Comporte-se como em um banquete

 Em meio aos infinitos pensamentos que percorrem nossas mentes a todo momento perdemos de vista o que mais importa. Ou seja, estar verdadeiramente em sintonia com o presente, desconectar a tagarelice e cobranças incessantes que desarmonizam nossas mentes, sem considere primeiro, o que nossa própria natureza é capaz de suportar.

Quando nos deparamos com turbulências em nossas vidas, desejamos ter um manual para nos guiar, palavra por palavra. Isso é exatamente o que é o Encheirídion ou Manual de Epicteto, um manual para a vida, escrito com apaixonada sensibilidade no século II, por Epicteto. Há 1800 anos, as palavras filosóficas de um escravo pobre e com deficiência física chamado Epicteto foram escritas pela primeira vez. Epicteto nasceu como escravo em 55 EC na atual Turquia. Continuou escravizado na casa de um secretário do imperador romano Nero.

“Das coisas existentes, algumas coisas estão sob nosso encargo e outras não. As coisas sob nosso controle são opinião, busca, desejo, repulsa e, em uma palavra, quaisquer que sejam nossas próprias ações. As coisas que não estão sob nosso controle são o corpo, as posses, a reputação, os cargos públicos e, em uma palavra, tudo o quanto não seja ação nossa”. A citação resume o que é a dicotomia de controle,  a compreensão do que está e do que não está sob nosso controle, um ensinamento filosófico para nortear a vida.

O Manual de Epicteto ensina que não são as coisas em si que perturbam as pessoas, mas os julgamentos que pesam sobre elas. O Manual exalta a liberdade que há no exercício daquilo que está sob nosso controle. Intenções e julgamentos são lindamente livres e irrestritos, por isso devemos colocar nossos esforços nos espaços abertos sobre o quais temos controle e muitas vezes não conseguimos, por falta de tempo e habilidade resolver assuntos que são encargos nossos e ainda, tendemos a nos meter sobre a maioria das coisas que não são da nossa conta. Bastaria que cada um cumprisse bem a sua função.

Uma vida de realização e felicidade é estabelecer domínio sobre as coisas que podemos controlar. “Se você depositar suas esperanças em coisas fora de seu controle, tomando para si coisas que pertencem legitimamente a outros, você estará sujeito a tropeçar, cair, sofrer e culpar deuses e homens. Mas se você focalizar sua atenção apenas no que é verdadeiramente seu interesse, e deixar para os outros o que lhes diz respeito, então você estará no comando de sua vida interior. Ninguém poderá prejudicá-lo ou impedi-lo.” — Epicteto.

O Encheirídion é um manual  cujo ponto central é a lição que embora não possamos controlar tudo o tempo todo, sempre podemos ter um controle firme sobre nossas emoções, não apenas inclui esta lição, mas aplica esse conceito de controle a assuntos mais banais, como aprender a lidar com insultos e com a opinião das pessoas sobre nós. Um ensinamento é que na vida devemos nos comportar como em um banquete; Se um prato que está sendo servido chega até você, estenda a mão, toma a sua parte disciplinadamente. A bandeija não passou por você, não a persiga. Ainda não chegou? Não se desespere de desejo, mas espera que o prato venha até você.

Lido apressadamente e fora do contexto, trechos do livro Enchiridion pode parecer uma referência vaga a nos isolarmos dentro das nossas bolhas, nos entregarmos as limitações da nossa zona de conforto. Não estão na sua bolha e na zona de conforto, suas palavras ofensivas e suas decisões mais destrutivas? Não carregas por onde andas o apego, a aspereza e o vazio desconcertante?

Epicteto completa: “Se você deseja ter paz e contentamento, libere seu apego a todas as coisas fora de seu controle. Este é o caminho da liberdade e da felicidade.”

Podemos tentar melhorar as habilidades sociais e podemos tentar despertar julgamentos e desejos que nos torne mais queridos e respeitados, mas, isso não está sob nosso controle direto. Partes do meu caráter dependem de mim, eu sou a causa das partes indesejáveis contidas nele. Este é um ponto sutil, eu sou responsável pelo meu caráter, não posso colocar a responsabilidade por quem sou nos outros ou em circunstâncias passadas. Portanto, sempre que somos impedidos, perturbados ou angustiados, nunca devemos culpar ninguém, mas apenas a nós mesmos.

É ato de uma pessoa mal educada jogar a culpa nos outros quando as coisas vão mal; aquele que deu o primeiro passo para se educar lança a culpa em si mesmo; enquanto aquele que é totalmente educado não lança culpa nem a outro nem a si mesmo.

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