Hoje em dia os homens sentem-se encurralados por uma série de preocupações que não conseguem superar no mundo cotidiano. Temem perder o bem-estar que desfrutam, ao mesmo tempo em que contemplam inertes uma conjuntura de transformações que podem abalar seus cenários mais imediatos; como a relação com seu eu, com a família e a posição econômica que ostentam. Essa condição de inquietação e um misto de indiferença é a característica do nosso tempo, onde os indivíduos tentam recuperar os valores por eles estimados e que estão sob ameaça constante.
Nessas condições as perturbações interiores insinuam que a crise do nosso tempo vai além do medo do declínio financeiro. O homem teme o definhamento da qualidade de sua vida individual, do seu interior. Isso é parcialmente devido ao desconforto causado pela ignorância de não haver reformulado o trabalho, a vida social, de não haver enxergado a ameaça quando seus valores estavam em jogo.
Para sermos melhores versões de nós mesmos devemos procurar compreender o que compromete drasticamente nossa rotina e como somos afetados pelos conflitos e pelas catástrofes sociais disseminados mundo afora. A começar pelas guerras sangrentas no Iraque, Siria, Afeganistão, Ucrânia, Gaza, Israel e tantos outros conflitos armados. As guerras causam declínio moral, afetam a economia mundial, o radicalismo recrudesce a tensão e impede que a ajuda humanitária chegue aos lugares insalubres onde há sobretudo mulheres e crianças tentando esconder-se.
Esse cenário desolador de lançamento de foguetes tem ligação com o curso de nossas vidas, vai compor a parte negra das nossas biografias. Deixada à sua própria sorte, a África vive em pânico temendo contaminação massiva pelo vírus do Ebola. As Nações Unidas, a Organização Mundial de Saúde não dão mais respostas satisfatórias. Sou uma parcela dos que não sentem-se confortáveis com tanta cena de horror e busco incessantemente compreender o que vai no coração do homem do meu tempo.
Sob o impacto das guerras declaradas ou camufladas as relações se articulam, criam vínculos, a vida se amplia e a natureza do homem, que desde sempre é complexa, colide com as forças do mundo exterior que o rodeia. No mundo físico, já sabemos que uma guerra só termina com a completa aniquilação do mais fraco. Não há sossego. Mas viver é agir e nossa próxima tarefa é mover o fluxo dos acontecimentos até que consigamos sair dessa condição de meros lançadores de foguetes.
Nossos valores estarão ameaçados e enquanto se faz da guerra um negócio lucrativo, que promove matança, mas eleva moral e politicamente alguns homens e nações. A vida não deve ser sempre carregada de ansiedade, de suspeitas que estejamos vivendo um equivoco e negligenciando a paz interior e a paz entre os homens.