É preciso saber nadar

São tantas as travessias

Mares revoltos

Fronteiras fechadas

Arames farpados

Homens armados.

É preciso saber nadar

Para não morar no fundo do mar!

Barcos precários, ondas gigantes

Medo gritante

No peito  angustia cortante

Mãos que escorregam, corpos escapam

A vida, a morte no mesmo instante.

É preciso saber nadar

Quando nada mais vale o lar.

Milhas de sonhos distantes

Bombas explodem no horizonte

Querem que fiquemos

Inertes e pequenos

A mercê dos homens armados

bravos soldados!

Colheita

Olho para o mundo inacabado,
Planto flores, semeio coragem
O que espero colher?
Nada se não chover!
Espreito a vida sem tédio
Sem cansaço e sem temor.
O que espero colher?
Ramos de amor!

Estranho ser somos todos
Incansáveis, insaciáveis e débeis
O que espero mudar?
A mim, criatura pequenina!
Almas desnuda, vontade imprópria
Poesia, romance e remanso.
Para onde vou?

Saudade

Saudades, em mim, nunca têm pressa. Demoram tanto que
nunca chegam. Só quando eu danço me liberto do tempo — esvoam
as memórias, levantam voo de mim. Eu devia era dançar
todo o tempo, dançar para ela, dançar com ela.
Mia Couto
al pacino

Lenda Africana “De quando o leão podia voar”

O leão, segundo se conta, tinha a capacidade de voar, e naquele tempo nada escapava dele.  Como ele não queria que os ossos de suas presas fossem quebrados em pedaços, ele fez com que um par de corvos brancos vigiasse os ossos, deixando-os para trás no seu covil, enquanto ele ia para a caça.

Mas um dia Sapo Grande foi até lá, e quebrou todos os ossos em pedaços, e disse: “Por que os homens e animais não podem viver muito?” E acrescentou estas palavras: “Quando ele vier, diga a ele que eu vivo naquele lago, se ele quiser me ver, ele deve vir aí.”

O Leão estava caçando na floresta, e quis voar, mas ele descobriu que não podia mais voar. Então ele ficou com raiva, pensando que alguma coisa estava errada no seu covil  e voltou para casa. Quando lá chegou, ele perguntou: “O que você fez para que eu não voasse?” Então os corvos disseram: “Alguém veio aqui, quebrou os ossos em pedaços, e disse: “Se ele me quiser, ele pode procurar por mim naquele lago lá longe!”

O Leão se foi, e chegou quando sapo estava sentado na margem, e ele tentou saltar furtivamente em cima dele. Quando ele estava prestes a pegá-lo, o Grande Sapo disse: “Ah!” e mergulhou, foi até o outro lado e sentou-se lá. O Leão o perseguiu, mas como ele não conseguiu,  ele voltou para casa.

A partir desse dia, se diz, o Leão caminhou somente sobre seus pés, e também começou a se arrastar (quando espreitava e caçava), e os Corvos Brancos tornaram-se totalmente mudos desde o dia em que disseram: “Nada pode ser dito sobre esse assunto.”

Ser ponte

Alguns roubam para si pedaços do meu universo, devolvem-me partes que não são minhas. Começa o devaneio. Sinto tremores que não são características dos meus medos, sinto fome e não alimento-me do que sacia a alma, sinto fé em deuses estranhos, sigo caminhos tortuosos que abandonam-me ao meio.

Agora, canto cantos tristes, lúgubres, o sorriso alheio e indefinido acusa-te de causar a maledicência e o torpor.
O colapso das coisas ruins, que atiram estilhaços distantes, não quero.

Deixa-me à minha nugacidade se assim me vês;

Deixa, que eu me estenda para ser caminho, para ser ponte, para ser o que for, desde que bondade!

Onde mora o amor

um elevando-se aos céus
Não tenho vazio nenhum
Vivo feliz e em paz
Sem expectativa de que outro guarda amor para mim.
O amor não é recompensa, um quadro pintado
Nem uma história imaginada, uma felicidade romântica.
Amor não é um pote de ouro que se encontra no final da busca.
O amor está em mim desde a busca
Reside na aflição, na espera, no encontro.
Amor onde mais você mora
No céu, nas nuvens ou no oceano?

Deserto da alma

As vezes no meio da caminhada, preocupação e felicidade descobrem-se amigas.

Que nunca te falte um bom caminho adiante,
Um sorriso nos braços da amante.

Que seja reflorestado o deserto da tua alma,

Que em meio ao devir, traga-lhe calma.

Que não te falte o pão de cada dia,
e tempo para ler poesia.

Deixo para os outros a arte de realizar. Eu só aprendi a sonhar!

Lua

 

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O que é essa lua que brinca lá no alto?

Muda de lugar, muda o brilho do meu olhar.

Faz-me ver deserto reflorestado

Pássaro que se desaninha

Alma boa que segue sozinha.

Que lua é essa que brinca e zomba?

Faz-me rir, rodar e tonta

Fitar o céu, rasgar o véu

Ver nascer riachos pequenos

Árvores, flores e uma casinha

Impenetravelmente minha!

 

Lobos

Lobo

‘Lê em ti mesmo” a natureza do homem, disse Hobbes.
Para todo homem, um outro homem é um concorrente como ele, ávido pelo poder sob todas as suas formas. Concorrência, desconfiança recíproca, voracidade da glória ou de fama têm como resultado a guerra perpétua de “cada um contra cada um”, de todos contra todos : o homem é um lobo para o homem: homo homini lupus.

Sonho e poesia

A realização de um sonho envolve tanta poesia

Nada me passa em preto e branco, nada cria distancia.

Apego-me ao cheiro, ao som e ao aconchego de quem passa  e

deixa um sorriso.

Sonho com coisas rimadas, com carinho, compaixão,

Paixão em noites enluaradas.

Eu sonho e escrevo,

Sonho e te vejo

Sonho e desejo

que toda poesia viva em meu sonho.