês ZygmuntBauman, ao discorrer sobre momentos de crise diz que os otimistas acreditam que este mundo é o melhor possível, ao passo que os pessimistas suspeitam que os otimistas podem estar certos. E existe uma terceira categoria: pessoas com esperança. Eu me coloco nessa terceira categoria.

Situação e Oposição

Nada que acontece no mundo moderno é imprevisível. Todas as conjunturas políticas são decorrentes de falhas, incompetência e omissões. No mundo globalizado, os governos estão cada vez mais impotentes para gerenciar as crises e os indivíduos estão cada vez mais insatisfeitos com seus governantes.

Tem sido difícil distinguir um partido do outro; a situação da oposição, pois todos se movem dentro do mesmo sistema e estão sujeitos aos mesmos desvios perigosos. Por isso, acho que está em crise o sistema político tradicional como um todo. Nenhum partido representa realmente os anseios da população e, mesmo quem não participou de nenhuma das manifestações, não está satisfeito com o governo.

Aliás, a criação desenfreada e até mesmo a recriação de partidos tem servido apenas para atender interesses privados, para cacifar líderes políticos visando as eleições municipais. Entretanto, esse sistema eleitoral absurdo não é tema de preocupação no Congresso Nacional desde que aprovaram a PLC/75 em setembro do ano passado, após “exaustivos debates” (como pode um tema tão sério ser analisado, alterado e votado em apenas 2 dias)?

É preocupante que dos 65 deputados federais indicados dia 17 de março para integrar a comissão que vai analisar o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, 40 receberam dinheiro de empresas investigadas durante a campanha de 2014. Cerca de 20 desses parlamentares já foram inclusive julgados e são réus.

O deputado que recebeu a maior fatia foi Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), recebeu R$ 732 mil e é favorável ao impeachment da presidente. O deputado Paulo Maluf (PP-SP), vice-campeão, com R$ 648 doados por empresas denunciadas é contrario ao impeachment.Na lista divulgada há sobrenomes famosos como Covas, Bolsonaro, Abi Ackel, Feliciano, entre outros.

Entre os partidos que indicaram nomes para a comissão, apenas PSOL, Rede, PV, PROS e PEN não receberam recursos dessas empresas.

A propósito, não estamos aqui falando da luta do bem contra o mal, do bate boca insuportável entre situação e oposição, mas propondo que conversemos sobre os projetos de poder a qualquer custo, sobre a corrupção e a justiça seletiva, que investiga uns e fecha os olhos a outros. Precisamos aprimorar o debate que está colocado nas ruas, para não perdermos o gancho. São os partidos, os congressistas que irão definir se o governo cai ou não. Cobra-lhes pois, posição. Manifestações de rua podem influenciar o voto dos parlamentares, não podemporém, ultrapassar o poder das instituições.

O processo legal tem seus ritos. É importante que o desfecho da crise que vive o Brasil seja institucionalizado, com decisão do Supremo ou seguindo os trâmites para o impeachment, de forma imparcial. O gigantismo das denúncias impressionam. O deboche dos congressistas é insustentável. E tal atitude se espalha pelos governistas e oposicionistas. Sejamos sérios e não céticos com relação a política!

Balaio de gatos

Não sou filiada ao PT nem ao PSDB e entendo que o momento que Brasil atravessa não pode ser discutido dentro dessa ótica estreita e polarizada. Não são os partidos, embora em todos haja corruptos, mas este sistema político brasileiro, contaminado e voltado para a prática de atos de corrupção, que tem transformado o país e a política numa máquina impiedosa de arrecadar dinheiro para sustentar a burocracia, os escandalosos gastos públicos e a corrupção endêmica, que obviamente não é restrita a classe política, mas que, segundo o cientista político Francisco Sampaio, da PUC de SP o esquema tem se mantido de governo para governo, desde Itamar Franco.

Apesar de termos recuperado o status de país democrático há pouco mais de 30 anos e termos sofrido as revezes de 2 décadas de ditadura militar, não aprendemos ainda a ser livres, a cultivar o pensamento crítico e exercer pressão sobre os parlamentares em quem votamos, para que legislem dentro do que pregaram na campanha política, para que se posicionem publicamente sobre os temas graves que estão balançando a República. É muito ruim este distanciamento entre os eleitores e seus representantes.

É possível destituir a presidente? Sim, apesar do sistema! O processo de impedimento já começou e não creio que configure golpe. Os políticos devem prosseguir com o processo. O impeachment é um instrumento democrático, previsto na Constituição, mas começou mal, porque começou sob o signo da barganha com o presidente da Câmara, um político investigado. E tiveram que barganhar por que?

Porque a base aliada da presidente Dilma é extremamente pulverizada entre os partidos, infiel e gulosa. Ao perceber que o governo do PT perde substância, dobra o preço do apoio. O cientista político Roberto Romano, da Unicamp, assegura que a população sabe que a simples saída da presidente pouco mudará no relacionamento do Estado, que continuará autoritário, pouco democrático e movido à base da corrupção. “Tal fato não se deve a um ou dois partidos, mas a todos.”

Apesar de marcar território e votar sistematicamente contra os projetos do governo na Câmara e no Senado, a oposição ainda não encontrou um discurso honesto e capaz de questionar o governo do PT. O que ocorreu foi que o governo enfraqueceu por si, tropeçou nas próprias pernas, mas a oposição não teve competência para se fortalecer, nem as custas disso.

Seria ingênuo pensar que o destino da nação depende do número de manifestantes que se colocam nas ruas, mas na dúvida a oposição transferiu a responsabilidade para o povo.

O movimento Vem Pra Rua, um dos organizadores dos protestos, contabilizou manifestações contra a presidente, com estrutura de carros de som, adesivos, camisetas, faixas e cartazes em mais de 400 municípios brasileiros e também em 23 cidades de 13 países, entre eles Estados Unidos, Portugal, Espanha, Reino Unido, Suécia e Alemanha.

Ouvi de um amigo um questionamento interessante para o qual ninguém do grupo teve resposta. E você…já se perguntou quem paga essa conta?

Claro que quem foi às ruas sabe. Se estavam manifestando contra a falta de transparência e corrupção, não participariam de algo que não fosse totalmente transparente e lícito, não é?