Constrangimento democrático

A democracia não baseia-se somente na seleção de governantes através do voto popular, onde respeita-se a decisão da maioria. Há vários outros indicadores que conceituam o Estado democrático. Democracia contempla a divergência de interesses, de opiniões, de valores e o acesso ao voto, quando votar significa liberdade, é apenas um dos mecanismos eficientes do jogo democrático.

A democracia pode ser explicada como um sistema em que os partidos favoritos periodicamente perdem as eleições, segundo um dos mais proeminentes cientistas políticos da atualidade, o polonês Adam Przeworski.

O processo democrático converge para a compaixão, acolhimento, oportunidades, diversidade cultural, racial, religiosa; por conseguinte, ninguém deve ser humilhado por causa de baixo status econômico, raça, credo, sexo e etnia; converge também os conflitos para a reconciliação pela confiança nas pessoas e nas instituições públicas.

Democracia, em tese deve gerar um estado que valoriza a igualdade, estabelece a proximidade entre o Poder Público e a sociedade através da participação dos movimentos sociais. A cultura democrática preocupa-se em promover o bem-estar social aos que precisam. E a maioria precisa por causa de um coletivo de fracassos públicos e privados.

Quase a metade dos países do mundo tem governos “ditos” democráticos. A maioria porém, enquadra-se no que cientistas políticos chamam de democracia imperfeita, devido a uma série de fatores que vai da falta de interesse na política, negação de liberdade civil para discussões de temas polêmicos antes das votações, negação ao pluralismo no processo eleitoral, influência de potências estrangeiras na política local e outros indicadores, adotados pelos editores do grupo “Economist Intelligence Unit”, algo semelhante ao que faz “The Freedom House”, no processo de catalogar como anda a democracia no mundo.  Nesse grupo de democracias imperfeitas, encontra-se o Brasil, África do Sul, Argentina, Chile, países europeus como Polônia, Romênia, Israel, Filipinas e outros.

Já democracias plenas existem apenas 28 no mundo e a lista é encabeçada pela quinta vez consecutiva, pela Noruega, eleita a melhor democracia do mundo, Suécia, Dinamarca, Finlândia, seguidos por Estados Unidos, Inglaterra, França, Espanha, Itália, Japão, Austrália, Canadá…dois países da América Latina fazem parte do seleto grupo; Uruguai e Costa Rica.

Dos 85 países restantes, cerca de 30 apresentam forma de governo híbrida, alternando fase democrática e autoritária. É o que se vê na Turqia, Equador e Quenia. Os outros são regimes autoritários sem nenhuma indicação de avanço que reflita liberdade, caso dos países do Oriente Médio, a Tailândia.

A democracia, considerando condições e circunstâncias, às vezes constrange. Os cidadãos tomam decisões que não parecem compatíveis com certos valores democráticos.  Pensou na eleição americana?

Pois é, a democracia plena permite que um cidadão, com discurso protecionista, hostil, misógino, sem conhecimento do poder criativo da diversidade se eleja prometendo levantar muros, execrando muçulmanos, negros e imigrantes.

Não será a primeira vez que a democracia americana permitirá que o candidato menos votado pelo voto direto seja sagrado vitorioso. O caso mais recente aconteceu quando o também democrata Al Gore venceu George Bush na votação popular e perdeu no colégio eleitoral. Mas lá, as regras são claras e o povo (sistema) americano efetivamente escolheu Trump.

Segundo o estudo citado, quase todas as democracias precisam e passam por aprimoramento para desgarrar-se de velhos conceitos e introduzir um novo tipo de sociedade: mais colaborativa, pacífica e igualitária.

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