A crise que instalou-se no Brasil é predominantemente política e será decidida num palco igualmente político e com a participação do cidadão, que tem a arma para expressar a insatisfação e decidir se quer por um fim ao governo ou perpetuá-lo.
A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara Federal rejeitou, por 40 votos contra 25, a denúncia contra o presidente Michel Temer depois de um vergonhoso troca-troca de deputados na Comissão, que o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Claudio Lamachia, classificou como deboche à sociedade. Num mundo ideal isto seria indecoroso, mas este não é um mundo ideal.
Porém, creio que estes 40 deputados que em período de recesso retornaram às suas bases estão levando puxões de orelhas de seus eleitores por terem vinculado seus nomes a um presidente que tem apenas 7% de aprovação.
Em agosto, o voto sobre a abertura do processo será nominal, no microfone e pode ser que os parlamentares, agora na totalidade, sintam-se pressionados pela proximidade do ano eleitoral e segundo dizem, a maioria faz jogo duplo com Rodrigo Maia, que tem se articulado transversalmente para assumir a presidência.
O próprio Temer diz que o país está avançando, que as reformas estão saindo do papel, mas o que se viu esta semana foi por um lado, a dificuldade do governo em fechar as contas e apelar para o aumento de impostos elevando a alíquota que incide sobre o preço dos combustíveis, em 41 centavos por litro de gasolina e de 21 centavos por litro de diesel.
Na outra ponta a liberação desenfreada de recursos de emendas parlamentares para deputados federais em troca de votação contrária a autorização para abertura do processo contra Temer na CCJ.
Parlamentares denunciaram a compra de apoio com dinheiro público. O governo por outro lado, explica que as emendas têm prazos e devem ser distribuídas à medida que o ano Legislativo avança, mas não consegue explicar por que valores tão expressivos foram liberados justamente nos dias que antecederam a votação do parecer e sobretudo para os parlamentares envolvidos no troca-troca de lugares na Comissão.
Embora o presidente Temer tenha afirmado recentemente que o país está no rumo certo, não creio. Além da desconfiança política, do aumento dos impostos, o Brasil tem 19 das 50 cidades mais violentas do mundo em dado divulgado por uma organização de Segurança vinculada a ONU.
Faço um paralelo distante com o filme “Os Sete Samurais”, de Akira Kurosawa, que além de retratar no geral o caos político e social do Japão no século XVI, desliza sobre a saga de uma aldeia japonesa, onde os camponeses foram completamente esquecidos pelo governo, o Estado deixou de existir na vida dos aldeões e durante certo tempo ninguém os governava, ninguém os assistia, ninguém os defendia e instalou-se ali a violência e o caos. Tudo muda com a chegada dos sete samurais à aldeia.
O grupo armado investiu-se da autoridade do Estado, garantiu a manutenção da paz, ganhou a confiança e estabeleceu com os camponeses uma nova ordem política.