Convergências entre desiguais

Depois de uma campanha tão áspera, considerada pelos analistas, as eleições mais disputadas dos últimos anos, marcada por debates mal humorados,  acusações de corrupção e intolerância de ambos os lados, finalmente neste domingo, diante de um batalhão de diplomatas estrangeiros, cerca de 100, representando vários países, que acompanharam  a votação e o processo de totalização, a presidente Dilma Rousseff (PT) foi reeleita.

Dilma contou apoio de cerca de 9 partidos, embora nem todos unidos na sua base para pedir votos para a candidata. Reeleita, manteve a maioria no Congresso para votações que exigem maioria simples, porém terá que ampliar o arco de alianças no caso de fazer reformas mais profundas, as quais exigem votação favorável de no mínimo três quintos da Câmara e do Senado. No meio de toda alegria e incerteza, muitos se perguntam o que esta eleição especificamente significou para o Brasil, num contexto político e econômico mais amplo. Em suma, o que podemos esperar do Brasil nesses quatro anos?

Mesmo que não estejamos vivendo o boom, quando, empurrada pelas exportações de commodities, a economia brasileira crescia mais de 5 por cento ao ano, 30 milhões de pessoas saíram da pobreza e o desemprego está perto de bater um recorde de baixa e isso reforça muito a popularidade da presidente Dilma, em função também da extensão dos programas: Prouni,  Fies e o Pronatec. Os programas sociais serão mantidos e ampliados, baseando-me na lógica do que tem sido o governo de Dilma Rousseff até aqui. Suas prioridades devem permanecer nos mesmos países onde hoje concentra os negócios brasileiros, na América Latina, África e Ásia. Porém espero que a presidente conduza a política externa com menos pragmatismo e mais idealismo, colocando-se objetivamente contra os conflitos na Síria e no Iraque e também na Ucrânia.

Havemos de cobrar do governo melhor desempenho desta que é considerada a sétima economia do mundo; punição exemplar para se encerrar o ciclo de corrupção na Petrobrás, onde não basta o inquérito parlamentar já instaurado.

Os ganhos sócio-econômicos dos últimos 12 anos foram suficientes para que os eleitores a escolhessem em detrimento da candidatura de uma ambientalista mundialmente conhecida  e de um senador social-democrata, que prometia impulsionar a economia.  Agora é hora do que o sociólogo Fernando Henrique Cardoso chama de convergência entre desiguais. Diz ele que as alianças são feitas somente entre os desiguais, pois do contrário não seria preciso fazer alianças; os que são iguais em termos de objetivos, que pensam e querem as mesmas coisas, já estão juntos, e não precisam se aliar.

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